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Quadro-negro - Dodô Azevedo
Dodô Azevedo

Dia Internacional da Mulher: a importância da educação na formação de meninas e mulheres

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Mulher negra posa sentada em escritório.
Nadja Brandão é Diretora Executiva da 'reprograma', iniciativa de impacto social que foca em ensinar programação para mulheres em situação de vulnerabilidade social e econômica (Foto Divulgação) - Divulgação

Por Nadja Brandão - Diretora Executiva da 'Reprograma', iniciativa de impacto social
focada em ensinar programação para mulheres em situação de vulnerabilidade social e econômica

Criado para simbolizar a luta histórica das mulheres por igualdade, o dia 08 de março
precisa ser, necessariamente, uma data para refletirmos sobre os motivos pelos quais seguimos lutando, desde a desigualdade salarial até o machismo e a violência. Como mulher, vivenciei muitos momentos - na vida pessoal e no mercado de trabalho - que me fizeram compreender situações complexas e, por vezes, questionar e buscar soluções. Diante deste histórico pessoal, acredito fortemente que o caminho para uma genuína mudança é a educação. Quando existe investimento na formação de meninas, isso resulta na transformação das vidas de muitas gerações, pois apenas a cidadania é capaz de reduzir a exploração e opressão, além de incluir mulheres nos processos políticos e garantir a emancipação social e econômica.

Um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (Unesco) revelou que cerca de 9 milhões de meninas em idade escolar nunca terão a
chance de frequentar a escola, em comparação com cerca de 3 milhões de meninos. Desse total, mais de 4 milhões vivem na África Subsaariana. Um outro estudo de 2020, feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), revelou que 30% das meninas mais pobres do mundo, entre 10 e 19 anos, nunca frequentaram a escola.

Esse triste cenário revela o que já esperávamos: a educação não é um direito que atinge
todas as pessoas, mas um privilégio, muitas vezes, alcançável apenas para pessoas de
determinado gênero e cor. Essa discrepância entre homens e mulheres que conseguem ter
acesso à educação é proposital - na realidade, um projeto político - já que, historicamente,
meninas e mulheres encontraram diversas barreiras para conseguir estudar e, durante muitos
anos, foram proibidas de frequentar a sala de aula, sendo destinadas apenas ao casamento e à
maternidade.

Apesar de muitas batalhas que vencemos e direitos que conquistamos, não há como
negar que esses problemas do passado ainda assombram o presente. E, quando pensamos em
realidades distintas, como nos países subdesenvolvidos, a situação é ainda mais complicada, já
que pouca coisa mudou em comparação aos anos anteriores.

Existem diversos estudos e pesquisas que confirmam a importância do investimento na
educação de meninas e mulheres, mostrando efeitos significativos em diversas áreas, como
redução da fertilidade, qualidade de vida, produtividade econômica, além da diminuição da
pobreza. A Organização das Nações Unidas (ONU) assumiu metas e compromissos na década de 1990, como assegurar ou garantir o acesso total, igual ao dos homens, mais amplo e o mais cedo possível de meninas e mulheres à educação em todos os níveis (primário, secundário e
superior), assim como à educação profissional e ao treinamento técnico; eliminar todos os
estereótipos de gênero das práticas, matérias, materiais, currículos e instalações educacionais e diminuir as barreiras que impedem o acesso à educação a adolescentes grávidas ou mães
jovens.

Apesar dos esforços feitos no passado, não é difícil perceber que a luta de meninas e
mulheres pelo direito de frequentarem a escola e se educarem persiste. Segundo um relatório
lançado pela Unicef em 2016, meninas de 5 a 14 anos passam 40% mais tempo que meninos na
mesma faixa etária em atividades domésticas não remuneradas e coletando água ou lenha. O
mesmo relatório mostrou ainda que crianças do sexo feminino possuem menos tempo para se
dedicar aos estudos e brincadeiras do que do gênero masculino.

Falando especificamente do Brasil, um levantamento divulgado em 2019, pela Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), mostrou que mulheres que
trabalham dedicam, em média, 18,5 horas para afazeres domésticos e cuidados de pessoas da
família, especialmente os filhos, já os homens empregados dedicam 10,4 horas para essas
atividades. Mesmo com uma dupla ou tripla jornada, e ainda contando com um nível
educacional mais alto, as mulheres ganham, em média, 76,5% menos do que os homens que
exercem funções de níveis equivalentes.

Por mais dura que a realidade se apresente no momento, acredito que essa mudança só
irá acontecer com um investimento e comprometimento coletivo de longo prazo, com
organizações internacionais e políticas públicas de qualidade, garantindo que exista um projeto para garantir o acesso de todas à educação.

Transformar a realidade das meninas e mulheres do mundo inteiro é possível, mas, para
isso, a sociedade inteira precisa estar preparada e envolvida com essa causa.

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