Políticas e Justiça

Editado por Michael França, escrito por acadêmicos, gestores e formadores de opinião

Políticas e Justiça - Michael França
Michael França
Descrição de chapéu Vida Pública

O que os brasileiros pensam sobre a desigualdade?

A desigualdade no país é alta e gera consequências indesejadas até mesmo para quem vive em uma posição privilegiada

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Flavio Carvalhaes

É professor do departamento de sociologia e coordenador do Núcleo Interdisciplinar sobre Desigualdade (NIED) da UFRJ

Matias López

É pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da FGV, do NIED e do Albert Hirschman Centre on Democracy do Geneva Graduate Institute (Suíça)

Graziella Moraes Silva

É professora no Geneva Graduate Institute (Suíça), co-diretora do Albert Hirschman Centre on Democracy e pesquisadora associada do NIED

Elisa Reis

É professora do programa de pós-graduação em sociologia e antropologia e coordenadora do NIED na UFRJ

A desigualdade de renda no Brasil é muito alta. Cerca de 50% de toda a renda do país se concentra entre os 5% mais ricos. Mas os brasileiros se importam com isso? Pesquisas de opinião feitas no país indicam sistematicamente que a maioria da população concorda com o diagnóstico de que o Brasil é desigual e preferiria viver em um contexto mais igualitário. Estudos feitos no Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre a Desigualdade da UFRJ (NIED) desde meados dos anos 1990 também mostram que as lideranças do Brasil na política e no mercado concordam que a desigualdade no país é alta e gera consequências indesejadas – como a violência - até mesmo para quem vive em uma posição privilegiada.

Mas se a desigualdade é reconhecida e vista como um problema, por que é tão difícil combatê-la? Um caminho para responder essa pergunta é indicar que o consenso sobre a redistribuição depende também de como a desigualdade é definida e de que ferramentas redistributivas são percebidas como eficientes ou justas.

A imagem em preto e branco mostra quatro retratos de profissionais, dispostos em um layout de grade 2x2. No topo, dois homens, um com barba e o outro com óculos e cabelo comprido. Na parte inferior, duas mulheres sorridentes, ambas usando óculos, com penteados curtos.
Flavio Carvalhaes é professor de sociologia e coordena o Núcleo Interdisciplinar sobre Desigualdade (NIED) na UFRJ; Matias López é pesquisador do CPDOC-FGV, do NIED e do Albert Hirschman Centre on Democracy do Geneva Graduate Institute (Suíça); Graziella Silva é professora no mesmo instituto e pesquisadora do NIED. Elisa Reis é professora de pós-graduação em sociologia e antropologia e coordena o NIED. - Divulgação

As ciências sociais têm se debruçado sobre esses temas em todo o mundo e as pesquisas do NIED buscam inserir o Brasil nessa discussão, comparando o país com a Alemanha, Estados Unidos, África do Sul, Botsuana, Uruguai, entre outras nações. Buscamos respostas na maneira como as pessoas conversam quando são convidadas a refletir sobre porque a desigualdade existe e quais seriam as formas de reduzi-la.

Nesse ponto o consenso é menor. Por exemplo, muitas pessoas tendem a associar a renda ao mérito, justificando a riqueza como consequência do estudo, do trabalho ou do talento. Essas percepções ajudam a legitimar as desigualdades e rejeitar medidas de redistribuição que supostamente retirariam dos ricos o que é percebido como fruto do seu trabalho e valor.

As pesquisas do NIED também mostram que a elite brasileira aposta alto no potencial da escolaridade para superar a desigualdade. As políticas educacionais de fato vêm transformando, para melhor, o quadro da desigualdade brasileira. Mas é importante observar que essa aposta na educação é conveniente para quem prefere desviar o foco da tributação da renda (muito baixa no país apesar das constantes reclamações dos contribuintes mais abastados), além de projetar a solução da desigualdade para um horizonte temporal de muito longo prazo. Por outro lado, discursos sobre a corrupção e ineficiência do Estado, recorrentes entre todos os grupos sociais, são invocados para questionar a eficiência de políticas públicas apontando sua falta de qualidade, o que limita seu apoio como mecanismo redistributivo para combate à desigualdade.

É importante observar também que a desigualdade não é um problema que afeta apenas os pobres. Mesmo para os não-pobres, caso da maioria dos leitores deste prestigioso jornal, ela gera também malefícios que afetam todos, como é o caso da violência urbana, ou da baixa especialização da força de trabalho. Em termos estratégicos, cabe perguntar quanto devemos abrir mão em termos distributivos se queremos alcançar níveis mais baixos de conflito social, níveis mais elevados de coesão social e mesmo de produtividade. As ciências sociais certamente podem ajudar o país e suas lideranças a fazer esse cálculo.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Flavio Carvalhaes, Matias López , Graziella Moraes Silva e Elisa Reis foi "A novidade", dos Paralamas do Sucesso.

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