Sonda caçadora de rochas da Nasa revela geologia surpreendente em cratera de Marte

As amostras colhidas são ígneas e apresentam evidências de alteração por exposição à água

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Will Dunham
Washington | Reuters

Amostras perfuradas pela sonda Perseverance da Nasa na superfície de Marte estão revelando a geologia de uma cratera que os cientistas suspeitam que pode ter abrigado vida microbiana há bilhões de anos, incluindo surpresas sobre a natureza da rocha ali presente.

As amostras, obtidas pelo robô de seis rodas do tamanho de um carro e armazenadas para transporte futuro à Terra para mais estudos, mostraram que rochas de quatro locais no interior da cratera de Jezero são ígneas —formadas por resfriamento do material fundido. As rochas também apresentam evidências de alteração por exposição à água, outro sinal de que o frio e árido planeta Marte foi quente e úmido muito tempo atrás.

Os cientistas tinham pensado que a rocha, formada aproximadamente 3,5 bilhões de anos atrás, pudesse ser sedimentar, formada como lama e areia depositada no leito de um lago.

Sonda Perseverance é fotografado no solo da cratera marciana de Jezero, onde está colhendo amostras de rochas
Sonda Perseverance é fotografado no solo da cratera marciana de Jezero, onde está colhendo amostras de rochas - Nasa/JPL-Caltech/via Reuters

"Na verdade, não encontramos evidências de rochas sedimentares onde a sonda explorou o solo da cratera, apesar do fato de sabermos que a cratera já abrigou um lago onde os sedimentos devem ter sido depositados. Esses depósitos sedimentares devem ter erodido", disse o geoquímico da Caltech Kenneth Farley, principal autor de um de quatro estudos publicados nas revistas Science e Science Advances que descrevem a geologia da cratera.

A Perseverance chegou a Marte em fevereiro de 2021 e esteve trabalhando ativamente na cratera de Jezero desde então, usando um conjunto de instrumentos, enquanto os cientistas investigam se o planeta vizinho mais próximo da Terra um dia teve condições propícias à vida.

Ela está coletando amostras de rochas, do tamanho de giz de quadro-negro, em pequenos tubos a serem recuperados por uma nave espacial em 2033 e trazidos para a Terra para um exame mais aprofundado, incluindo de bioassinaturas —indicadores de vida.

A cratera de Jezero tem 45 km de largura e se localiza ao norte do equador marciano. Parece que a área já teve água abundante e abrigou um delta de rio, com canais fluviais derramando-se sobre a parede da cratera para formar um grande lago. Cientistas suspeitam que a cratera poderia ter abrigado vida microbiana, com evidências talvez contidas no leito do lago ou nas rochas das margens.

A Perseverance está agora coletando amostras na área do delta.

Descobriu-se que as rochas ígneas da cratera interagiram com a água, produzindo novos minerais e depositando sais, embora essa água aparentemente fosse pouco abundante ou não estivesse presente por muito tempo —provavelmente, águas subterrâneas. Mas a presença da água sugere que este pode ter sido um ambiente habitável na época, disseram os pesquisadores.

"Coletamos amostras que serão devolvidas à Terra, que devem fornecer evidências críticas de que tipos de organismos, se houve, habitaram as rochas no fundo da cratera Jezero quando eles interagiam com a água", disse Yang Liu, cientista de amostras planetárias do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa e principal autor de um dos estudos.

As quatro amostras foram obtidas por perfuração em duas áreas, uma chamada Seitah e a outra, Maaz. A rocha de Seitah parece ter-se formado no subsolo pelo resfriamento lento de uma espessa camada de magma. As rochas de Maaz podem ter esfriado relativamente mais rápido em uma camada superior de magma subterrâneo ou após uma erupção vulcânica na superfície. De qualquer forma, qualquer camada de rocha que cobria essas áreas desde então foi erodida, seja pela água ou pelo vento.

Liu disse que as amostras de Seitah eram uma rocha ígnea de granulação grossa contendo o mineral olivina, observando que três meteoritos marcianos encontrados na Terra têm composição semelhante.

O exame das amostras na Terra poderá revelar quando a rocha foi formada e dar uma resposta mais firme sobre quando existiu água na superfície marciana. A água líquida é um ingrediente chave da vida.

"Compreender quando e por quanto tempo o clima em Marte permitiu a estabilidade da água líquida é de importância central para as questões maiores que estamos tentando abordar com esta missão e as amostras colhidas —sobre se e quando pode ter existido vida em Marte bilhões de anos atrás", disse o geoquímico e coautor do estudo David Shuster, da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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