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Normalitas - Susana Bragatto
Susana Bragatto

Governo espanhol celebra vitória de Lula: 'Brasil da Esperança'

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A vitória de Lula no último domingo (30) fez vibrar uma parte importante do governo de centro-esquerda espanhol.

Depois da recente ascensão da ultradireitista Giorgia Meloni na vizinha Itália em outubro, os partidos governistas espanhóis, entre eles PSOE (do premiê Pedro Sánchez e da vice-presidenta e Ministra do Trabalho Yolanda Díaz) e Unidas Podemos, celebraram o resultado das eleições brasileiras com telefonemas oficiais e tuítes de apoio:

O apoio de membros do governo espanhol a Lula já vinha sendo declarado desde os resultados do primeiro turno, o que gerou certo desconforto dentro do Palácio da Moncloa, sobretudo por parte do Ministro de Assuntos Exteriores, José Manuel Albares, também do Partido Socialista Obrero [Trabalhista] Espanhol (PSOE).

Para Albares, seria função de seu ministério estabelecer o tom da comunicação oficial, sem celebrações prematuras, a fim de preservar a integridade da aliança internacional em setores estratégicos econômicos, por exemplo.

Logo após a divulgação dos resultados do primeiro turno, Díaz comemorou em um tuíte que "o Brasil diverso e dialogante é maioria. Um Brasil que, agora sim, começa a olhar esperançoso o futuro". "O [dia] 30 de outubro abrirá caminho para o #BrasildaEsperança":

A uma semana do segundo turno, o premiê também gravou uma mensagem de apoio a Lula, que renderia uma resposta de agradecimento do próprio:

APOIO DIVIDIDO

Por outro lado, os líderes do partido espanhol de extrema direita Vox, apoiadores de Bolsonaro, lamentaram na última segunda (01) a vitória do Partido dos Trabalhadores no Brasil.

"É uma má notícia para o Brasil, para a América do Sul, para a 'iberoesfera' e para a defesa da liberdade, da prosperidade, do direito à propriedade e todas as questões fundamentais que estão em jogo", enumerou o vice-presidente do partido, Jorge Buxadé, em coletiva, emulando um discurso muito próximo ao do atual presidente brasileiro.

Mas minimizou o impacto da derrota e celebrou o que chamou de "extraordinário resultado" de Bolsonaro nas urnas: "mostra que nós, Vox, estamos no caminho certo, na luta justa e necessária".

Perguntado sobre se a vitória da esquerda no Brasil poderia impactar negativamente no fortalecimento de seu partido na Espanha, Buxadé comparou a situação à derrota de Trump, e assegurou que a vitória da direita em outros países demonstrou que o "movimento conservador" segue sendo "muito potente" em toda parte.

O ex-presidente Lula (PT) se encontra com o presidente da Espanha, Pedro Sánchez
O então ex-presidente Lula (PT) se encontra com o premiê espanhol Pedro Sánchez, durante visita ao país ibérico em novembro de 2021 - Ricardo Stuckert

Além da Itália, também as recentes eleições legislativas na Suécia em setembro ampliaram o domínio da direita, que ultrapassou em número o bloco de centro-esquerda por 3 cadeiras (176 a 173).

Lá, como em outras partes da Europa, uma das bandeiras mais levantadas pela extrema direita visa os imigrantes, associando-os, por exemplo, com um aumento generalizado da delinquência.

FUTURO CENTRISTA

Em podcast apresentado pelo cientista político espanhol Pablo Iglesias, ex-membro do atual governo e do partido Podemos, analistas comentam o resultado das eleições no Brasil.

Preveem uma gestão de centro-esquerda encabeçada por Lula, o que poderia positivamente favorecer a integração de diferentes setores sociais em um novo cenário.

Por um lado, sobre a força da direita, Iglesias comenta que "Bolsonaro é mais um catalisador do que um demiurgo; pode-se imaginar um bolsonarismo mais além de Bolsonaro", que seguiria após o término do atual governo como um desafio à próxima gestão.

Por outro lado, a vitória de Lula sinalizaria uma bem-vinda "guinada à esquerda" da América Latina, com impactos integradores e além-fronteiras, uma vez que o Brasil é um "global player" e, portanto, "é evidente que este é um acontecimento de importância mundial".

Gonzalo Winter, jornalista argentino que participa do debate, menciona a orientação centrista do novo governo, com o qual, diz, ascendem ao poder coalizões que incluem também setores liberais.

"Na aliança de Lula está Guilherme Boulos, que propõe a reforma agrária, e também está João Amoêdo, representante da Faria Lima, a avenida dos bancos", exemplifica.

"Contra quem prega o ódio e o negacionismo climático, contra quem quer um Brasil isolado e fechado em si mesmo, é hora de abrir a porta à esperança", encerra o premiê espanhol Sánchez seu vídeo de apoio a Lula. "O Brasil merece esse horizonte. Seu triunfo será o de progressistas de todo o mundo, e também de nós, espanhóis".


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