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Normalitas - Susana Bragatto
Susana Bragatto
Descrição de chapéu LGBTQIA+

Dennis González, três vezes campeão

Nadador espanhol denuncia ataques homofóbicos depois de ganhar duplo ouro no campeonato europeu: 'não vou ficar calado'

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Barcelona (Espanha)

O que deveria ser uma celebração foi ofuscado por ataques homofóbicos.

No último dia 11 de junho, o jovem espanhol Dennis González Boneu, de 20 anos, ganhou duas medalhas de ouro no campeonato europeu de natação artística celebrado em Belgrado.

A dupla vitória, nas categorias solo e duo misto, com Emma García, ganhou as manchetes junto com um vídeo em que o atleta denuncia insultos recebidos nas redes sociais logo depois da publicação de imagens com sua performance campeã.

"Não entendo se estamos no século 21 ou no século 10 antes de Cristo", desabafou.

"Sereia', 'bicha [truta]', 'vaya pluma'" são algumas das ofensas que ele menciona no vídeo, que desde então viralizou em todo o país e foi notícia nos principais órgãos de imprensa.

"Essas pessoas [que criticam] nunca ganharam nada em sua vida, não sabem o que é a disciplina, o trabalho, não sabem o que é ser campeão da Europa, não sabem o que implica tudo isso", diz.

González afirma que não se importa com os comentários, mas que decidiu denunciá-los para evitar que outras pessoas, principalmente jovens atletas como ele, passem pela mesma situação.

"Me dá muita raiva que se digam essas coisas. Sei que comentários assim vão afetar um jovem que comece a fazer natação artística, e não quero isso".

Em entrevista para a revista Men's Health depois do episódio, González conta que sempre sofreu bullying no colégio e que "foi complicado começar nessa disciplina", porque pensava que poderia lhe trazer ainda "mais problemas".

Nesse cenário de muita pressão e constantes críticas, diz, foi fundamental o apoio de sua família e equipe. "É complicado, mas creio que ao menos tenho as ideias claríssimas", diz.

'ACONTECEU MAIS VEZES'

González está longe de ser a primeira vítima de homofobia no esporte espanhol. Em 2021, por exemplo, o campeão de waterpolo Víctor Gutiérrez denunciou o jogador Nemanja Ubovic, então do CN Sabadell, por provocações homofóbicas durante e depois de uma partida.

"Aconteceu mais vezes, mas eu não quis compartilhar antes porque pensei que era mais positivo lançar uma mensagem conciliadora do que negativa", disse, entre lágrimas, num vídeo publicado em suas redes sociais na época. "Mas não quero deixar passar mais".

"Estou muito orgulhoso de ser como sou... minhas lágrimas são de raiva e impotência. Raiva e impotência de que isso passe nas piscinas, campos de futebol, pistas de tênis... e que nós, profissionais, tenhamos que sofrer com isso, mas também as crianças. Basta de homofobia impune no esporte".

DESISTÊNCIA PRECOCE

No futebol masculino, a situação é ainda mais crítica. Até hoje, nenhum jogador espanhol assumiu sua homossexualidade em público.

O ambiente machista, o medo da reação dos colegas ou da perda de patrocínios, as punições veladas dos clubes e as torcidas que normalizam insultos homofóbicos explicam em parte essa situação.

O único caso conhecido é o de um árbitro. Em 2016, Jesús Tomillero assumiu sua homossexualidade por meio de um post em apoio ao dia internacional contra a #LGBTfobia.

Um mês depois, cansado das ameaças, perseguições e insultos, deixou de vez a arbitragem -- com apenas 21 anos de idade.

A situação é um pouco diferente no futebol feminino. Atletas como Lola Gallardo, atual Olympique de Lyon, ex-Atlético de Madrid, e Mapi León, do Barcelona, assumiram-se lésbicas em 2017 e 2018, respectivamente.

Em outros esportes, a Espanha também conta com pioneiros como Kike Sarasola (hipismo), que se declarou gay em 2003, e Izaro Antxia, a primeira mulher transexual federada de futsal.

***

Infelizmente, Tomillero não é o único espanhol a deixar o esporte devido a ataques homofóbicos.

O ex-nadador olímpico espanhol Carlos Peralta, por exemplo, não aguentou a pressão e deixou de competir com apenas 24 anos.

"Sofri preconceitos desde pequeno por ser homossexual", disse, em entrevista ao portal Marca em 2022. "Passei uma infância horrível, e o único motivo por que fui protegido foi por ser o melhor nadador da Espanha... o que teria acontecido comigo se não pudesse justificar isso com minhas vitórias esportivas?" [sic].

"Trocaria todas as minhas medalhas por ter tido uma infância normal e feliz", disse.

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