Quadro-negro

Uma lousa para se conhecer e discutir o que pensa e faz a gente preta brasileira

Quadro-negro - Dodô Azevedo
Dodô Azevedo

Dilma Rousseff deveria ser escolhida para passar a faixa a Lula, e não Bolsonaro

A eleição de Luiz Inácio é, antes de tudo, a redenção do golpe de 2016

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Nestes últimos quatro anos, uma das perguntas mais feitas por brasileiros civilizados foi "como chegamos ao Bolsonarismo?".

"Como militantes com garrafas de cerveja podem ultrajar e ameaçar o templo à Nossa Senhora da Aparecida, ameaçando padres e exigindo que sinos parem de tocar?". "Como uma deputada pode correr com uma arma, a céu aberto, atrás de um homem negro, por conta de ofensas políticas"?

Mulher de 50 anos ao lado de homem de 60 anos
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-presidente Dilma Rousseff - REUTERS

A resposta mais razoável uma pessoa preta sabe bem: o Brasil sempre foi assim. O Brasil, para funcionar e provir aos novos colonos, tem que ser assim.

Mas outra resposta, mas historiográfica, mais à mão, e devidamente documentada, é a seguinte: um belo dia, o Brasil teve um governo um pouquinho de esquerda (o PT). Mas o Brasil não toleraria nem sequer um pouquinho de esquerda, pois está em seu DNA não aceitar nem um tantinho de nada canhoto. Mercado, mídia e os três Poderes se articularam para impichar a presidenta da vez.

Não deu certo. Em 2014, Aécio Neves, o candidato designado para vencer Dilma, não logrou êxito.

Subiram o tom.

Soltaram os cachorros loucos.

Os sem vergonha de defender coisas como terraplanismo.

Alguém que, como Fernando Collor de Mello, em 1990, vestisse o capuz do herói solitário contra o sistema.

Costuma dar certo. A Segunda Guerra Mundial começou assim.

Costuma dar errado. Muita gente morreu na Segunda Guerra Mundial.

Genocídios.

A decadência de de um povo.

2016. Um posto de gasolina. Uma fila de carros. Homens dentro de seus carros esperando para abastecerem. O buraco por onde é enfiada a mangueira da bomba de combustível.

No posto de gasolina, um rapaz vendendo adesivos de Dilma Rouseff de pernas abertas, com um buraco em sua vagina, para serem colados em cima do buraco por onde será enfiada a mangueira da bomba de combustível.

Sucesso em vendas.

Esse foi o povo que nos tornamos.

Em 2016.

Neste mesmo ano, muitos dos que compraram este adesivo eram depudatos. E, no plenário, durante a sessão de impeachment da presidenta, gritaram "Pelos bons costumes! Pela família! Por Deus!"

O golpe foi dado ali. O "nós contra eles" foi construído ali. Inclusive por agentes que hoje lutam contra Bolsonaro, arrependidos por terem soltado da coleira o cachorro louco.

Foi interessante ver setores de mídia, que ao inflamarem o antipetismo, criaram o bolsonarismo.

Mas foi. Acabou?

Acabou?

Claro que não acabou. Nada acaba.

O que podemos fazer é aprumar o fio da história.

Corrigir.

O governo Dilma, em muitos aspectos, principalmente como bode expiatório para a construção de um antipetismo, ainda não acabou.

Tudo o que houve de lá para cá –Temer, Bolsonaro–, foram acidentes.

Improvisos de última hora.

Então, chega de improviso. Hora de resgatar e remendar o tecido do que foi vivido.

Bolsonaro deveria entregar a faixa para Dilma, pedir-lhe perdão, sair de cena.

Dilma acenaria para o público na Esplanada.

E, em seguida, passaria a faixa para Luiz Inácio Lula da Silva.

Assim, restaurando o caminho.

Assim.

Restaurando,

E voltando a caminhar.

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