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Salvador Nogueira

Missão Artemis 1 é lançada com sucesso rumo à Lua

Voo-teste para futuro envio de astronautas partiu às 3h47 desta quarta (16)

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A missão Artemis 1, no primeiro voo do superfoguete SLS (Space Launch System) com a cápsula Orion, destinada a levar humanos de volta à Lua, partiu nesta quarta-feira (16).

A decolagem aconteceu pouco mais de 40 minutos após a abertura da janela de duas horas, às 03h47 (de Brasília), a partir da plataforma 39B do Centro Espacial Kennedy da Nasa, na Flórida.

Após 8,5 minutos de escalada à órbita, o segundo estágio se separou e, com 18 minutos, os painéis solares da cápsula Orion se abriram. Aos 53 minutos de voo, um pequeno disparo do segundo estágio ajustou a órbita ao redor da Terra. E às 5h14 ocorreu um longo disparo –a injeção translunar–, colocando a espaçonave a caminho da Lua.

O sucesso inicia uma missão que tem previsão de durar 26 dias, com retorno marcado para 11 de dezembro. A Orion será levada a uma órbita retrógrada distante da Lua, onde deve ficar por cerca de uma semana. Depois disso, o motor do módulo de serviço deve direcionar a nave de volta à Terra. Quando ela reentrar na atmosfera, será a mais rápida cápsula destinada a transportar humanos a fazer esse procedimento.

Esse é apenas um dos recordes que a missão precursora pretende bater. Também se tornará o veículo para transporte de astronautas a voar mais longe da Terra, bem como realizar o mais longo voo de espaço profundo. As recordistas anteriores de distância e duração foram, respectivamente, a Apollo 13 (401 mil km) e Apollo 17 (12 dias e 13 horas).

Caso tudo corra bem, o plano é lançar a Artemis 2, tripulada, em 2023 (o mais provável é que fique para 2024), na primeira viagem de humanos ao redor da Lua desde dezembro de 1972. E a Artemis 3, oficialmente ainda marcada para 2025 (mas quase certamente destinada a atrasar), realizaria o primeiro pouso lunar tripulado do século 21.

Aproveitando o embalo, a Nasa anunciou nesta terça (15) a contratação, por US$ 1 bilhão, de mais um veículo Starship, da SpaceX, a fim de realizar o segundo pouso, na missão Artemis 4.

CAMINHO COMPLICADO

Pode-se falar muito sobre o desenvolvimento do programa, menos que foi pouco atribulado. É uma história que se arrasta por idas e vindas desde o acidente com o ônibus espacial Columbia, em 2003, que fez a agência repensar o futuro de suas missões de exploração.

Só o foguete, o SLS, custou US$ 23,8 bilhões (originalmente estimados em US$ 10 bilhões) e deveria ter seu primeiro voo em 2016. Agora a luta é para não deixar que escape para 2023.

A Orion, por sua vez, representa uma parceria importante entre americanos e europeus: o módulo de tripulação foi feito nos EUA, mas o de serviço, que inclui o sistema de propulsão, é fornecido pela empresa europeia Airbus. Seu desenvolvimento custou, desde 2006, US$ 20,4 bilhões. Somando o custo total do SLS, da Orion e dos sistemas de solo, a brincadeira toda custou quase US$ 50 bilhões.

Para complicar tudo, o SLS é uma mistura estranha de novo foguete com tecnologias antigas. Desenhado assim por ordem do Congresso americano, ele incorpora tecnologias originalmente criadas nos anos 1970 para os ônibus espaciais. Os motores do primeiro estágio do foguete, por sinal, são os mesmos. Literalmente. Desatarracharam dos antigos veículos da Nasa e plugaram no foguete novo.

A lógica era preservar empregos oriundos do antigo programa e reduzir custos de desenvolvimento. A primeira parte funcionou, mas a segunda claramente não. E agora a agência tem um sistema de retorno à Lua que talvez seja caro demais para ser sustentável. Estima-se que cada lançamento vá custar US$ 4 bilhões e que a agência seja incapaz de ter uma cadência de voos superior a um a cada dois anos.

A Nasa jura que o custo vai cair e que pode operar com mais eficiência o sistema.

ENFRENTANDO FURACÕES

O plano original para este ano era ter lançado a missão Artemis 1 no primeiro trimestre de 2022. Escorregou para o primeiro semestre. E então a primeira tentativa de lançamento só veio a ocorrer em 29 de agosto.

Problemas com um sensor de temperatura de um dos motores do primeiro estágio levaram à interrupção da contagem regressiva, faltando 40 minutos para a decolagem.

Uma nova tentativa foi realizada em 3 de setembro, mas vazamentos excessivos de hidrogênio líquido durante o abastecimento do foguete, acima dos limites tolerados, mais uma vez barraram o avanço da contagem regressiva, três horas antes da abertura da janela de lançamento.

Em vez de recolher o veículo ao prédio de montagem, a Nasa optou por um esforço de efetuar reparos na própria plataforma 39B do Centro Espacial Kennedy, na Flórida. Um exercício de abastecimento do foguete realizado após os reparos foi bem-sucedido. Mas aí o que impediu nova tentativa de voo foi o furacão Ian, que obrigou a agência ao levar o foguete de volta ao prédio de montagem em 26 de setembro.

O procedimento de recolher disparou uma nova série de retomadas de preparação, empurrando um novo esforço de lançamento para meados de novembro. O foguete chegou de volta à plataforma 39B no dia 4, mirando um lançamento na última segunda-feira (14).

E então outro furacão, Nicole, cruzou a Flórida. A agência empurrou a data de lançamento para esta quarta (16), mas não teve tempo de recolher o veículo, que ficou exposto à ventania do furacão. Na madrugada da última quinta (10), ventos de até 160 km/h atingiram o foguete.

Diz a Nasa que tudo se passou dentro dos limites suportados pelo veículo. Há alguma controvérsia sobre isso, levando em conta a altura do foguete (98 m). Fato é que houve alguns danos.

Parte do material de preenchimento entre o sistema de escape de emergência e a cápsula Orion, no topo do foguete, se desprendeu. Mesmo enquanto procedia com a contagem regressiva, a Nasa analisava o risco de que mais desse material se "delaminasse", para usar a expressão deles, e virasse detrito que pudesse atingir o corpo do SLS durante o voo (sim, lembra o caso Columbia, em que espuma do tanque atingiu o bordo da asa do ônibus espacial e condenou a missão na reentrada).

Também houve problemas com um dos conectores de telemetria do segundo estágio. A agência seguia tentando restabelecer seu funcionamento, mas destacando que, mesmo que não fosse possível, havia redundância.

Moral da história: nada foi tido como um impedimento para o lançamento, que aconteceu conforme o previsto, depois de pequenas atribulações na contagem regressiva, que envolveram um problema dos sistemas de solo ligados a segurança de voo (um radar se desconectou temporariamente) e um vazamento de combustível de uma válvula de reabastecimento, que exigiu a visita de dois técnicos à plataforma para apertar parafusos e corrigir o problema.

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