Morte Sem Tabu

Morte Sem Tabu - Camila Appel, Cynthia Araújo e Jéssica Moreira
Camila Appel, Cynthia Araújo e Jéssica Moreira
Descrição de chapéu Mente

Série This is us estreia na TV Globo

E é uma grande chance de refletir sobre vida e morte

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LOS ANGELES, CALIFORNIA - MAY 22: (L-R) Moderator Patrick Gomez, Dan Fogelman, Mandy Moore, Milo Ventimiglia, Chrissy Metz, and Chris Sullivan speak onstage, and Sterling K. Brown, Susan Kelechi Watson, Justin Hartley, and Jon Huertas are seen onscreen during the THIS IS US Series Finale FYC Screening & Panel presented by 20th Television & NBC at the David Geffen Theater at the Academy Museum of Motion Pictures on May 22, 2022 in Los Angeles, California. Kevin Winter/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY == - AFP

Hoje, dia 16 de novembro, estreia na TV Globo a série norte-americana multipremiada This is Us.

Algumas amigas a assistem há muito tempo. Muitas vezes as vi comentando, sem me interessar muito.

Tenho duas grandes dificuldades: ler ou assistir o que está todo mundo lendo ou assistindo (amantes da astrologia me chamariam de aquariana, como de fato sou); e encontrar lazer em filmes, séries e livros que dialogam com minhas pesquisas.

This is us é, de longe, a obra que mais se aproxima dos meus estudos sobre doença e fim de vida. É uma série sobre como as mortes moldam as nossas vidas. Como uma coisa se faz e se refaz a partir da outra. Vivemos como vivemos, porque morremos.

Depois de presenciar algumas pessoas queridas falando com um carinho muito especial pelos personagens, resolvi arriscar.

Desde que comecei, há alguns meses, penso em escrever sobre This is us para o blog. Mas acho complicado escrever sobre filmes ou séries, porque muitas vezes não conseguimos passar para o papel a imensidão dos sentimentos que nos provocam. É como viver algo muito engraçado e não encontrar a mesma graça ao contar sobre o episódio. Aquela sensação de "isso era tão melhor quando vivi".

This is us é imensa. Aborda com uma sensibilidade que vi poucas vezes no audiovisual temas que são tão centrais na nossa vida: doença, morte, racismo, parentalidade, adoção, a pandemia de Covid-19.

A Globo divulgou o nome da série como "This is us: histórias de família". Com todo o respeito, achei muito ruim. Além de me fazer lembrar programas de auditório sobre casos de família, dá um certo ar de banalidade, como se cada episódio não fosse um universo muito profundo de reflexões e sentimentos.

O que chama mais a atenção em cada obra é sempre algo muito pessoal. Possivelmente, projeta mais o que está dentro de nós do que a história que se pretende contar. Para mim, This is us é sobre se imaginar no futuro, com as dores do futuro, e poder aliviá-las sem que seja tarde demais. É se arrepender e perdoar, amar em tempo real.

O horizonte da morte nos traz isso. E é por isso que é sobre vida. Pensar sobre a morte é pensar sobre a vida.

Logo no início, uma cena foi especialmente marcante para mim. Em um determinado diálogo, que não vou detalhar, porque não quero dar spoiler, uma personagem pergunta a outra como é estar morrendo.

"Eu sinto como se vários pedaços bonitos da vida estivessem voando ao meu redor e eu estivesse tentando capturá-los. Quando minha neta adormece no meu colo, eu tento pegar o sentimento da sua respiração. E quando faço meu filho rir, eu tento pegar o som do seu riso. Como sai do seu peito. Os pedaços estão cada vez mais rápidos e eu não consigo capturar todos. Posso senti-los escapando por entre meus dedos. (...) Eu sei que parece que você tem todo o tempo do mundo, mas você não tem".

Estreia da quinta temporada no Brasil de “THIS IS US” - Fox

Lembro de ficar muito emocionada, pensando que pouco mais de dois anos atrás, perdi o tio Zezinho, irmão do meu pai. Minha família inteira perdeu o tio Zezinho. Era início de pandemia, nós moramos em outra cidade e não fomos para o velório, naqueles tempos em que tudo estava muito restrito.

Até hoje ainda não aceito bem que ele não está mais aqui. No dia em que ele morreu, escrevi um texto e foi nele que pensei assistindo ao diálogo da série.

"Da última vez que a gente se encontrou, você ficou triste comigo né? Eu sei. Não me arrependo do que disse, porque continuo pensando as mesmas coisas sobre os rumos do país, mas me arrependo de não ter voltado para que essa não fosse a nossa última memória. Essa parte das minhas aulas eu aprendi bem: muitos de nós, todos os dias, terão seus últimos encontros, seus últimos abraços. Mas no fundo, lá no fundo, a gente sempre acha que tem pelo menos mais um dia, uma última chance. E eu também achei".

Sempre penso em como a vida às vezes parece uma sucessão de "se"s. Se eu tivesse feito isso. Ou não. Se eu tivesse falado. Se tivesse ficado calada. Se não tivesse ido, se tivesse.

Em uma cena que vi recentemente, uma personagem diz algo muito doloroso, que imagino que passe pela cabeça de muitas pessoas, especialmente quando percebem que, provavelmente, o tempo de vida à frente é mais curto do que o tempo de vida que já passou:

"Minha vida foi cheia de ‘da próxima vez’. Coisas que sempre supus que uma hora faria. Mas agora percebo que estou ficando sem tempo para fazê-las."

This is us fala de doenças graves, de tomada de decisão médica, de não ressuscitar, de pesquisa clínica, de perda de memória, de gravidez indesejada e aborto, das muitas perdas que fazem parte do conjunto do que somos. De como elas nos destroem e nos reconstroem de outra forma. De como as mortes pautam a vida.

Não por acaso, uma das músicas da trilha sonora é Death with dignity, "morte com dignidade", do músico norte-americano Sufjan Stevens, em que ele canta what is the song you sing for the dead- qual é a música que você canta para os mortos?

Deixar minhas dificuldades de lado e ver o primeiro episódio de This is Us foi uma das melhores decisões que tomei este ano. Estou adiando a última temporada, porque sei que sentirei saudades de Kate, Kevin e Randall.

Se quiser compartilhar suas impressões sobre a série com a gente, estamos no Instagram

E para dar uma ideia de como a série pode realmente cativar uma multidão de fãs, pedi ao fã-clube This is Us Brasil que falasse um pouquinho sobre sua trajetória:

Quando falamos da página This Is Us Brasil, acabamos falando um pouco de amor exagerado. Somos três moderadores, que aleatoriamente se encontraram num grupo de Facebook sobre a série. Chegar até aqui passou longe de ser nossa primeira opção, pois estávamos apenas fazendo algumas publicações de uma série que gostamos e, quando nos demos conta, tinha tomado outras proporções.. Foi um convite que ampliou nosso entendimento sobre as pessoas, assim como This Is Us com muita gente.

Infelizmente, tivemos uma perda no grupo do facebook, um dos maiores fãs da série que era o Paulo Soares. Ele era um dos moderadores e temos um grande carinho por ele. Sempre será muito querido em nossas lembranças. No ano de 2020 unimos e unificamos todos os perfis que já tínhamos da série (Facebook e Instagram) e depois criamos perfis no Twitter e no TikTok.

Com isso, a comunidade de fãs cresceu muito, temos grupos no WhatsApp, Facebook, que permitem que as pessoas troquem experiências, já conhecemos famílias que compartilharam a história de adoção, perdas, e que se identificaram na série.

This Is Us nos ensinou a olhar ao próximo, ter mais empatia. Todos temos uma história.

O trabalho que fazemos representando a série como um fã clube tem sido um dos grandes prazeres da vida, pois tem gerado uma grande repercussão e com isso conseguimos alguns reconhecimentos no ano de 2022, tais como: ganhamos um presskit do Star+ Brasil, plataforma de streaming que transmite todos os episódios da série no Brasil, tivemos a oportunidade de falar com a atriz Laura Niemi, intérprete de Marilyn Pearson (mãe do Jack), e recentemente um jornalista entrou em contato conosco para dar uma entrevista para a TV Asa Branca, afiliada da Globo de Caruaru-PE.

Uma das coisas boas de estar a frente deste trabalho é ouvir/ler histórias de pessoas que são similares às que são tratadas na jornada da Família Pearson. É lindo saber que existe uma grande conexão do público com estes personagens que são fictícios, mas que representam momentos reais que acontecem com pessoas reais.

This Is Us é sobre nós. Foi assim desde o início e foi assim que terminou. Uma grande história de amor nas mais diversas relações. É gratificante representar uma série que toca tanto a vida das pessoas e é lindo ver como as coisas se conectam com a nossa vida pessoal. Quando começamos a assistir This Is Us, começamos a pegar um certo carinho pelos personagens e depois de um tempinho… você está amando imensamente os personagens e até os atores que os interpretam, sabe? É um amor totalmente abundante, cheiro de graça e alegria.

Isto é amor.

Isto é vida.

Isto somos nós.


‘This is Us: Histórias de Família’ estreia hoje, dia 16 de novembro de 2022. A série vai ao ar às quartas-feiras, após a novela Travessia.

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