Políticas e Justiça

Editado por Michael França, escrito por acadêmicos, gestores e formadores de opinião

Políticas e Justiça - Michael França
Michael França

Mulheres negras na tecnologia

Panorama, desafios e perspectivas

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Bruna Arruda

é engenheira química. Primeira mulher mestra em engenharia mecânica na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Professora da graduação e educação executiva do Insper. Coordenadora da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper. Idealizadora e fundadora do Mulheres Negras na Engenharia

Embora as mulheres sejam a maioria no ensino superior de acordo com dados MEC (Ministério da Educação) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), elas ainda são minoria em ciências exatas e engenharia - e estes números afunilam ainda mais quando avaliamos a interseccionalidade entre gênero e raça.

Uma pesquisa recente (2022) da Pretalab mostra que as mulheres negras ocupam apenas 11% dos cargos na indústria de tecnologia. Já um estudo da #QuemCodaBR mostrou dados sobre a diversidade das equipes de tech no Brasil: 32,7% dos entrevistados disseram que não têm pessoas negras em seus times de trabalho.

Bruna Arruda é engenheira química. Primeira mulher mestra em engenharia mecânica na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Professora da graduação e educação executiva do Insper. Coordenadora da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper. Idealizadora e fundadora do MNE (Mulheres Negras na Engenharia)
Bruna Arruda é engenheira química. Primeira mulher mestra em engenharia mecânica na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Professora da graduação e educação executiva do Insper. Coordenadora da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper. Idealizadora e fundadora do MNE (Mulheres Negras na Engenharia) - Divulgação

Estes dados são reflexos da desigualdade social que temos no nosso país. Diante deste contexto, surgem perguntas como: Por que temos um número tão pequeno de mulheres negras em tech? Quais os desafios das empresas? Quão importante é reverter este cenário?

A diversidade nos recortes de gênero e raça ainda é um desafio da indústria de tecnologia, dominada tradicionalmente por homens brancos. Por mais lento e árduo que seja, as mulheres negras estão consolidando sua permanência em carreiras relacionadas à ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), desafiando as culturas organizacionais, estereótipos e quebrando barreiras.

A inclusão de mulheres negras na indústria de tecnologia é essencial, não apenas por uma questão de justiça social e representatividade, mas também pelo caráter inovativo. A diversidade de perspectivas, histórias, vivências e experiências trazidas por mulheres negras enriquece o setor, impulsionando, inclusive, o desenvolvimento de novos produtos e serviços mais inclusivos e relevantes para uma sociedade plural.

Reverter este cenário é um tanto desafiador, afinal, os obstáculos já começam no ensino médio, onde muitas alunas negras são desencorajadas a seguir carreira STEM, muitas vezes por falta de um modelo referencial. Isso se torna ainda mais grave nas regiões Norte e Nordeste do país e em áreas periféricas, nas quais os avanços educacionais em termos de gênero ainda não alcançaram todas as mulheres.

E para consolidar o senso de pertencimento e auxiliar o crescimento em suas carreiras, programas de mentoria que conectem mulheres negras, bem como capacitações para desenvolvimento de habilidades técnicas, socioemocionais e cuidado com saúde mental são essenciais.

É de extrema importância que a indústria e empresas de tecnologia tenham compromisso formal na promoção de equidade de gênero/raça nas oportunidades, e que todos os níveis hierárquicos organizacionais tenham representatividade destas mulheres. Para consolidação destas políticas é importante a criação de ambientes cada vez mais acolhedores, com processo de escuta ativa, e um compromisso para que os processos seletivos garantam que a contratação não seja apenas simbólica. Uma pesquisa realizada pela McKinsey em 2020 em mais de 15 países revela que há uma ligação direta entre o nível de inclusão e diversidade existente numa empresa e o retorno financeiro dela, e que esta relação está no nível de pertencimento e engajamento.

Sou uma mulher negra, engenheira e acadêmica, que sabe o quão desafiador é enfrentar o sexismo e racismo, muitas vezes implícito em nossa sociedade. Venho com este artigo enfatizar a importância da conscientização desta problemática, mas também da necessidade de não encaramos estes fatos e dados com conformismo, mas com consciência, planejamento, mudança e com consolidação de políticas de diversidade para mulheres negras garantindo seu pertencimento e encorajando evolução na carreira tech.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Neste texto, a escolhida por Bruna Arruda foi "Stand Up", de Cynthia Erivo.

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