Sons da Perifa

Sons da Perifa - Jairo Malta
Jairo Malta
Descrição de chapéu

Como o Favela Sounds, no DF, se transformou em um exemplo de acessibilidade

O evento aconteceu de graça em frente ao Eixo Monumental e trabalhou na disseminação da cultura periférica

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Quando se visita Brasília pela primeira vez, a divisão dos setores é a primeira coisa que nos impacta. Todos sabem onde os turistas estão hospedados, onde vão aos restaurantes ou até onde vão pagar suas contas, caso seja necessário.

Construída no governo de Juscelino Kubitschek em 1960, a cidade, em teoria, foi idealizada para ser um lugar de fácil entendimento e circulação. No entanto, não é o caso para quem trabalha e mora nas periferias.

Palco principal do Favela Sounds que levou 30 mil pessoas
Palco principal do Favela Sounds que levou 30 mil pessoas - PC Cavera

A cidade é como uma Dubai, criada no meio do nada para pessoas que não vão morar lá, e, por esse motivo, Brasília tem a maior favela do Brasil: a Sol Nascente. O censo de 2022, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que a Sol Nascente ultrapassou a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, no último ano.

Com essa narrativa e sete anos de estrada, o festival Favela Sounds trabalha na disseminação da cultura periférica tendo o Eixo Monumental como plano de fundo. De 28 de agosto a 2 de setembro, ocorreram atividades formativas e shows gratuitos de artistas de diversos cantos periféricos do país. O evento reuniu um público de 30 mil pessoas, sendo a maioria jovens e negros.

Durante os seis dias de programação, foram apresentados 22 artistas, realizados três debates, quatro oficinas, dez rotas de ônibus de ida e volta das periferias para o evento, além de cinco painéis de discussão no Favela Talks, quatro oficinas Favela Talks e quatro palestras motivacionais no socioeducativo via Favela Talks.

A diversidade de público se refletiu na equipe técnica do evento. Além da acessibilidade total para cadeirantes no festival e nos banheiros, intérpretes de Libras no palco, legendas e descrições de imagens nas postagens, kits de autocateterismo e banheiros adaptados para o procedimento. Também houve distribuição de fraldas e protetores auriculares, além de cardápios em Braille. Não é uma iniciativa que se encontra em qualquer festival.

Vale lembrar que o festival também contou com uma equipe formada por pessoas com deficiência (PCD) e com mais de 50 anos. Iniciativas como essas mostram que a periferia nunca conquista seu espaço sozinha; ela sempre traz o que há de melhor e assume um espírito agregador, sem elitismo e sem divisões, ao contrário da proposta da cidade onde o festival é realizado.

O que torna um festival grandioso? Essa é talvez a principal pergunta que devemos responder neste e no último ano, num cenário onde eventos como esse se multiplicam pelo país, mas ainda com grande apelo comercial principalmente no Sudeste.

São as atrações, a estrutura, a acessibilidade? Ou tudo isso junto? O Favela Sounds surge no meio de eventos anuais como um dos poucos a serem seguidos, mas ainda assim, foge do enredo tradicional dos festivais de São Paulo e, por isso, carece de apoio, mesmo entregando números e experiências tão grandiosas quanto.

Erramos: o texto foi alterado

Na versão anterior, foi informado que a favela Sol Nascente tem 63 anos, quando na verdade é Brasília que possui essa idade.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.