Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

Voltaire de Souza - Voltaire de Souza
Voltaire de Souza

Preparando o golaço

Em dificuldade financeira, algumas redes de rádio e TV precisam de mais ousadia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Gastos. Despesas. Patrocínios.

A reunião era tensa na sede da emissora.

O diretor-executivo Clóvis Samburá deu um longo suspiro.

—É a questão financeira, amigos. Prejuízo cumulativo.

Clóvis tirou um papel A-4 da pasta de couro Montblanc.

—Vamos fazer mais uma lista de demissões.

O assessor político Rudy Canellas se inquietou.

—Eu também vou dessa vez?

—Pelo contrário, querido. Precisamos de você mais do que nunca.

Listas de demitidos podem ter graves consequências políticas.

—Vai que acusam a gente de esquerdismo...

—De abandonar nossos princípios...

—De trair o Bolsonaro.

Clóvis tomou um gole de café.

—Então, Rudy, esses aqui a gente demite já na segunda.

—Bebel Robertini? Vítor Barroso? Nerivaldo Palhinha?

—O que você acha?

A experiência de Rudy com o troca-troca de Brasília foi útil nessa hora.

—O importante não é quem sai. É quem entra.

Rudy fez uma pausa.

—Precisamos de nomes representativos. Experientes.

—E que não custem tanto no nosso orçamento.

—O Onyx Lorenzoni. Perdeu lá no Sul. Mas pode falar de homossexualismo e família.

Clóvis foi anotando.

—Brilhante. Quem mais?

—O Weintraub. O Ricardo Salles.

—E o Pazuello? Ou aquele astronauta? Quem sabe no comentário esportivo...

—Mas eles foram eleitos, Clóvis.

—Ah, é? Então quem?

Rudy fechou os olhos. E teve uma ideia súbita.

—Esquece a questão do esporte, Clóvis. Aí até eu faço.

—Bom, se é para chutar... haha.

—Nessa toada, economia eu dou conta também... haha.

Rudy fez uma pausa. Nervosa. Ansiosa. Receosa.

—Tive uma ideia para o âncora, Clóvis. Para apresentador principal.

Era uma iniciativa ousada.

—Quem?

—O Bolsonaro, pô. Prática ele tem.

—E pode combater as fake news.

—E não tem papas na língua.

—Será que ele aceita um salário, digamos, mais ou menos, por volta, assim...

—Ô Clóvis. Não viu que ele está lutando por uma aposentadoria?

--De quanto?

—Uns trinta mil.

—Pô, isso eu encaro numa boa.

—Pensa no patrocínio.

—Havan. Centauro. Aquela churrascaria...

—Tomara que ele tope.

—Primeiro, ele tem de se acostumar um pouco. Mas aí...

—É bola no gol, Clóvis.

Algumas redes de TV tentam inovar.

Mas o principal é nunca entrar no vermelho.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.