Roedores primitivos eram menores do que pensávamos

Inicialmente comparados a um bisão, roedores pré-históricos tinham tamanho mais próximo de um pônei, aponta novo estudo

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Jack Tamisiea
The New York Times

Os roedores modernos variam, em tamanho, de camundongos pigmeus pesando menos de 30 gramas a fortes capivaras que carregam 80 quilos. Mas até a maior capivara é uma pulga comparada com alguns roedores pré-históricos que pareciam o cruzamento de uma capivara gigante com um hipopótamo peludo. Os paleontólogos avaliam que um deles, o Phoberomys pattersoni, podia pesar até 600 quilos. Acredita-se que outro, o Josephoartigasia monesi, pesava cerca de 900 quilos, tão grande quanto um bisão.

Mas essas previsões de tamanho há muito provocam debates. "Algumas pessoas disseram que são do tamanho de um bisão, mas ninguém tinha métodos que pudessem determinar com segurança esses tamanhos", disse Russell Engelman, paleontólogo que faz doutorado na Universidade Case Western Reserve, em Cleveland.

Engelman então propôs um novo método para descrever com precisão as dimensões desses roedores de tamanho incomum. Em um estudo publicado na revista Royal Society Open Science, ele reduziu a escala dos animais ao comparar uma articulação da parte posterior dos crânios de Phoberomys, Josephoartigasia e outros roedores pré-históricos com as de grandes mamíferos modernos, em vez de seus parentes minúsculos.

Mesmo uma capivara atual é menor do que os roedores primitivos; mas o tamanho dos animais pré-históricos está sendo revisado - Agustin Marcarian - 30.ago.2021/Reuters

Entre 2 milhões e 8 milhões de anos atrás, roedores gigantes como Phoberomys e Josephoartigasia habitavam os pântanos da América do Sul. De acordo com Ernesto Blanco, paleontólogo da Universidade da República, no Uruguai, que descobriu o crânio do Josephoartigasia em 2008, esses roedores gigantes tinham uma mordida poderosa capaz de gerar três vezes mais força do que uma mordida de tigre moderno, potencialmente protegendo-os de predadores como aves do terror (Phorusrhacidae) e marsupiais dente-de-sabre.

Muito da nossa compreensão desses roedores está ligado a seu tamanho.

"O tamanho do corpo é uma característica chave nos mamíferos, porque tudo o que você não pode medir fisicamente no fóssil, como ecologia e fisiologia, está correlacionado com o tamanho do corpo", disse Virginie Millien, zoóloga na Universidade McGill, em Montreal (Canadá), que estuda o tamanho do corpo de roedores e não participou do novo estudo. Em 2010, Millien usou fêmures fossilizados para calcular que o Phoberomys era do tamanho de um grande antílope.

O dimensionamento preciso desses roedores gigantescos se mostrou difícil. Uma das razões é a falta de fósseis. Enquanto os paleontólogos desenterraram ossos da perna e outros pedaços do esqueleto de Phoberomys, o Josephoartigasia é conhecido por um único crânio. Sem evidências fósseis, os pesquisadores geralmente se baseiam na anatomia dos parentes vivos mais próximos de um animal extinto.

No entanto, traços como o crânio prolongado do Josephoartigasia e os fêmures volumosos de Phoberomys não são encontrados em roedores vivos. Assim, simplesmente aumentar o tamanho de uma capivara não fornece estimativas anatômicas precisas e pode produzir tamanhos distorcidos.

Então Engelman se voltou para o côndilo occipital, articulação que ajuda a conectar o crânio de um animal à sua coluna. O tamanho dessa articulação, que garante que o crânio e a coluna permaneçam firmemente presos, varia pouco entre todos os mamíferos, tornando-se um guia para comparar espécies. "Geralmente, os paleontólogos procuram traços que são diferentes entre os animais", disse Engelman, "mas quando você examina o tamanho do corpo quer ident ificar as partes que mudaram menos".

Recentemente, Engelman mediu a largura da articulação em mais de 400 espécies de mamíferos, incluindo camundongos e elefantes africanos. Ele descobriu que a largura do côndilo occipital dava uma estimativa precisa das dimensões do animal. Como a largura dessas articulações era semelhante em mamíferos de um tamanho específico, ele pôde comparar o tamanho das articulações dos roedores pré-históricos com o de outros grandes mamíferos sem precisar extrapolar.

Isso deixou Engelman com tamanhos drasticamente reduzidos: o Phoberomys atingiu menos de 204 quilos, e o Josephoartigasia pesava cerca de 450 kg —muito mais próximo do tamanho de um pônei do que de um bisão. "Se eu fizesse todas as suposições razoáveis para aumentar as massas, ainda assim não conseguiria torná-las tão grandes quanto as pessoas diziam", afirmou Engelman. "Mesmo suposições irracionais não poderiam torná-las tão grandes."

Engelman também diz acreditar que essa diminuição do porte físico pode promover o cérebro desses roedores, que são ínfimos para o tamanho percebido. "Eles têm cérebros pequenos, mas talvez não sejam tão ridiculamente pequenos como as pessoas acreditavam", disse ele.

Blanco acredita que esses números são mais realistas do que as estimativas anteriores desses roedores que pesam uma tonelada. Mas ele acredita que há necessidade de mais evidências fósseis para se ter certeza do tamanho dos maiores roedores. "Mesmo com esse método excelente, teremos incertezas significativas até que tenhamos mais do que um crânio", disse ele.

Embora as novas descobertas sejam menos surpreendentes do que as estimativas anteriores, Millien disse que 450 quilos "ainda é um rato muito grande".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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