Descrição de chapéu The New York Times

Asteroide misterioso que orbita a Terra pode ser pedaço perdido da Lua

Origem da rocha Kamo'oalewa, de 50 metros de comprimento, é apontada em novo estudo

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Robin George Andrews
The New York Times

O espaço é vasto e maravilhoso. É perfeitamente compreensível, portanto, que uma pequena rocha decida acompanhar a Terra e a Lua em sua circunavegação anual do Sol.

Essa rocha, com 50 metros de comprimento, foi descoberta em 2016 pelo telescópio caçador de asteroides Pan-STARRS 1, no Havaí (EUA). O nome havaiano dessa entidade excêntrica, (469219) Kamo'oalewa, significa "objeto celeste balouçante".

Enquanto dá voltas repetidas na Terra, esse corpo tímido nunca se aproxima mais que 14 milhões de quilômetros, o que é 38 vezes mais distante do que a Lua. Ele chega a 40 milhões de quilômetros de distância antes de retornar para um encontro mais próximo.

Nova foto divulgada pea tripulação da Inspiration4, missão da empresa de Elon Musk, ficou 3 dias girando ao redor do planeta em setembro passado.
Planeta Terra - Inspiration4/Divulgação

Cálculos dessa valsa orbital indicam que ele começou a seguir nosso planeta de maneira relativamente estável há cerca de um século, e continuará suas piruetas em volta da Terra durante vários séculos ainda.

Mas de onde veio o Kamo'oalewa? É difícil estudar o objeto com telescópios por causa de suas dimensões reduzidas e sua tendência a se esconder nas sombras.

Mas em um trabalho publicado na quinta-feira (11) em "Communications Earth & Environment", uma equipe de cientistas relatou que pode ter solucionado o mistério. Ao observar o Kamo'oalewa durante breves momentos quando ele estava iluminado pelo Sol, os astrônomos descobriram que ele parece feito do mesmo tipo de matéria magmática congelada encontrada na superfície lunar.

"Minha primeira reação às observações em 2019 foi que eu provavelmente tinha cometido um erro", disse Benjamin Sharkey, estudante de pós-graduação na Universidade do Arizona e principal autor do estudo.

Esperava-se que o Kamo'oalewa fosse composto dos minerais geralmente encontrados em asteroides. Mas novas observações nesta primavera deixaram claro que "os dados não se importam com o que pensamos", disse Sharkey. O Kamo'oalewa realmente se parece com uma versão muito pequena da Lua. Ao fazer essa descoberta, disse ele, "fiquei ao mesmo tempo entusiasmado e confuso".

Com base em sua órbita e composição, o Kamo'oalewa pode ser um fragmento da Lua, arrancado pelo impacto de um meteoro no passado.

O Kamo'oalewa pode parecer uma Lua em miniatura, mas não é. Diferentemente da Lua, que está ligada gravitacionalmente à Terra, o Kamo'oalewa está ligado por gravidade ao Sol. Se de repente a Terra desaparecesse, o Kamo'oalewa continuaria sua órbita em torno de nossa estrela. É o que se conhece como quase-satélite. Os astrônomos conhecem quatro outros nas proximidades da Terra, mas o Kamo'oalewa tem a órbita mais estável.

Em abril de 2017, o Kamo'oalewa estava bem iluminado quando a Terra ficou entre o quase-satélite e o Sol. Os astrônomos o observaram com dois telescópios no Arizona —o Grande Telescópio Binocular e o Telescópio Lowell Discovery— e usaram a luz refletida para identificar seus minerais.

Viram muitos silicatos, minerais encontrados em corpos rochosos por todo o sistema solar, e observações posteriores confirmaram que os silicatos do Kamo'oalewa se parecem muito com os encontrados na Lua.

Pode ser uma coincidência, e por isso os autores do estudo sugeriram outras possíveis histórias de sua origem: o Kamo'oalewa pode ser um asteroide capturado com composição semelhante à da Lua, ou o fragmento de um asteroide destruído pela atração gravitacional do sistema Terra-Lua.

Os dados da equipe, entretanto, "dão mais apoio à origem lunar", disse Hannah Sargeant, cientista planetária na Universidade Central da Flórida, que não participou do estudo.

Esse quase-satélite pode não estar sozinho: as órbitas de três outros objetos próximos da Terra são parecidas o suficiente com a do Kamo'oalewa para sugerir que podem ter vindo todos do mesmo evento cataclísmico. Mas atualmente "ainda não há evidência suficiente para afirmar com confiança como esses objetos se originaram", disse Sargeant.

"A única maneira de ter certeza é enviar uma espaçonave até esse pequeno corpo", disse Paul Byrne, cientista planetário na Universidade de Washington em St. Louis, que não participou do estudo. No caso, a agência espacial da China pretende pousar nele e coletar amostras e retornar à Terra mais adiante nesta década.

"Até então, ficamos com a possibilidade de que, em nossa jornada pelo espaço, sejamos acompanhados pelos restos de uma colisão que deixou um buraco na Lua", disse Byrne. "E isso é muito bacana."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.

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