Massacre. Matança. Tiroteio.
Por sorte, nem sempre a vida de um policial se resume a esses eventos.
O capitão Morretes acendia um cigarro.
--Maravilha. Dessa vez, vai.
Ele mesmo não conseguia acreditar.
--Mas do jeito que está...
Morretes respirou fundo.
--Termina em casamento.
Sim. Aos 38 anos, o oficial descobria sua primeira paixão.
--A Gilvanka. Nunca senti coisa igual.
Flor rara na paisagem suburbana.
Olhos verdes. Sorriso feiticeiro. Cabelos tipo samambaia.
--E recatada. Do lar.
Morretes sonhava.
--Tiro uma licença aqui na polícia...
A manhã se desdobrava em sol na baía da Guanabara.
--Fico um tempo sem matar bandido...
Um sítio? Um hobby? Um filho?
--Já dei minha contribuição à sociedade.
Mais de trinta fuzilamentos em diversas operações.
Morretes pegou o celular.
--Será que ela já acordou?
Não havia resposta.
--Nem no whatsapp, pô.
Ele ficando impaciente.
--Nunca me fez esperar tanto.
Mais de duas horas se passaram.
--Vadia. Vagabunda. Prostituta.
A decisão foi rápida.
--Vou com a viatura até a casa dela.
Infelizmente, a vizinhança já estava cercada.
Era no Complexo do Alemão.
Uma investida policial resultara em quase vinte mortos.
--Cadê os cadáveres?
Não foi preciso procurar muito.
O delicado pé direito de Gilvanka escapava de um lençol.
A tatuagem tinha o valor de um comovido adeus.
--"Morretes. Para sempre".
O exame balístico provou que o tiro vinha de uma arma policial.
Morretes vê o caso sem sentimentalismo.
--Defendo a corporação acima de tudo.
Sobre Gilvanka, seu julgamento não é o mesmo de antes.
--Vai ver que era vagabunda mesmo.
O amor, por vezes, conquista as mais duras almas.
Mas quem é do time da caveira nunca fica de folga.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.