Descrição de chapéu The New York Times genética

Sua cópia está lá fora e você provavelmente compartilha o DNA com ela

Essa pessoa muito parecida com você não é seu gêmeo, mas cientistas dizem que seus genomas podem ter muito em comum

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Kate Golembiewski
The New York Times

Charlie Chasen e Michael Malone se conheceram em Atlanta em 1997, quando Malone atuou como cantor convidado na banda de Chasen. Eles rapidamente se tornaram amigos, mas não percebiam o que as pessoas ao seu redor viam: os dois podiam passar por gêmeos.

Malone e Chasen são "doppelgängers", em alemão. Eles são incrivelmente parecidos, mas não são parentes. Seus ancestrais imediatos nem sequer são da mesma parte do mundo: os antepassados de Chasen vieram da Lituânia e da Escócia, enquanto os de Malone são da República Dominicana e das Bahamas.

Os dois amigos, juntamente com centenas de outros sósias não relacionados, participaram de um projeto de fotografia do artista canadense François Brunelle. A série de imagens "Eu Não Sou um Sósia!" foi inspirada pela descoberta de Brunelle de seu próprio sósia, o ator inglês Rowan Atkinson.

Quadro duplas de sósias, dispostas lado a lado
Exemplos de fotografias utilizadas no estudo do pesquisador Manel Esteller, que aponta que DNA de sósias é parecido - François Brunelle

O projeto fez sucesso nas redes sociais e em outras partes da internet, mas também chamou a atenção de cientistas que estudam as relações genéticas. O doutor Manel Esteller, pesquisador do Instituto de Pesquisas de Leucemia Josep Carreras, em Barcelona, na Espanha, já havia estudado as diferenças físicas entre gêmeos idênticos e queria examinar o inverso: pessoas que se parecem, mas não são parentes. "Qual é a explicação para isso?", ele se perguntou.

Em um estudo publicado na terça-feira (23) na revista Cell Reports, Esteller e sua equipe recrutaram 32 pares de sósias das fotografias de Brunelle para fazer testes de DNA e preencher questionários sobre seus estilos de vida. Os pesquisadores usaram um software de reconhecimento facial para quantificar as semelhanças entre os rostos dos participantes. Dezesseis desses 32 pares alcançaram pontuações gerais semelhantes a gêmeos idênticos analisados pelo mesmo software. Os pesquisadores então compararam o DNA desses 16 pares de "doppelgängers" para ver se seu DNA era tão semelhante quanto seus rostos.

Esteller descobriu que os 16 pares que eram "verdadeiros" sósias compartilhavam um número significativamente maior de genes do que os outros 16 pares que o software considerou menos semelhantes. "Essas pessoas realmente se parecem porque compartilham partes importantes do genoma, ou a sequência de DNA", disse ele. Que pessoas mais parecidas tenham mais genes em comum "pode parecer senso comum, mas nunca foi demonstrado", disse ele.

Parece haver algo muito forte em termos de genética que está fazendo com que dois indivíduos parecidos também tenham perfis semelhantes em todo o genoma

Olivier Elemento

Diretor do Instituto Englander de Medicina de Precisão na Weill Cornell Medicine, em Nova York

O DNA sozinho, entretanto, não conta toda a história de nossa constituição. Nossas experiências vividas e as de nossos ancestrais influenciam quais de nossos genes são ativados ou desativados —o que os cientistas chamam de epigenomas. E o microbioma, nosso copiloto microscópico composto por bactérias, fungos e vírus, é ainda mais influenciado pelo meio ambiente. Esteller descobriu que, embora os genomas dos "doppelgängers" fossem semelhantes, seus epigenomas e microbiomas eram diferentes. "A genética os une, e a epigenética e o microbioma os separam", afirmou ele.

Essa discrepância nos diz que as aparências semelhantes dos pares têm mais a ver com seu DNA do que com os ambientes onde cresceram. Isso surpreendeu Esteller, que esperava encontrar uma influência ambiental maior.

Como a aparência dos "doppelgängers" é mais atribuível a genes compartilhados do que a experiências de vida compartilhadas, isso significa que, até certo ponto, suas semelhanças são apenas obra do acaso, propiciadas pelo crescimento populacional. Afinal, existe um número limitado de maneiras de construir um rosto.

"Hoje existem tantas pessoas no mundo que o sistema está se repetindo", disse Esteller. Não é irracional supor que você também possa ter um sósia por aí.

Esteller espera que as descobertas do estudo ajudem os médicos a diagnosticar doenças no futuro —se as pessoas têm genes semelhantes o suficiente para serem parecidas, também podem compartilhar predileções por doenças.

"Parece haver algo muito forte em termos de genética que está fazendo com que dois indivíduos parecidos também tenham perfis semelhantes em todo o genoma", disse Olivier Elemento, diretor do Instituto Englander de Medicina de Precisão na Weill Cornell Medicine, em Nova York, que não participou do estudo. As discrepâncias entre as previsões do DNA e a aparência real das pessoas podem alertar os médicos para problemas, disse ele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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