Planeta gigante parecido com Júpiter é observado ainda 'no útero'

Exoplaneta faz parte de um sistema solar ainda em formação a 508 anos-luz da Terra

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Will Dunham
Washington | Reuters

Cientistas observaram um planeta enorme, com cerca de nove vezes a massa de Júpiter, em um estágio de formação notavelmente precoce —descrevendo-o como ainda "no útero"—, em uma descoberta que desafia a compreensão atual da formação planetária.

Os pesquisadores usaram o Telescópio Subaru, localizado perto do cume de um vulcão inativo no Havaí, e o Telescópio Espacial Hubble, em órbita da Terra, para detectar e estudar o planeta, um gigante gasoso que orbita extraordinariamente longe de sua jovem estrela hospedeira. Gigantes gasosos são planetas, como os maiores do nosso sistema solar, Júpiter e Saturno, compostos principalmente de hidrogênio e hélio, com gases que giram em torno de um núcleo sólido menor.

"Achamos que ainda está muito no início de seu processo de 'nascimento'", disse o astrofísico Thayne Currie, do Telescópio Subaru e do Centro de Pesquisa Nasa-Ames, principal autor do estudo publicado na segunda-feira (4) na revista Nature Astronomy.

Representação artística do novo exoplaneta AB Aurigae b, encontrado pelo Telescópio Espacial Hubble e pelo Telescópio Subaru
Representação artística do novo exoplaneta AB Aurigae b, encontrado pelo Telescópio Espacial Hubble e pelo Telescópio Subaru - Joseph Olmsted (STScI)/Handout via Reuters

"As evidências sugerem que este é o primeiro estágio de formação de um gigante gasoso já observado."
Ele está embutido em um disco expansivo de gás e poeira, carregando o material que forma planetas, envolvendo uma estrela chamada AB Aurigae localizada a 508 anos-luz —a distância que a luz percorre em um ano, 9,46 trilhões de quilômetros— da Terra. Essa estrela teve um momento fugaz de fama quando sua imagem apareceu em uma cena do filme "Não Olhe para Cima".

Cerca de 5.000 planetas além do nosso sistema solar, ou exoplanetas, foram identificados. Este, chamado AB Aur b, está entre os maiores. Ele se aproxima do tamanho máximo para ser classificado como planeta em vez de uma anã marrom, corpo intermediário entre planeta e estrela. É aquecido por gás e poeira que caem nele.

Planetas em processo de formação —chamados protoplanetas— foram observados em torno de apenas uma outra estrela.

Quase todos os exoplanetas conhecidos têm órbitas em torno de suas estrelas dentro da distância que separa nosso Sol e seu planeta mais distante, Netuno. Mas esse planeta orbita três vezes mais longe que Netuno do Sol e 93 vezes a distância da Terra ao Sol.

Seu nascimento parece seguir um processo diferente do modelo padrão de formação planetária.

"O pensamento convencional é que a maioria —se não todos— os planetas se formam pelo lento acréscimo de sólidos em um núcleo rochoso, e que os gigantes gasosos passam por essa fase antes que o núcleo sólido esteja maciço o suficiente para começar a acumular gás", disse o astrônomo e coautor do estudo, Olivier Guyon, do Telescópio Subaru e da Universidade do Arizona.

Neste cenário, os protoplanetas embutidos no disco ao redor de uma estrela jovem crescem gradualmente de poeira para objetos sólidos do tamanho de pedregulhos e, se esse núcleo atingir várias vezes a massa da Terra, então começam a acumular gás do disco.

"Esse processo não pode formar planetas gigantes a uma grande distância orbital, então essa descoberta desafia nossa compreensão da formação de planetas", disse Guyon.

Em vez disso, os pesquisadores acreditam que AB Aur b está se formando em um cenário em que o disco ao redor da estrela esfria e a gravidade faz com que ele se fragmente em um ou mais aglomerados maciços que se formam em planetas.

"Há mais de uma maneira de cozinhar um ovo", disse Currie. "E aparentemente pode haver mais de uma maneira de formar um planeta semelhante a Júpiter."

A estrela AB Aurigae é cerca de 2,4 vezes mais maciça que o nosso Sol e quase 60 vezes mais brilhante. Tem cerca de 2 milhões de anos —uma criança pelos padrões estelares—, em comparação com cerca de 4,5 bilhões de anos para o nosso Sol de meia-idade. O Sol no início de sua vida também foi cercado por um disco que deu origem à Terra e aos outros planetas.

"Novas observações astronômicas desafiam continuamente nossas teorias atuais, melhorando nossa compreensão do universo", disse Guyon. "A formação do planeta é muito complexa e confusa, com muitas surpresas ainda pela frente."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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