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Quadro-negro - Dodô Azevedo
Dodô Azevedo

Uma nova era na Terra-média

Convidada do Quadro-negro estreia com texto sobre representatividade em novo Senhor dos Anéis

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Ator homem de 35 anos de idade carregando uma tocha
O ator Ismael Cruz Córdova viverá Elfo Erondir na nova série passada dentro do universo de 'O Senhor dos Anéis' - (Amazon Prime Video/Divulgação)

Mais de um bilhão de dólares foram investidos na série de TV que irá nos fazer voltar à Terra-Média, lugar inspirado em um mundo medieval e com toques de mitos nórdicos. Nove anos atrás, o canal de humor Honest Trailers fazia uma implacável crítica em um vídeo, hoje com mais de 15 milhões de views, com a falta de diversidade dos filmes de Peter Jackson. Mas hoje, os tempos são outros. O que chamamos de 'turma da lacração', tenta, com unhas e dentes, conter a ascensão do racismo, fascismo e nazismo. No último domingo, com a divulgação do primeiro trailer da série, a 'turma da lacração' foi atacada, no mundo inteiro, por fãs autointitulados puristas da obra de J.R.R. Tolkien, em um ataque coordenado que fez gente de todo o mundo escrever, em todas as línguas possíveis, uma frase do autor nos comentários do canal oficial da Amazon no Youtube.: "O Mal não pode criar nada novo. Apenas corrompê-lo". Estes ideários do purismo, provavelmente não sabem que toda a obra de Tolkien, incluindo elfos, hobbits anões, dragões e anéis, advém da milenar mitologia ariana, que nasceu na Pérsia, império dos morenos iranianos. Em sua origem real, o Senho dos Anéis não possui nenhum personagem branco. Mas isso é conversa para um texto futuro. Hoje é dia de comemorar a chegada de mais uma colaboradora do Quadro-negro. Milena Zouza, a @enevoada , é dona de um dos melhores canais do Youtube sobre cultura pop. Com passagem por sites como Omelete, Milena escreve aqui sobre a correção de mundo feita neste novo produto Tolkiniano. Vivemos um mundo ainda violento e inóspito. Mas ele, aos poucos, melhora. E graças a gente como Milena.

Rosto de jovem mulher
A criadora de conteúdo Milena Souza ( @enevoada) estreia no Quadro-Negro - Acervo Pessoal

Uma nova era na Terra-Média - Por Milena Souza – Criadora de Conteúdo Digital

Desde o anúncio da série de "O Senhor dos Anéis - Os Anéis do Poder" produzido pela Amazon Prime, os fãs da Terra-Média, criada pelo escritor J.R.R. Tolkien, ficaram ansiosos para conhecer o elenco de atores que iriam encarnar os personagens que seguiriam as aventuras neste universo.

Já sabíamos que pessoas não-brancas fariam parte dessa nova jornada, mas, assim como a atriz Halle Bailey incomodou a muitos quando foi anunciada como a nova Pequena Sereia, Ismael Cruz Córdova também incomodou quando teve seu visual como o Elfo Arondir revelado.

Mas por que tanto incômodo quando seres que existem apenas no mundo da ficção são representados por pessoas não-brancas?

Essa questão não é levantada apenas no audiovisual. Na literatura, várias histórias que são representadas por pessoas majoritariamente brancas estão ganhando personagens não-brancos, mostrando sua versão da história, cerzindo as histórias pelo viés de conceitos como ancestralidade e pluralidade.

Lendários (Ed. Intrínseca, 2021), de Trancy Deonn, livro figurou por semanas na lista de best-sellers do The New York Times e foi indicado ao Hugo Awards, um dos prêmios mais importantes de fantasia, é um grande exemplo disso: a autora decidiu contar sua versão da Lenda do Rei Arthur. Trazendo ancestralidade através de uma protagonista jovem e negra que viu a história de seu povo ser apagada por conta de um genocídio, Deonn cria um reflexo da realidade que busca embranquecer a sociedade.

A falta de diversidade na cultura pop foi notada por nossa sociedade há pouco tempo. A arte, como um todo, é o reflexo da nossa sociedade. Faz pouco tempo que nos passamos a fazer a pergunta: se o nosso mundo é diverso, porque apenas uma raça é representada em telas?

Acho curioso o fato fãs reclamarem quando mudam a cor da pele de seus personagens favoritos — brancos — de um mundo (a terra-média de Tolkien) que nem existe, mas o mesmo incômodo não é manifestado, por exemplo, quando Cleópatra — uma personalidade que existiu, antiga rainha do Egito — é embranquecida no audiovisual.

Me soa incoerente, mas não me surpreende, já que a diversidade é vista como "mimimi" e "lacração" nos dias atuais - e porque não há o costume de se ver corpos não-brancos na arte como um todo, ainda mais quando não estão em lugares de serventia ou são os primeiros personagens a morrer na trama.
De acordo com a própria produtora executiva da série da Amazon, Lindsey Weber, "Tolkien é para todos. Suas histórias são sobre essas raças ficcionais fazendo seu melhor quando deixam o isolamento das suas próprias culturas e se unem".

Além disso, a revista Vanity Fair já informou que Sophia Nomvete rouba a cena como a Princesa Disa. Então, que venham mais pessoas negras, asiáticas, indígenas e LGBTQIA+ para a construção de um imaginário menos desigual..

Vamos começar uma nova era na Terra-Média.

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