O sonho de qualquer surfista é escolher uma onda de qualidade constante para surfar, a qualquer hora do dia, sem depender das condições climáticas, do vento e da maré e essa possibilidade vem se tornando cada vez mais popular com as piscinas de ondas.
Não é de hoje que a criação de ondas artificiais vem mexendo com a mente humana. Muitos projetos já foram criados ao redor do mundo e a discussão sobre ondas de mar e piscina fazem parte das rodas de surfistas, amadores e profissionais.
Alguns relatos apontam que a primeira vez que uma onda artificial foi desenvolvida foi entre 1845 e 1886, quando o rei Ludwig II da Baviera eletrificou um de seus lagos particulares para criar ondas artificiais. Desde então, muitas tentativas foram feitas para desenvolver e instalar tecnologias de geração de ondas, mas eram inicialmente voltadas para parques aquáticos temáticos, sem potencial para serem surfadas.
Outros países como: Alemanha, Hungria, Inglaterra, Austrália, país de Galles e outros tiveram papel importante no desenvolvimento das piscinas de ondas. Em 1969, a Big Surf nos Estados Unidos é inaugurada em Tempe, Arizona, gerando ondas de um metro que podiam ser surfadas por até vinte segundos e foi um passo importante na consolidação de ondas surfáveis em piscinas.
Na década de 80 tivemos um grande impulso de novas piscinas com ondas surfáveis, vários modelos e tecnologias diferentes foram testadas mundo a fora e a evolução foi notória. No ano de 1985 a Wildwater Kingdom em Allentown, Pensilvânia, sediou o primeiro campeonato mundial de surfe indoor. Typhoon Lagoon da Disney em Orlando, Flórida. Sunway Lagoon na Malásia. Seagaia Ocean Dome em Miyazaki, Japão. Siam Park em Tenerife, nas Ilhas Canárias. Wadi Adventure em Al Ain, Emirados Árabes Unidos. Surf Snowdonia, a primeira grande piscina de surfe do mundo, em Conwy Valley, no coração do País de Gales, são apenas alguns dos projetos que ajudaram no desenvolvimento em várias partes do mundo.
A tecnologia da empresa Wavegarden liderou por um bom tempo o mercado de ondas artificiais até que em 2015 Kelly Slater, o atleta 11 vezes campeão mundial de surfe, com sua equipe de engenheiros fundou a marca Kelly Slater Wave CO, em Lemoore, Califórnia e chocou o mundo do surfe. A perfeição das ondas geradas, somada à possibilidade de regular a máquina para diversos tipos e tamanho de ondas fez esse projeto único.
Muitos dizem – e eu concordo – que foi um divisor de águas, pois ninguém melhor para promover uma piscina de onda do que o "rei" da modalidade Kelly Slater. Hoje o Surf Ranch como é conhecido, faz parte de uma das etapas do circuito mundial de surfe organizado pela World Surfing League e é a única etapa disputada em ondas artificiais.
Com a ascensão do surfe à esporte olímpico, novas piscinas estão sendo concebidas e o futuro parece bastante promissor. Um fato interessante e que mostra onde tudo isso pode chegar é a inauguração em 2016 do Nland Surf Park em Austin, Texas, EUA. É a primeira piscina de ondas pública da América e funciona com a tecnologia Wavegarden. Tornar acessível para todos essa experiência é realmente algo incrível.
Novas tecnologias apareceram e estão se destacando, em 2018 a BSR Surf Resort apresenta o primeiro parque de ondas da American Wave Machines, localizada em Waco, no Texas. No mesmo ano a Surf Lakes entra na indústria de piscinas de ondas com um conceito revolucionário: Concentric Surf Lagoon. Isso mostra que o mercado do surfe é bastante abrangente e que tem espaço para evoluir cada vez mais. Com a concorrência acirrada, quem ganha é o público que pode experimentar vários tipos de tecnologias e ser testemunha da constante evolução.
E aqui no Brasil?
Há pouco mais de um ano tivemos a inauguração da primeira piscina de ondas surfáveis do Brasil na Praia da Grama em Itupeva interior de São Paulo. Com a tecnologia Wavegarden e construída a mais de 150 km do mar, está em pleno funcionamento e vem sendo bastante elogiada por todos aqueles que já tiveram o privilégio de experimentar.
Nos próximos meses teremos na praia de Garopaba, pico tradicional de surfe em Santa Catarina, a inauguração do clube Surfland Brasil que contará com uma estrutura sensacional. Outro projeto em desenvolvimento é o São Paulo Surfe Clube, empreendimento de alto padrão da construtora JHSF na capital paulista, que contará com torres residenciais, clube e shopping center com previsão de inauguração no final de 2023.
Eu particularmente ainda não tive a experiência em surfar em uma piscina, talvez por isso a minha identificação continue mais forte com o mar. Nós, surfistas das antigas, estamos acostumados com a rotina de deslocamento para buscar as melhores condições e acordar cedo para checar o mar e depender da natureza para nos enviar boas condições de surfe. Areia e sal fazem parte do nosso corpo, do nosso carro, da nossa casa e da nossa alma salgada.
Ao mesmo tempo, o fato de não precisar se preocupar em conferir se terá onda ou não é um fator extremamente animador. Na piscina as suas ondas estão lá reservadas para você, com hora marcada, tamanho definido, direcionadas para a esquerda, direita ou os dois lados. Ter um complexo de apoio com infraestrutura disponível são fatores importantes e que trazem todo um cenário moderno e diferente para a prática do esporte.
O surfe não tem fronteiras e o seu desenvolvimento será cada vez mais intenso. Novas gerações irão surgir e com elas, novas necessidades e costumes. Vamos ver como as coisas se desenrolam nos próximos anos e onde essa onda irá parar.
Aloha
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.