Embora no Brasil muita gente ainda ache que menino veste azul e menina veste rosa, o filme da Barbie não é o primeiro a provocar uma onda cor-de-rosa capaz de arrastar muito machão. Antes dele, quando a Barbie era só uma boneca, os vinhos rosés converteram muito consumidor de vinho tinto encorpado, viraram mania e espalharam-se tanto nas redes sociais quanto em baladas e festas do mundo.
Assim como a Barbie, os vinhos rosés sempre estiveram por aí e, de repente, começaram a fazer um sucesso estrondoso. Apesar de esses vinhos ainda representarem uma parcela de mercado menor que a dos tintos ou dos brancos (em 2022, a participação dos tintos no mercado brasileiro era de 71,3% contra 20,8% de brancos e 7,9% de rosados, segundo a Ideal Consulting), o crescimento é constante e duradouro.
Por mais de uma década, o consumo de vinho rosé vem subindo, salvo pequenas flutuações. A importação de vinhos rosé no Brasil, por exemplo, era de 1 milhão de litros em 2014 e passou para 5 milhões de litros em 2018, segundo a Ideal Consulting. Caiu um pouco durante a pandemia. E voltou a subir, fechando 2022 com mais de 11 milhões de litros importados. Em menos de dez anos, cresceu mais de mil por cento.
Tanto uma onda quanto a outra são cases de marketing muito bem-sucedidos. No caso da Barbie, uma das grandes sacadas foi a enxurrada de produtos licenciados de outras marcas, marcas que por sua vez têm um marketing próprio, marcas que iam muito além do universo infantil. Surgiram de repente coleções de roupas para adultos, de diversos níveis, da Riachuelo à Zara; comidas; chinelos e até taças para vinho e outras bebidas alcoólicas (fora do Brasil) dedicados ao chamado estilo barbiecore. Isso criou um efeito multiplicador da divulgação incrível.
No caso do rosé, depois de amargar a fama de vinho barato, doce e sem muita qualidade, conquistada por rótulos que venderam muito nas décadas de 60 a 80, como o português Mateus Rosé, ele conseguiu reerguer sua imagem apoiado principalmente nos vinhos da região francesa da Provence. Vinhos claros, com aromas de flores e frutas delicadas, um toque de ervas aromáticas e uma acidez equilibrada, esses vinhos conquistaram consumidores do mundo inteiro. Claro, depois de um bom trabalho de marketing que convenceu esses consumidores a experimentá-los. No começo da década passada, a Vins de Provence, associação de produtores da região da Provence, investiu pesado numa mudança de imagem. Houve ações de educação, várias degustações e uma presença forte nas feiras de vinho pelo mundo.
Além disso, soube muito bem aproveitar a proximidade e intersecção de algumas partes da área delimitada com a Cotê d’Azur, um dos destinos preferidos dos endinheirados do mundo todo. Fez uma série de ações em destinos como Saint Tropez: baldes e baldes de gelo lotados de rosés da Provence foram espalhados pelas baladas da região. As redes sociais, que haviam acabado de nascer, ajudaram bastante na disseminação da ideia de que o rosé era um vinho chique.
Aí é que entra o segundo ponto em comum com Barbie, o filme. Ambos foram compartilhados e abraçados pelo público porque bateram em um mesmo ponto do inconsciente coletivo: o sonho de uma vida glamourosa, cercada de objetos raros. Refletiram anseios das pessoas comuns que espontaneamente passaram a compartilhar conteúdos relacionados à boneca e ao vinho. E, quando a onda começa, todo mundo quer surfar nela.
Na onda do vinho cor-se-rosa, entraram Brad Pitt e Angelina Jolie, que agora estão se engalfinhando por causa do seu Château Miraval (Mistral, R$ 425,05) ; Cameron Diaz e seu Avaline Rosé; Jon Bon Jovi e seu filho Jesse, que preferiram produzir seu Hampton Water (World Wine, R$ 262,00) no Languedoc, outra região francesa e Drew Barrymore com o seu Barrymore by Carmel Road Rosé of Pinot Noir, produzido na Califórnia.
Entraram também vinícolas do mundo todo que passaram a reproduzir o estilo rosa pálido da Provence. Alguns com mais, outros com menos sucesso. A maioria igual apenas na cor. E todos cresceram, já que os vinhos da Provence não são baratos e outros entraram numa faixa muito mais amigável para o consumidor comum.
Por enquanto ainda não vi nenhum vinho rosé dedicado à Barbie, mas não me admiraria se as forças rosadas decidissem se unir e ignorar de vez o fato de que a Barbie é um brinquedo, feita para crianças.
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