Vamos variar?
Foram anos de colunas escritas com palavras como ódio, sangue e violência.
Hoje, em nome de todas as pessoas pretas, aquelas que sofrem e mais do que qualquer um os efeitos de desgovernos, vai-se aqui exercer um direito de escolha: Escrever palavras que estamos quase esquecendo que existem.
Ingorossis nos ensinaram, dezenas de milênios de anos atrás em África, a força evocativa do que é dito.
Mais até do que é escrito.
Em seguida, nasceram civilizações fora do continente-mãe. Os hindus criaram os mantras.
Os melanesios criaram os tabalias. As Yawanawá, o raminô.
No Japão feudal, a jovem Sei Shônagon escreveu suas listas de coisas que lhe fazem sentir bem.
E até Maria Von Trapp, a Noviça Rebelde, fez sua lista de suas ´Favorite Things´. levada às alturas e ao limite da linguagem por John Coltrane.
Por isso, hoje, aqui, nesse espaço, hoje é dia coisas boas de se ler e se dizer. Uma reza de candoblé com 48 linhas, costuma fazer bem para quem a lê em voz alta.
Vamos lá.
Tudo redistribuído.
Água, beijo, abraço e sono profundo.
Cafuné, tambor, uma sensação boa antes de dormir, uma lembrança boa ao acordar.
Cinema de rua, caldo de cana, dendê, desejo, utopia.
Lavanda, voto válido, foto de quem se quer bem, pé descalço em areia branca.
Garoa morna antes do meio dia. Orvalho em uma gota de de mel.
Orvalho de carvalho morto que a primavera exonera.
Não passar fome. Filhos na escola. Renda distribuída.
Tudo redistribuído.
O estranhamento do leitor.
Novas opiniões.
Novas identidades.
Monocultura alguma. As cotas. Às cotas,
A boca com todos os dentes, dentes brilhando entre lábios, lentes que deixem o presente focado.
Cabelo lavado, aluguel adiantado, a fruta do teu gosto, o gosto da tua escolha.
A sua cor preferida, o seu número preferido, a sua história preferida.
Carinho, ronco baixo e remela.
Café, democracia e canela.
Pudim do que você quiser. O aroma dos muitos tipos de justiças.
Tudo redistribuído.
Você percebendo que sua saúde depende da saúde de tudo o que está em volta.
A independência de um espaço.
A descoberta de uma habilidade desconhecida.
O som de um livro sendo folheado.
Sexo, oxitocina e axé.
Candomblé, camisinha, palavrinhas pouco vistas na independência de espaços assim.
Pele preta, pelo sim e pelo não.
Acordeon, alvorada, pleno emprego, votos em candidatos e candidatas negras.
Cobertor, ventilador, oceano.
Terra, tempero, amanhã.
E amor.
Amor para quem perder ao som do vento soprando a letra D.
Deu, mátria e ilha.
Sol, sombra, e férias em Santa Helena.
Amor para quem vencer ao som do vento em um V que (v)irá para in(v)entar no(v)as pala(v)ras conceito-hifenizados,
V de de vitória-amor;
de vingança-amor
de vemos-amor;
e vamos, estranheza do leitor. Vamos variar?
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