Desenhar o percurso, definir os preços dos kits, negociar licenças com as prefeituras, conseguir patrocinadores, acertar permutas, contratar fornecedores e fazer tudo isso funcionar em um domingo de manhã cedo.
Difícil dizer quem transpira mais: atletas ou organizadores de corridas de rua. A tarefa de quem se propõe a reunir milhares de pessoas em uma prova é hercúlea. E uma das variáveis mais importantes é a definição da data do evento. O ideal é que não seja nas férias, nem no feriado prolongado, nem nos meses mais chuvosos (ou mais frios, ou quentes demais), nem que coincida com a data de realização de alguma prova tradicional.
O resultado de tantas variáveis é uma distribuição desigual no calendário de provas. Meses como abril, maio e junho acabam concentrando muitas corridas no primeiro semestre. Já em janeiro elas são raras e mais vazias.
Esse é o ponto que eu quero explorar.
Tomemos o exemplo de São Paulo. Neste domingo, a cidade será palco da Live! Run XP, com distâncias de 4k a 21k. A corrida acontece na Marginal do rio Pinheiros, uma importante via arterial da cidade.
Vou me concentrar na maior distância da prova – a mais nobre e desafiadora para organizadores e atletas. A Live! Run XP será a terceira meia maratona que a cidade recebe em abril. Isso mesmo: três meias maratonas no intervalo de quatro semanas.
A primeira aconteceu durante a Maratona Internacional de São Paulo, no dia 2. A prova levou os atletas da região do parque do Ibirapuera para a zona Oeste da capital paulista. No final de semana passado foi a vez da Meia Maratona Internacional da Cidade de São Paulo. Largada no Pacaembu e percurso no centro velho e elevado Presidente João Goulart, o Minhocão.
Domingo tem outra meia, desta vez na Marginal.
Esse excesso de oferta dá mais flexibilidade para o corredor, que pode escolher data e local mais convenientes. Mas também deixa alguns pontos de atenção.
O primeiro diz respeito aos custos. Quanto mais longa a corrida, mais cara ela é. São necessários mais pontos de hidratação, serviços de limpeza e pagar taxas maiores para o fechamento de vias. E quem paga essa conta? Parte são os patrocinadores, parte são os atletas. Quanto mais gente para dividir essa fatura, melhor.
Com três meias maratonas em um intervalo tão curto de tempo, é natural que os corredores optem por uma ou outra etapa, em vez de fazer todas. O resultado é que as provas acabam tendo menos inscritos do que poderiam.
O resultado disso é uma bola de neve: os kits ficam mais caros, enquanto o orçamento para o organizador investir em uma experiência de alto nível fica menor. Patrocinadores também valorizam menos o evento. Afinal, para as marcas, quanto mais gente, melhor.
Nós corredores também precisamos pensar fora da nossa bolha. Fechar vias tão importantes de uma cidade como São Paulo tem um custo reputacional. Quem nunca se deparou com motoristas irritados atrás do volante que atire o primeiro par de tênis.
Como resolver esse impasse? O primeiro passo seria uma conversa entre os organizadores. O surgimento recente da Abraceo (Associação Brasileira dos Organizadores de Corrida de Rua e Esportes Outdoor) é um movimento nessa direção. Mas é preciso mais diálogo, cooperação e flexibilidade.
Esse assunto rende e ainda voltarei a ele em outros posts. E você, o que pensa sobre isso? Deixe sua opinião nos comentários ou escreva para blognacorrida@gmail.com. Também pode me mandar mensagem no Instagram @rodrigofloresnacorrida
E se você se animou para encarar a Live! Run XP, ainda dá tempo de se inscrever. O link é https://appliveexperience.com.br/#/evento/24
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