Sons da Perifa

Sons da Perifa - Jairo Malta
Jairo Malta
Descrição de chapéu festa junina Páscoa

Conheça o Boi de Maracanã e seu cortejo centenário em São Luís

Um dos batalhões mais antigos da ilha é presidido por uma mulher negra e preserva a tradição do patrimônio cultural

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Cortejo do Boi de Maracanã

Cortejo do Boi de Maracanã - Emerson Ricardo / Via Instagram/emersonbaixada

São Paulo

Andando pelas ruas da ilha de São Luís do Maranhão, é bem provável que passe alguém cantando a toada: "Maranhão, meu tesouro, meu torrão; Fiz esta toada pra ti, Maranhão." Com esse versos, Humberto de Maracanã eternizou a cultura do bumba meu boi, ressoando a alma do Maranhão em sua toada mais emblemática.

Amanhecer do batizado do Boi de Maracanã durante o São João de 2018
Amanhecer do batizado do Boi de Maracanã durante o São João de 2018 - Ingrid Barros

Quando chega o mês de maio, matracas e pandeirões começam a ecoar na zona rural da Ilha de São Luís, anunciando a chegada do período junino. São os ensaios dos inúmeros grupos de bumba meu boi que movimentam a capital maranhense, preparando-se para a grande festa que atravessa o mês de junho. Nesse momento, os brincantes se reencontram, e a comunidade se une em torno da tradição.

Os festejos de São João são um momento de alegria e devoção para os brincantes dos bois por toda ilha. A preparação é intensa, com a composição de novas toadas e o comando de muitas apresentações. Vale lembrar que em 2019 o bumba meu boi do Maranhão foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

Humberto de Maracanã foi um dos cantantes mais conhecidos do Boi de Maracanã
Humberto de Maracanã foi um dos compositores mais conhecidos do Boi de Maracanã - Instagram/ boidemaracana

Humberto de Maracanã (1939-2015) foi um ícone do bumba meu boi, que iniciou sua trajetória no grupo em 1973 e tornou-se amo em 1981. Sob sua liderança, o Boi de Maracanã, que há mais de 100 anos desfila pelas ruas maranhenses, se consolidou como uma referência cultural, permitindo a participação de mulheres e crianças. Antes de morrer aos 75 anos, Humberto foi reconhecido como "mestre em cultura popular" pelo Ministério da Cultura e recebeu honrarias por sua contribuição.

Hoje, Maria José de Lima Soares, presidenta do barracão e viúva de Humberto, é quem inicia o cortejo como de costume no primeiro encontro do Boi de Maracanã, que ocorre no Domingo de Páscoa. Nessa ocasião, os organizadores se confraternizam e planejam as atividades juninas. São mais de 50 apresentações em arraiais e terreiros de São Luís, além de quatro ensaios oficiais ao ar livre na comunidade, que se estendem até o amanhecer. Esses encontros são essenciais para que cada cantador apresente as novas toadas compostas para a temporada.

Com mais de um século de existência, o Boi de Maracanã reúne cerca de 600 integrantes fantasiados, incluindo percussionistas e brincantes, muitos deles oriundos da comunidade do Maracanã, situada a aproximadamente 25 quilômetros do centro de São Luís. A área é famosa pela exuberância natural e pelas plantações de juçara, o açaí maranhense, e sedia anualmente a Festa da Juçara em outubro.

O Boi de Maracanã segue o sotaque de matraca ou também chamado sotaque da ilha, típico da zona rural de São Luís, onde se destaca pelo uso de matracas e pandeirões, que criam uma massa sonora pesada e envolvente. O tambor-onça e o maracá completam a sonoridade única desse sotaque. Os personagens tradicionais incluem índias, vaqueiros, rapazes, caboclos de pena e o miolo (boi), atraindo multidões durante as apresentações.

Os dias 13 (Santo Antônio), 24 (São João), 29 (São Pedro) e 30 de junho (São Marçal) marcam o calendário oficial dos festejos juninos em São Luís. No dia 23 de junho, ocorre o batizado dos bois, quando recebem a bênção de um padre, novas vestimentas para animar o público e novo bordado para o couro do boi. Diferentemente do restante do Brasil, o dia mais importante em São Luís é 29 de junho, Dia de São Pedro, quando a cidade celebra um feriado municipal.

Durante as festas, o Boi de Maracanã é um dos preferidos dos ludovicenses. O cortejo é admirado tanto pelos intelectuais quanto pelos mais populares, e a disputa sobre quem é o maior fica para os brincantes discutirem. Essa rivalidade saudável é marcada pelas toadas de pique, improvisadas para empolgar a multidão. Essa competição, sempre lúdica e sem violência, é parte essencial do espetáculo.

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