Manifestações políticas de cientistas podem arrefecer

Organizadora da Marcha pela Ciência diz que contexto negativo pode 'cansar' movimento

Austin

No ano passado, a Marcha pela Ciência levou milhares de cientistas e apoiadores às ruas de diversas cidades do mundo. Em 2018, há risco de o movimento começar a diminuir. "As pessoas ficam desgastadas", diz à Folha Caroline Weinberg, uma das criadoras do ato.

A marcha tomou corpo simultaneamente à ascensão de Donald  Trump à Casa Branca. As ações do republicano, que em muitas ocasiões desprestigiou o conhecimento científico e os próprios cientistas, deram combustível ao movimento.

Além dos protestos espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil, algumas manifestações espontâneas surgiram em 2017.

Durante a reunião do AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência) do último ano, em Boston, pesquisadores lotaram totalmente uma sala do evento para discutir a situação da ciência frente à nova administração, recém-empossada. Os cientistas no local chegaram a liderar uma grande manifestação no centro da cidade.

Neste ano, cartazes coloridos convidavam pessoas a discutir o ativismo científico. A sala não ficou vazia, mas não houve superlotação ou pessoas de pé nos corredores.

Os pesquisadores que guiavam a discussão tentavam convencer os presentes de que era necessário, como cientistas, posicionar-se politicamente.

"Os cientistas são treinados para ficar fora da política", lamenta Weinberg. "Porque, se você mostrar no que acredita, então as pessoas iriam pensar que você não é objetivo."

Além dessa "falta de jeito" para política, muitas vezes pode haver um desgaste com a luta por atenção ao tema. Segundo Weinberg, outros acontecimentos e o contexto negativos disputam a atenção e redefinem o que é a normalidade.

"As pessoas ficam cansadas. Há tanto sobre o que se aborrecer. Como você escolhe?", diz a organizadora da Marcha pela Ciência nos EUA.

Mesmo preocupada com o destino do movimento, Weinberg afirma que os cientistas estão começando a perceber que não podem se omitir da discussão política.

"Se a discussão voltar a ser o que era antes do Trump, algo [indicações negativas contra a ciência] menos explícito, é possível que as manifestações diminuam. Mas é nosso trabalho não deixar isso acontecer."

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