Buraco negro distante é flagrado aniquilando uma estrela

Evento foi detectado em fevereiro e é o primeiro desde 2011; a estrela tinha massa centena de milhares de vezes superior à do Sol

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Will Dunham
Reuters

Astrônomos detectaram um ato de violência extrema sendo cometido do outro lado do universo conhecido, com um buraco negro destruindo uma estrela que chegou perto demais desse selvagem celestial. Mas não foi um caso corriqueiro de buraco negro faminto.

De acordo com cientistas, foi 1 de apenas 4 exemplos –e o primeiro desde 2011— de um buraco negro observado no processo de dilacerar uma estrela que estava passando ao lado, num chamado evento de perturbação de maré, e então lançando jatos luminosos de partículas de alta energia em direções opostas no espaço. E foi o mais distante e também o mais luminoso evento desse tipo já registrado.

Astrônomos descreveram o evento em estudos publicados na quarta-feira (30) nos periódicos científicos Nature e Nature Astronomy.

Ilustração de buraco negro destruindo estrela e lançando jatos luminosos de partículas de alta energia em direções opostas - ESO/M.Kornmesser/Reuters

O "culpado" parece ser um buraco negro supermassivo que teria massa centenas de milhões de vezes superior à do nosso Sol, situado a cerca de 8,5 bilhões de anos-luz de distância da Terra. Um ano-luz é a distância percorrida pela luz em um ano: 9,5 trilhões de quilômetros.

"Pensamos que a estrela era semelhante ao nosso Sol, possivelmente com massa maior, mas de um tipo comum", disse o astrônomo Igor Andreoni, da Universidade de Maryland e do Centro Goddard de Voos Espaciais da Nasa, autor principal de um dos estudos.

O evento foi detectado em fevereiro por meio da sondagem astronômica Zwicky Transient Facility, usando uma câmera fixada a um telescópio do Observatório Palomar, na Califórnia. A distância foi calculada usando o Very Large Telescope, do European Southern Observatory, no Chile.

"Quando uma estrela chega perigosamente perto de um buraco negro –não se preocupem, isso não vai acontecer com o Sol—, ela é dilacerada violentamente pela força de maré gravitacional do buraco negro, algo semelhante ao modo como a Lua puxa as marés na Terra, mas com força maior", disse Michael Coughlin, astrônomo da Universidade do Minnesota e coautor do estudo.

"Em seguida, pedaços da estrela são captados em um disco que gira em alta velocidade e orbita o buraco negro. Finalmente, o buraco negro consome o que resta da estrela destruída no disco. Em alguns casos muito raros, que estimamos ser cem vezes mais raros, fortes jatos de material são lançados em direções opostas quando ocorre o evento de perturbação de maré", acrescentou Coughlin.

Andreoni e Coughlin disseram que o buraco negro provavelmente está girando em alta velocidade. Isso pode ajudar a explicar como os dois jatos poderosos foram lançados no espaço quase à velocidade da luz.

O astrônomo Dheeraj Pasham, do Massachusetts Institute of Technology e autor principal do outro estudo, disse que os pesquisadores puderam observar o evento desde muito cedo –menos de uma semana depois de o buraco negro começar a consumir a estrela condenada.

Pesquisadores detectam eventos de perturbação de maré cerca de duas vezes por mês, mas eventos desse tipo que produzem jatos são extremamente raros. Um dos jatos que emana desse buraco negro parece estar apontado na direção da Terra, de modo que ele parece mais brilhante do que se estivesse dirigido em outra direção. É um efeito conhecido como "reforço de Doppler", semelhante ao som intensificado de uma sirene policial quando passa ao lado do observador.

Acredita-se que o buraco negro supermassivo resida no centro de uma galáxia, mais ou menos do mesmo modo como a Via Láctea e a maioria das galáxias têm um buraco negro desse tipo em seu núcleo. Mas o evento de perturbação de maré foi tão brilhante que obscureceu a luz das estrelas da galáxia.

"Em seu auge, a fonte parecia mais brilhante que mil trilhões de sóis", disse Pasham.

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