Sobre Trilhos

Viaje ao passado, conheça o presente e imagine o futuro das ferrovias

Descrição de chapéu Interior de São Paulo

Estação histórica que se transformava em favela será revitalizada em Franca

Prédio inaugurado em 1939 terá mercado popular, centro cultural, espaço gastronômico e boulevard

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Vidros quebrados, pichações, acúmulo de lixo e um avançado processo de favelização. Esse era o cenário da principal estação ferroviária de Franca (a 400 km de São Paulo), essencial para o desenvolvimento econômico da cidade paulista e que agora será revitalizada.

A cidade integrava a Linha do Rio Grande da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que partia de Ribeirão Preto e prosseguia até Rifaina, já na divisa com Minas Gerais. Ela passava por cidades como Jardinópolis, Brodowski, Batatais, Restinga, a própria Franca e Pedregulho e foi inaugurada em 1886, com visita de dom Pedro 2º.

Prédio da antiga estação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro de Franca
Prédio da antiga estação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro de Franca - Divulgação/Prefeitura de Franca

A ferrovia chegou a Franca em abril de 1887, mas o prédio atual data de 1939. Com o declínio das ferrovias, notadamente a partir da década de 1950, as estações ferroviárias espalhadas pelo interior paulista foram ganhando outros usos, sendo abandonadas —ou pior, demolidas.

A de Franca, uma das maiores da rota da Mogiana, chegou a ser utilizada como biblioteca e terminal de ônibus urbano, mas, ao mesmo tempo, vivia situação de abandono que culminou com seu estado atual.

Desde 1983 ela não funcionou mais como estação ferroviária. Moradores de rua tomaram conta de suas calçadas de forma gradativa, o que gerou acúmulo de lixo, pichações e danos estruturais num lugar que no passado era usado por passageiros para embarcar nos trens.

Estação ferroviária de Franca, construída em 1939 e que será revitalizada
Estação ferroviária de Franca, construída em 1939 e que será revitalizada - Fernandobrasilien/Wikimedia Commons

Nesta semana, a prefeitura anunciou a autorização para o início da revitalização do prédio, uma obra de R$ 2,96 milhões, num ato que contou com a presença do último chefe da estação Mogiana, José Antônio Bosco.

O local receberá um mercado popular, um centro cultural e um espaço gastronômico temático, de acordo com a prefeitura. O espaço, amplo, ainda deverá ter um boulevard. As obras devem durar 12 meses.

Para isso, as pessoas que ali moravam foram retiradas e encaminhadas aos serviços de assistência social da cidade e uma proteção metálica foi instalada no entorno do prédio.

"Queremos transformar esse prédio num local de cultura, de conhecimento, com a biblioteca, o Centro Cultural Salles Dounner. Um local para compras, onde as pessoas possam resgatar a história da nossa cidade. Para nós, este local tem uma simbologia muito forte", disse o prefeito de Franca, Alexandre Ferreira (MDB), no ato.

Ao todo, a Linha do Rio Grande entre Ribeirão Preto e Franca teve dez estações, algumas já demolidas, que desapareceram com o fim do ciclo cafeeiro e o abandono que tomou conta da maior parte dos trechos ferroviários.

A estação francana fica a 994 m acima do nível do mar, uma elevação de 114 m em relação à estação de Batatais, o que tornava a viagem mais lenta entre as duas cidades.

Com as inúmeras paradas e devido à velocidade do trem, de 28 quilômetros por hora, uma viagem de uma composição entre os dois municípios, distantes 56 quilômetros, era feita em pelo menos duas horas e dois minutos, fora os atrasos.

Pela rodovia Candido Portinari, duplicada, a mesma distância entre as cidades hoje é feita em pouco mais de 28 minutos.

Quando chegou a Franca, a Companhia Mogiana era muito aguardada, já que os trilhos também eram vistos como sinônimos de modernidade. E eram mesmo.

No dia da abertura da ferrovia, 5 de abril de 1887, o jornal Correio Paulistano escreveu: "A data de hoje assinala mais uma conquista da Província de São Paulo na senda do progresso e da civilização. Abre-se hoje ao tráfego mais um trecho da linha férrea da Mogiana, entre a cidade de Batatais e a cidade de Franca do Imperador. À patriótica e laboriosa população francana rasgam-se novos e mais largos horizontes. E a transformação industrial e agrícola por que, necessária e fatalmente, tem de passar aquele importantíssimo município, é o produto do futuro esplêndido a que está fadada aquela remota região. A Franca do Imperador é um dos núcleos mais notáveis da Província de São Paulo e ocupa o lugar proeminente na história da pátria paulista".

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