Na Corrida

Pé na estrada, mesmo quando não há estrada

Na Corrida - Rodrigo Flores
Rodrigo Flores
Descrição de chapéu atletismo

Eliud Kipchoge bate recorde da maratona e redefine limites humanos

Maior maratonista de todos os tempos estabelece nova marca em Berlim

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Rodrigo Flores
São Paulo

Pelé ou Maradona? Messi ou Cristiano Ronaldo? Michael Jordan ou Lebron James?

Uma das partes mais divertidas dos esportes coletivos é discutir sobre quem é o maior atleta de todos os tempos daquela modalidade. Raramente chega-se a um consenso. Há muitas variáveis envolvidas, e algumas delas são bastante subjetivas. Em resumo, para essas questões não há certo nem errado.

No atletismo é um pouco diferente. Você tem atletas que entram para a história pelos seus feitos extraordinários. O velocista negro Jesse Owens constrangeu o nazismo e Adolf Hitler ao conquistar a medalha de ouro nos 100 metros rasos nos Jogos Olímpicos de Berlim. O maratonista etíope Abebe Bikila assombrou o mundo ao vencer, descalço, os 42 km nas Olimpíadas de Roma, em 1960. São feitos únicos, repletos de simbolismo. E, justamente por isso, são insuperáveis.

Há no atletismo uma forma bem mais objetiva de decidir quem é o melhor de todos os tempos. Basta olhar para o cronômetro. Jesse Owens correu os 100 metros em 10s3. Em 2009, o jamaicano Usain Bolt percorreu a mesma distância em 9s58. A marca de Bolt um dia deve ser superada – o feito de Owens jamais será igualado. Mas até aparecer um novo recordista mundial, o jamaicano será o maior velocista de todos os tempos.

Fiz essa longa introdução para chegar em Eliud Kipchoge. Quem não acompanha o atletismo de perto talvez nunca tenha ouvido falar nesse discreto queniano de 37 anos, 1m67 e 52 quilos. Pois saiba que Eliud Kipchoge está para maratona assim como Usain Bolt está para os 100m rasos. Ele é o maior maratonista de todos os tempos.

Eliud Kipchoge comemora a vitória na Maratona de Tóquio em 6 de março de 2022
Eliud Kipchoge comemora a vitória na Maratona de Tóquio em 6 de março de 2022 - AFP

Kipchoge foi medalha de ouro nas duas últimas maratonas olímpicas – Rio de Janeiro e Tóquio. E, neste domingo (25), ele bateu o seu próprio recorde mundial ao terminar a maratona de Berlim em 2h01min09 – 30s mais rápido que sua marca anterior, obtida na mesma cidade em 2018. Para se ter uma ideia da dominância de Kipchoge no esporte, o segundo colocado -- o também queniano Mark Korir -- completou a mesma distância quase cinco minutos depois.

Apesar de este ser o novo recorde mundial homologado pela World Athetics, Kipchoge segue sendo o único ser humano a ter corrido a maratona a menos de 2h. Em um evento fechado, promovido por seu patrocinador, ele percorreu os 42 km em 1:59:40. A marca não tem reconhecimento oficial porque não havia outros competidores no dia e o ritmo ideal era marcado por um carro da organização. Mas ele foi lá e fez algo que muitos julgavam ser impossível.

Universidades estudam a mecânica da corrida de Kipchoge. Treinadores buscam talentos semelhantes pelo mundo, e tentam reproduzir em seus pupilos a mesma técnica do queniano. Procure no google conteúdos sobre "como correr como Eliud Kipchoge" e você terá centenas de resultados.

Enquanto o mundo tenta alcançá-lo, Kipchoge leva uma vida simples no interior do Quênia, onde vive com a mulher e três filhos. Sua imagem vale milhões, mas há relatos de que ele se encarrega de preparar a própria comida e limpar os banheiros de casa. Um ser humano comum, que faz coisas que outro ser humano jamais conseguiu fazer.

Toda vez que assistimos a um jogo de Messi ou de Cristiano Ronaldo, sabemos que estamos diante de algo especial, e que um dia vai acabar. Hoje, quem acompanhou a Maratona de Berlim viu os limites humanos serem superados, redefinidos. Testemunhou a história sendo escrita por Eliud Kipchoge. Mais uma vez.

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