Morte Sem Tabu

Morte Sem Tabu - Camila Appel, Cynthia Araújo e Jéssica Moreira
Camila Appel, Cynthia Araújo e Jéssica Moreira
Descrição de chapéu Mente

Crianças não são propriedade coletiva

Deixemos para invadir o espaço de pessoas que podem responder por si

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Sao Paulo, SP, Brasil, 10-10-2018: ***Esp Para Revista S.Paulo. FOLHA*** Novas tendencias nas escolas. Criancas pequenas da turma 1 (entre um ano e meio a dois e meio anos) brincam em espaco especial no colegio Teia Multicultural, em Perdizes, que tem projeto educacional inovador. No centro, garotinha Anua Oliveira Silva (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, Revista Sao Paulo). - Folhapress

Há uns quinze dias, fui a uma pousada com meu marido e minha filha.

Desde que começou a pandemia, tivemos sempre muitas restrições. Até que minha filha estivesse imunizada, evitei a convivência presencial o máximo que pude.

Para a nossa grande sorte – falo da humanidade – ambientes abertos e bem ventilados, sem aglomeração, são seguros. Sem qualquer perspectiva para o fim da pandemia, comecei a aceitar que, seguindo de máscara em lugares fechados, evitando multidões e usando álcool em gel quase como se respirasse, a vida tinha que retomar um mínimo de normalidade.

O lugar era lindo, muito grande, tudo aberto, com poucas pessoas. Estava bem tranquila.

Até que me lembrei que algumas pessoas têm certas dificuldades com limites pessoais.

Minha filha, de um ano e sete meses, é muito simpática. Gosta de falar "Ooooi", dar tchau, mandar beijos para cada pessoa que passa. Mas ela é um bebê e estava devidamente acompanhada pelos adultos responsáveis por ela.

Penso que ninguém deveria se sentir convidado a oferecer a mão para dar uma voltinha ou oferecer os braços para a pegar no colo, e muito menos passar a mão nos seus cabelos, como se fosse amplamente permitido encostar em crianças de desconhecidos por aí.

Crianças são pessoas e, enquanto não podem responder por si, não devem ser submetidas à vontade alheia de adultos que não sejam seus pais ou tutores.

Acho curioso que, quando passeio com Nhoque, nosso basset hound, um cachorro de orelhas muito compridas que chama bastante atenção, as pessoas me pedem para encostar nelas.

Para o cachorro, pedem permissão antes. Para a criança não.

Cachorro da raça basset hound, de orelhas compridas, olha para bebê, que está sentada ao seu lado
Beatriz, minha filha de 1 ano e 7 meses, e Nhoque, nosso basset hound - Arquivo pessoal

Comecei a me perguntar se minha ansiedade em relação a isso é maior por causa do vírus. Se me incomodaria menos, caso não estivéssemos em um momento em que contatos físicos devem ser evitados.

Ainda estou me perguntando se já me ocorreu sacudir o cabelo de uma criança sem autorização. Acho que não. Espero que não.

Lembro que, na minha primeira temporada na Alemanha, fui surpreendida por uma pessoa que estava na fila a minha frente e disse que eu estava muito perto dela. Ela apontou para o chão, em que um sinal dizia algo como "dê distância, por favor".

Naquela época, achei um pouco grosseiro. Mas, depois de passar os últimos anos cansada de pedir para as pessoas não se aproximarem tanto, especialmente em lugares fechados, desejaria que fôssemos menos invasivos por aqui.

Seja como for, deixemos para invadir o espaço de pessoas que podem responder por si. Crianças não são propriedade coletiva.

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