Sinal dos tempos: a mulher mais velha do mundo é tuiteira.
María Branyas (Los Angeles, 1907) completou 116 anos no último dia 4 de março de 2023, o que a torna, segundo os registros conhecidos, a pessoa viva (claro) mais idosa do mundo.
Vivíssima, obrigada. Ou gràcies, já que a simpática senhora é catalã-americana, e há mais de duas décadas vive numa casa de repouso na pequena cidade de Olot, na mediterrânea província de Girona, conhecida por seus vulcões apaziguados (última erupção: 13 mil anos atrás).
As vidas que uma vida dá: María, nascida nos Estados Unidos de pais espanhóis, testemunhou duas Guerras Mundiais, uma guerra civil espanhola, a chegada do homem na Lua e muchas cositas históricas más até aterrissar, aos 113 anos, na pandemia de Covid, em 2020 -- quando virou notícia por se tornar a Pessoa Mais Velha a Pegar O Bicho E Sobreviver.
Diz a família que nunca foi hospitalizada em sua longa vida. Nem um ossinho quebrou, estão todos intactos. Em seu perfil do Twitter, a descrição, ligeiramente críptica:
"Sou velha, muito velha, mas não idiota".
María nasceu em São Francisco, onde o pai, o jornalista espanhol Josep Branyas, foi enviado como correspondente da revista barcelonesa Mercurio (1901 - 1938). Passou a maior parte de sua infância em terras sulinas, em New Orleans, e voltou pra Espanha em plena Primeira Guerra Mundial a bordo do navio Catalina -- onde o pai viria a falecer, aos 38 anos, de uma doença pulmonar.
María tinha então apenas 8 aninhos, 108 (!) a menos do que hoje.
***
Em janeiro de 2023, o comitê gerontológico da Universidade da Califórnia (UCLA), associado ao Guinness, lançou a lista atualizada das pessoas mais longevas do mundo. Branyas vinha em segundo, logo depois da francesa Lucile Randon, de 118 anos.
Dois dias depois, com o falecimento de Lucile, Branyas passaria a ocupar o #1 da lista, que inclui também a japonesa Fusa Tatsumi (também 116 anos, 52 dias mais jovem, em #2), a norte-americana Edith Ceccarelli, de 115 anos, em terceiro e a brasileira Inah Canabarro Lucas, de Porto Alegre, também de 115.
María se dilui em meio aos altos índices de longevidade na Espanha (atualmente, a expectativa de vida está em aproximadamente 84 anos, dependendo da fonte, uma das maiores da Europa).
Vale lembrar que o Guinness, embora seja uma referência oficial, com rankings elaborados à base de muita investigação, não é necessariamente a única fonte da, ahem, longevidade: anciãos supercentenários, como a carioca Deolira, supostamente com 118 anos, são descobertos o tempo todo em toda parte.
Qual o segredo de María? Como outros supercentenários, a gente fica se perguntando -- o que fazer pra viver tanto?
Vejamos. María nunca fumou ou foi de beber, é verdade; mas, segundo notou sua filha ao El País, tampouco nunca malhou -- quer dizer, sem contar os rolês cas amigues pela Rambla de Girona, o tal footing da época.
Comida: segundo taquigrafa a filha (María mal se comunica com o mundo exterior diretamente, e tanto ela quanto a família, em geral, relutam em dar declarações à imprensa), María sempre foi de comer pouco, mas sem privações.
"Muitos me perguntam que dieta sigo pra viver tantos anos", tuíta ela. "Sempre comi pouco, mas de tudo, e nunca segui nenhum regime".
Até hoje, na residência onde vive, o cardápio é variado e inclui até uma linguicinha-butifarra com batata doce de vez em quando, por exemplo.
Outros conselhos que dá a anciana em seu perfil do Twitter: comer um iogurte ao dia, ficar de bôuas e fugir de gente tóxica.
Ou, como diz a própria, cuidar do "estilo de vida que levamos: ordem, tranquilidade, boa conexão com a família e amigos, contato com a natureza, estabilidade emocional, sem preocupações, sem arrependimentos ou ressentimentos, muita positividade e longe das pessoas tóxicas".
Nada que a gente já não soubesse, mas mola escutar da boca centenária de María, claro.
"Penso que a longevidade é também ter sorte. Sorte e boa genética", nota em outro tuíte. Ah, bom.
Numa mensagem de ano novo, ela reflete: "Eu não posso falar de dias, horas ou minutos, porque minha vida são momentos. A vida não é eterna para ninguém... na minha idade, um ano novo é um presente, uma humilde celebração, uma nova aventura, uma bela viagem, um instante de felicidade. Celebremos a vida juntos".
Em seu mais recente aniversário, em março, compartilhou uma citação do escritor e poeta checo ganhador do Nobel Jaroslav Seifert (1901 - 1986):
Buenos días, mundo. Hoy cumplo 116 años. Como dice Jaroslav Seifert:
"He tenido que llegar a edad
avanzada
para aprender a amar el
silencio...
En el silencio aparecen
señales emocionadas
y en los cruces de la
memoria
detectas nombres
que el tiempo pretendía
ahogar".
"Tive que chegar à idade
avançada
para aprender a amar o
silêncio [...]
No silêncio aparecem
sinais emocionados
e nos cruzamentos da
memória
detectas nomes
que o tempo pretendia
afogar".
(tradução libre minha)
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