De Grão em Grão

Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro

De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
Descrição de chapéu Selic juros copom

Três vieses comportamentais que podem comprometer seus investimentos em renda fixa

Não deixe seus instintos sabotarem seu futuro financeiro; descubra como superar os vieses que drenam seus investimentos em renda fixa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Suponha que você está em um navio prestes a enfrentar uma tempestade. Você pode optar por manter o curso atual, sabendo que as águas são mais calmas, mas a tempestade é inevitável. Ou, você poderia mudar de rota, enfrentando ondas mais agitadas agora, mas evitando a tempestade ao longo do caminho.

Esta decisão, semelhante às escolhas de investimento em renda fixa, é complicada pelos vieses comportamentais que muitas vezes não percebemos, mas que podem desviar nossas trajetórias financeiras. Explico abaixo como três destes vieses podem afetar seu comportamento e prejudicar seu resultado futuro, e como identificar se você está sob seu efeito.

Operadores na Bolsa de Nova Iorque (NYSE). REUTERS/Brendan McDermid - REUTERS

O primeiro desses vieses é a aversão à perda. Investidores com este viés preferem evitar perdas a alcançar ganhos. Por exemplo, mesmo com o CDI em queda, a ideia de mudar para títulos com taxas mais altas parece arriscada. Esse medo pode impedi-los de ajustar a carteira para melhores oportunidades, como títulos prefixados ou atrelados ao IPCA, resultando em ganhos potenciais perdidos.

Este viés foi mais formalmente identificado e popularizado por Daniel Kahneman e Amos Tversky na década de 1970 como parte de sua teoria prospectiva, que descreve como as pessoas tomam decisões entre alternativas que envolvem risco e incerteza. Eles publicaram vários trabalhos fundamentais sobre o tema, incluindo o famoso artigo "Prospect Theory: An Analysis of Decision under Risk" em 1979.

Para identificar se você sofre desse viés, reflita sobre como se sente ao enfrentar uma potencial perda versus um potencial ganho. Você evita mudanças na sua carteira de investimentos, mesmo com evidências de que poderia estar ganhando mais em outro lugar, por medo de perder?

O segundo é a ilusão de controle, onde você sente que tem mais comando sobre a situação do que realmente possui. Investidores podem pensar que ficar com investimentos em CDI é uma maneira segura de manter o controle sobre seus retornos, ignorando que as taxas externas que influenciam esses retornos estão em declínio.

O viés da ilusão de controle foi estudado e nomeado pela psicóloga Ellen Langer na década de 1970. Um de seus estudos influentes foi "The Illusion of Control", publicado em 1975, onde ela demonstrou como os indivíduos podem acreditar que têm controle sobre resultados aleatórios.

Se você acha que mantendo investimentos em CDI está protegido de todos os riscos como o de inflação ou acredita que pode prever as flutuações do mercado, isso pode ser um sinal deste viés.

Por fim, consideremos o viés do status quo, que nos faz preferir manter as coisas como estão, evitando mudanças. Este viés é particularmente relevante quando enfrentamos decisões que requerem alterar nossa estratégia de investimento. Muitos investidores preferem permanecer em investimentos em CDI por conforto com a familiaridade, mesmo quando há claras vantagens em explorar outras opções como títulos prefixados ou atrelados ao IPCA.

Investidores com este viés também têm muita dificuldade de deixarem seu banco tradicional para investirem melhor em renda fixa por meio de corretoras.

O conceito de viés do status quo foi discutido por William Samuelson e Richard Zeckhauser em seu artigo "Status Quo Bias in Decision Making", publicado em 1988. Em seu trabalho sobre decisões de investimento e escolhas pessoais, eles observaram que as pessoas tendem a preferir opções que perpetuam o estado atual das coisas.

Para verificar se você está sendo influenciado por este viés, questione-se: estou evitando novas oportunidades de investimento simplesmente porque sinto mais conforto com o que já conheço? Você hesita em fazer mudanças em sua carteira mesmo com evidências claras de que uma estratégia diferente poderia ser mais benéfica?

Entender e confrontar esses vieses é crucial para navegar melhor no mercado de renda fixa, especialmente em tempos de mudanças nas taxas de juros. Reconhecê-los pode ser o primeiro passo para tomar decisões de investimento mais informadas e, potencialmente, mais lucrativas.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

Fale direto comigo no e-mail.

Siga e curta o De Grão em Grão nas redes sociais. Acompanhe as lições de investimentos no Instagram.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.