Análise de DNA ajuda a devolver ossos em museus para aborígenes

Cientistas e povos tradicionais da Austrália se unem para traçar origem de restos espalhados pelo mundo

Willandra Lakes Region - World Heritage Site; Genomic analyses can reveal the geographic origins of indigenous Aboriginal Australian remains currently held in museums, a new study reports
Região dos lagos Willandra, na Austrália, lar de muitas comunidades de aborígenes - Sherene Lambert
Carl Zimmer
Nova York | The New York Times

Nos anos 1800, milhares de aborígenes australianos foram vítimas de uma violação em nome da ciência. Anatomistas abriram seus túmulos e roubaram os esqueletos. Policiais venderam pedaços de seus corpos para museus. Hoje, muitos desses ossos estão longe de casa.

“Os restos do nosso povo foram roubados desse país, e hoje estão em Londres, na Alemanha, na Suécia, na Suíça, até na América”, disse Gudju Gudju Fourmile, ancião dos povos Yidniji de Gimuy Walubara no norte da Austrália.

Há décadas, aborígenes australianos pressionam pelo retorno dos ossos.“Os espíritos não descansarão até que eles estejam de volta ao nosso país”, disse Fourmile.

Recentemente, museus têm tentado colaborar, mas o progresso é lento, em parte porque as instituições têm pouca informação sobre a origem de muitos desses ossos. Os ancestrais dos atuais aborígenes australianos chegaram ao continente pelo menos 50 mil anos atrás e se dividiram em 300 grupos. Como fazero‘match’ entre os ossos e os grupos?

Nesta quarta (19),cientistas ofereceram uma possível solução. Em um estudo publicado na Science Advances, uma equipe de geneticistas mostrou que é possível usar fragmentos de DNA obtidos de ossos ou cabelos para determinar a origem dos restos morais.

O novo estudo começou com um pedido comum. Em 2013, ossos humanos de 3.400 anos foram descobertos em uma duna no nordeste da Austrália, lar dos Thaynakwith.

Representantes da comunidade aborígene contataram os geneticistas para perguntar se eles analisariam o DNA dos ossos. “Eles disseram ‘Nós realmente queremos saber se se trata de um de nós’”, disse David Lambert, cientista da Universidade Griffith.

A pergunta provocou uma reviravolta na difícil relação entre pesquisadores e aborígenes australianos, que se mostram relutantes em participar de estudos por causa de uma história de exploração Análise de DNA ajuda a devolver ossos em museus para aborígenes Cientistas e povos tradicionais da Austrália se unem para traçar origem de restos espalhados pelo mundo Região dos lagos Willandra, na Austrália, lar de muitas comunidades de aborígenes Credit Credit Sherene Lambert científica. Mas pesquisadores como Lamberttêm se encontrado com líderes comunitários como Fourmile para explicar o que a pesquisa genética pode fazer. Uma série de estudos genômicos de centenas de aborígenes revelou pistas de sua história, incluindo evidências de que seus ancestrais chegaram num grupo único e depois se espalharam.

Joanne Wright, geneticista na universidade, viajou para se encontrar como povo Thaynakwith e coletou amostras de saliva para análise de DNA. Ela também voltou com uma amostra de um esqueleto recém-descoberto.

Depois de dois anos, ela falhou na análise: o clima quente destruiu o DNA do esqueleto. Mas um dos anciãos dos Thaynakwith, Tapij Wales, perguntou se ela não poderia usar o DNA para repatriar outros restos aborígenes que estão em museus pelo mundo.

Grupos de aborígenes começaram, um a um, a pedir para os cientistas analisaremos restos humanos que tinham. A equipe começou, então, a recuperar uma boa quantidade de DNA dos restos de dez aborígenes —o mais velho viveu no século 5 a.C.

Os cientistas compararam esse material genético como de pessoas nas regiões onde os ossos foram achados. Em cada caso, os ossos tinham mais ligações com as pessoas que ainda vivem por perto.

Os resultados sugerem que nos séculos anteriores à colonização europeia, os aborígenes não se mudaram muito. O DNA dos aborígenes vivos, portanto, pode ser usado para identificar os ossos nos museus.

The tooth of Kaakutja; Genomic analyses can reveal the geographic origins of indigenous Aboriginal Australian remains currently held in museums, a new study reports.
Dente de Kaakutja, antigo homem aborígene australiano - Dr. Joanne Wright

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.