Na Pinta do Surfe

O universo do esporte e suas particularidades

Na Pinta do Surfe - Marcus Romero
Marcus Romero
Descrição de chapéu surfe

O futuro do surfe feminino

As mulheres estão ocupando os seus lugares de direito em várias áreas da sociedade, e no mar não seria diferente

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O outside era um lugar tradicionalmente ocupado por maioria masculina e até duas décadas atrás, somente os homens surfavam em pé. As mulheres mais próximas desse universo estavam no bodyboard e era uma raridade ver uma mulher com uma prancha de surfe.

mulher deitada em uma prancha de bodyboard deslizando em uma onda
Nos anos 90 as mulheres se dedicavam ao Bodyboard, era raro ver uma mulher surfando em pé. Daniela Freitas, bicampeã mundial da modalidade. - Divulgação

As coisas mudaram e hoje as mulheres estão presentes, e muito presentes, no line-up. Em todos os picos de surfe existem mulheres dividindo as ondas de igual para igual, a presença delas trouxeram mudanças de comportamentos na água e a vibe é totalmente diferente.

Hoje é comum ver mulheres de todas as idades aprendendo, surfando, se divertindo e competindo. Elas estão em todas as praias do Brasil e do mundo.

É muito legal acompanhar essa transformação. Hoje elas viajam o mundo atrás das melhores ondas. Tudo isso faz com que a evolução do surfe feminino avance à passos largos e nós já estamos nos preparando para brigar (e forte) pelo nosso tão sonhado e desejado primeiro título mundial feminino.

Andrea Lopes e Silvana Lima foram durante muito tempo nossas representantes nas disputas e responsáveis por esse avanço do surfe competição brasileiro. Elas foram incansáveis e importantíssimas para trazer o surfe feminino até esse momento. Se para um surfista brasileiro já era complicado ter condições de viver do surfe, para as mulheres era quase impossível imaginar.

Mulheres entrando no mar para mais uma sessão de surfe. (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress) - Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Mas parece que agora as coisas encaixaram e tudo está caminhando para que o surfe feminino ocupe definitivamente seu lugar de destaque. A WSL – World Surf League – principal liga de surfe mundial igualou as premiações feminina às da categoria masculina e incorporou as mesmas ondas disputadas nas etapas do circuito para as categorias. Agora as ondas mais temidas e perigosas como Teahupo´o e Pipeline são surfadas por elas também. Claro que existe todo um cuidado para que essa evolução seja crescente e por isso as análises das condições ainda são importantes para as chamadas das baterias femininas. Elas vêm demonstrando muita atitude, coragem e responsabilidade pois sabem da importância desse momento.

Mas as mulheres já mostraram que podem surfar qualquer tipo e tamanho de onda que desejarem. A surfista Maya Gabeira é o exemplo claro que se uma mulher quer pegar a maior onda, ela pode. Em 2018 ela surfou uma onda de 20,7 metros - na praia de Nazaré em Portugal e entrou para o livro dos recordes, repetindo o feito novamente dois anos mais tarde onde surfou uma onda de 23,5 metros na mesma praia. Ela é a única surfista mulher com dois recordes de maior onda surfada no Guinness World Records. Com foco, dedicação, comprometimento e treinamentos tudo é possível de ser feito.

A surfista Maya Gabeira surfando em pé em sua prancha em uma onda gigante
Maya Gabeira na onda do recorde mundial em Nazaré, Portugal - Damien Poullenot - 11.fev.20/WSL

No circuito mundial, Tatiana Weston-Webb é a representante brasileira e finalizou esse ano na 4ª posição. Ela vem melhorando e muito seu surfe e está pronta para disputar novamente o título e quem sabe se consagrar a primeira campeã mundial brasileira. Todo esse movimento vem despertando uma chuva de novas promessas. Parece que uma nova "tempestade" está se formando. Temos algumas surfistas muito jovens que vem se dedicando e se preparando para ingressar na elite do surfe mundial.

Sophia Medina, 17 anos (irmã do Tricampeão mundial Gabriel Medina) e Isabelle Nalu, 14 anos (filha de Everaldo Pato, surfista de ondas grandes) são os maiores destaques do surfe feminino brasileiro atualmente. Ambas já atuam como profissionais e tem patrocínios de grandes marcas e apoiadores de peso. O treinamento de ponta voltado à carreira somado a experiência e o DNA familiar, fazem delas potenciais candidatas a ingressar em breve na elite do surfe mundial. Todo esse movimento faz com que meninas muito jovens se espelhem e queiram seguir esses passos, esses exemplos têm levado elas para um universo que parece normal para essa geração. Como é bom você poder ver alguém fazendo algo grandioso e pensar: eu quero fazer isso, eu posso fazer isso, eu vou fazer isso.

É impressionante como ter identificação com uma referência torna tudo mais acreditável.

Para um pai surfista e apaixonado pelo esporte é um sentimento adorável ver minha filha de 3 anos dividindo com o irmão, um ano mais velho, o mesmo brinquedo: uma prancha de surfe. É realmente gratificante saber que as mulheres conquistaram seus espaços e hoje as crianças podem olhar para qualquer esporte sem receio de julgamentos e, mais do que isso, com a certeza que podem realizar.

Desejo que todas as mulheres que lutaram pelo seu espaço fora e dentro da água possam ter certeza de que tudo o que fizeram não foi em vão e que somente com resiliência é possível mudar algo.

Muito obrigado às surfistas veteranas e contemporâneas por tudo o que fizeram e fazem pelo esporte, vocês são incríveis.

Aloha

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