Finalmente saiu um beijo (beijo mesmo) entre dois personagens gays da novela "Terra e Paixão", no ar na faixa das nove, na TV Globo.
Os jornalistas especializados em televisão e o público mais atento à trama nas redes sociais apontavam um esgotamento da dinâmica de Ramiro e Kelvin, que já não tinha para onde ir, faltava um beijo.
A novela tem outro casal LGBT+, formado por Mara e Menah. Renata Gaspar, intérprete de Mara, foi às redes sociais no fim de novembro lamentar que não haveria um desfecho de casal para as personagens.
Há poucos dias, o Notícias da TV afirmou que a cena de amor entre Mara e Menah fora gravada. Ambas as cenas, segundo o site especializado, foram gravadas de modo reservado. Apenas a equipe diretamente envolvida na gravação teve acesso aos roteiros.
Walcyr Carrasco, o autor, por meio da assessoria da TV Globo disse que não houve nenhum pedido da emissora para não desenvolver cenas entre casais homoafetivos e reafirmou que tem total liberdade para escrever.
São detalhes e discussões demais para o que deveria ser simples em uma novela, mas totalmente compreensíveis diante de um público que tem se tornado cada vez mais conservador e hipócrita. Novela é um produto de mídia, custoso, que depende de audiência, e na maior emissora da América Latina tudo fica ainda mais delicado. Mas estamos no Brasil. E assistindo a histórias brasileiras.
Dia desses, uma amiga que navegava pelo site colaborativo Family Search, que ajuda o usuário a construir sua árvore genealógica por meio de documentos e informações, me disse surpresa que seu tataravô era padre e que não assumiu os filhos no papel. É um roteiro pronto.
A novela brasileira é cheia de exemplos de histórias não tradicionais, porque a vida brasileira é cheia de histórias não tradicionais. Mocinhas que fogem de casamentos arranjados, como na trama de Jade e Lucas, em "O Clone", filha que namora o ex-namorado da mãe, como no enredo de Camila, Helena e Edu, em "Laços de Família", e há ainda o caso da Helena de "Por Amor", que cria seu filho como neto para não desapontar Eduarda, sua filha mais velha que perdeu a criança que gestou.
A provocação aqui vai para o público chamado de conservador que supostamente desligaria a televisão e não mais sintonizaria na novela: que tipo de histórias de amor os interessaria? As tramas que eles querem não existem na ficção. Nem na vida real.
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