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Orquestra da Maré se apresenta em pontos turísticos de Portugal

Flashmobs têm repertório eclético, desde a música erudita até funk carioca

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Lisboa

A Orquestra Maré do Amanhã, formada por jovens músicos do complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, está realizando uma série de apresentações em Portugal. Além de concertos "tradicionais", o grupo também tem feito flashmobs em pontos turísticos do Porto e de Lisboa.

As apresentações duram cerca de 20 minutos e incluem um repertório eclético, que vai desde a música erudita até canções do Guns N' Roses e um clássico do funk carioca, o "Rap da Felicidade".

Orquestra Maré do Amanhã, que nasceu como um projeto social no Complexo da Maré, está em Lisboa para uma série de apresentações
Orquestra Maré do Amanhã, que nasceu como um projeto social no Complexo da Maré, está em Lisboa para uma série de apresentações - Marco Brendon/Divulgação

"Nós simplesmente chegamos aos pontos turísticos e começamos a tocar. Não há intervalo para agradecer entre as músicas. É para causar impacto mesmo. Essas apresentações são também um grande desafio, porque a orquestra não está acostumada a estar em movimento", explica o maestro Filipe Kochem.

A mudança do ambiente controlado das salas de espetáculo para os espaços abertos da cidade representou também um desafio para os artistas.

"Foi complicadíssimo. Tivemos de ensaiar muito com eles. Estamos acostumados a estar numa sala fechada em silêncio. Aqui tem trem passando, criança chorando, gente correndo. Sem contar que o som se dissipa muito rápido. Nós tivemos de aprender a filtrar tudo isso", relata.

Para muitos dos integrantes da orquestra, que nasceu como um projeto social em escolas da Maré, a turnê europeia representou também a primeira viagem para fora do Rio de Janeiro.

"Foi realmente a minha primeira viagem. A primeira vez que eu andei de avião na vida", conta a estudante Andressa Lélis, 15. Nascida e criada na Maré, a jovem teve o primeiro contato com a música em 2019, quando foi apresentada à viola: um instrumento até então desconhecido, mas que rapidamente a conquistou.

A estudante Andressa Lélis, 15, toca viola em frente à Torre de Belém, em Lisboa, onde se apresentou com a Orquestra Maré do Amanhã
A estudante Andressa Lélis, 15, toca viola em frente à Torre de Belém, em Lisboa, onde se apresentou com a Orquestra Maré do Amanhã - Giuliana Miranda/Folhapress

"Cheguei para tocar violino, porque era o único instrumento que eu conhecia, ma eu fui apresentada à viola e eu me apaixonei pelo timbre dela, que é incrível. Não é tão agudo, não é tão grave. Está ali no meio-termo e é muito bom", descreve a jovem, sem conter a empolgação.

Os concertos acontecem no âmbito da programação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), encontro católico que acontece de 1º a 6 de agosto em Lisboa e terá a presença do papa Francisco.

As apresentações em Portugal têm ainda um caráter pessoal para o fundador da orquestra, Carlos Eduardo Prazeres, filho do maestro português Armando Prazeres.

A ideia de criar um projeto social com os jovens da da Maré surgiu para Carlos após uma tragédia familiar: o assassinato do pai em 1999. Durante as investigações, a polícia identificou que o complexo de favelas era o local provável de residência do assassino de Armando Prazeres.

O maestro era bastante engajado com causas sociais e desenvolvia ações com jovens vulneráveis através da música. O filho decidiu então dar continuidade aos desejos do pai.

"O sonho dele foi interrompido, mas eu decidi que iria fazer esse sonho renascer", explica ele, que optou pela Maré justamente para oferecer a possibilidade de transformação para as futuras gerações da comunidade.

O projeto começou em 2010 com a educação musical de 26 jovens em escolas da região e rapidamente se expandiu, ganhando também um grupo profissional, a Orquestra Maré do Amanhã. Atualmente, a iniciativa ensina música a cerca de 3.800 crianças, adolescentes e jovens e está presente em todos os Espaços de Desenvolvimento Infantil do complexo de favelas.

Além de apresentações nas grandes cidades de Portugal, a Orquestra Maré do Amanhã tocou também em Arouca, uma pequena cidade do Norte de Portugal onde nasceu o mastro Armando Prazeres.

Depois da temporada em Portugal, Carlos Eduardo Prazeres pensa agora em também realizar um projeto no país europeu, desta vez voltado para a comunidade jovem e imigrante.

"Quem sabe eu consigo fazer por Portugal o que meu pai fez pelo Brasil. Gostaria de criar um projeto para que jovens, sobretudo imigrantes, tenham uma oportunidade para mudar de vida."

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