Descrição de chapéu The New York Times

China lança astronautas para estação espacial recém-concluída

Expedição é um marco do rápido avanço do programa espacial chinês e também em sua corrida para alcançar os EUA

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Keith Bradsher
The New York Times

Com a altura de um prédio de 20 andares, um foguete que transportava a missão Shenzhou 15 rugiu no céu noturno do deserto de Gobi na terça-feira (29), levando três astronautas em direção à recém-concluída estação espacial da China.

O lançamento foi um evento dúbio para a China, a mais recente de uma longa série de conquistas tecnológicas do país, enquanto muitos de seus cidadãos protestavam iradamente nas ruas contra os rígidos controles de combate à pandemia.

O ar tremeu quando o enorme foguete branco saltou para o céu noturno estrelado e extremamente frio, pouco antes de a Lua crescente desaparecer. Menos de nove horas depois, os três astronautas a bordo do Shenzhou 15 atracaram na estação espacial e cumprimentaram os três astronautas que concluíram a construção do posto orbital neste outono.

Lançamento de foguete com a missão tripulada Shenzhou 15 no deserto de Gobi, no norte da China, na última terça (29) - CNS/AFP

A Pela primeira vez, a equipe de três astronautas a bordo do posto avançado de Tiangong recebeu uma tripulação vinda da Terra.

A estação espacial chinesa agora será constantemente ocupada, como a Estação Espacial Internacional. Esse é outro marco estabelecido pela China em sua corrida para alcançar os Estados Unidos e superá-los como potência dominante no espaço.

Com uma presença sustentada na órbita baixa da Terra a bordo da Tiangong, as autoridades espaciais chinesas se preparam para colocar astronautas na Lua, que a Nasa também pretende revisitar antes do final da década como parte de seu programa Artemis.

"Não vai demorar muito; podemos atingir o objetivo do pouso tripulado na Lua", disse Zhou Jianping, projetista-chefe do programa espacial tripulado da China, em entrevista no centro de lançamento. A China está desenvolvendo um módulo de pouso lunar, acrescentou, sem dar uma data em que poderá ser utilizado.

O lançamento do Shenzhou 15 ocorre menos de duas semanas depois que a Nasa finalmente lançou sua missão Artemis 1, após muitos atrasos. Esse voo colocou sua cápsula Orion não tripulada em órbita da Lua.

Ao mesmo tempo, Pequim se envolveu numa ofensiva de charme desde a cúpula do Grupo dos 20 em Bali, no início deste mês, cortejando as nações europeias e os países em desenvolvimento em particular. Isso inclui a exploração espacial. O presidente chinês, Xi Jinping, enfatizou esse ponto em uma carta em 21 de novembro para um simpósio da ONU.

"A China está disposta a trabalhar com outros países para fortalecer os intercâmbios e a cooperação, explorar conjuntamente os mistérios do universo, fazer uso pacífico do espaço sideral e promover a tecnologia espacial para melhor beneficiar as populações de todos os países do mundo", escreveu Xi.

Embora os países europeus estejam trabalhando com os Estados Unidos nas missões Artemis e na Estação Espacial Internacional, até agora não demonstraram muito interesse por Tiangong. O Ministério Federal de Assuntos Econômicos e Ação Climática da Alemanha disse em uma resposta por escrito a perguntas que a Alemanha não tinha projetos bilaterais com a China para sua estação espacial.

A Alemanha e a Itália enviaram dois astronautas há quatro anos para a província chinesa de Shandong para treinamento de voo em um foguete Shenzhou, mas nenhum dos países anunciou planos de enviar astronautas em um foguete chinês. Alguns pesquisadores europeus estão envolvidos em experimentos científicos que serão levados para Tiangong, incluindo uma proposta de detector de radiação cósmica de alta energia. Pesquisadores da Índia, Peru, México e Arábia Saudita também receberam oportunidades de pesquisa na estação espacial chinesa por meio de um programa da ONU.

Autoridades europeias temem uma cooperação mais estreita no espaço num momento de atritos crescentes sobre o respeito aos direitos humanos e o fortalecimento militar da China. Elas pediram à China que compartilhe informações altamente detalhadas sobre suas operações espaciais, em parte para garantir a segurança dos astronautas. Mas o programa espacial chinês foi criado pelas Forças Armadas do país, assim como o dos EUA décadas atrás, e tem sido cauteloso quanto ao compartilhamento de informações.

Essa conexão militar ficou clara no Centro de Lançamento de Satélites Jiuquan no deserto. Veículos camuflados eram visíveis dentro e ao redor da base, e algumas sinalizações se referiam não aos foguetes espaciais civis shenzhou, mas aos mísseis balísticos dongfeng usados no arsenal nuclear da China.

No dia 22, jornalistas estrangeiros tiveram acesso incomum ao centro de lançamento, que começou a ser construído em 1958 e geralmente é proibido até para cidadãos chineses.

Dois jornalistas do New York Times e um fotógrafo da Kyodo News do Japão foram autorizados a assistir ao lançamento, assim como um pequeno grupo de jornalistas da China continental, Hong Kong e Macau. Os visitantes de Pequim e de outras cidades foram obrigados a passar uma semana em quarentena em um hotel de vila a cerca de 80 quilômetros de distância e a passar por testes diários de PCR. Os jornalistas estrangeiros pagaram por suas viagens, hospedagem e quarentena.

A quarentena fazia parte de precauções elaboradas para evitar que o vírus da Covid-19 chegasse novamente ao centro espacial. Um surto no ano passado interrompeu brevemente o trabalho no local.

A base fica no deserto de Gobi, a 240 km da cidade mais próxima, Jiayuguan, no norte da província de Gansu. Na rodovia, uma China mais antiga ainda foi vista quando um pequeno rebanho de camelos bactrianos de um fazendeiro galopou, suas corcundas duplas com densa pelagem marrom-escura conforme o inverno se aproxima.

A região ao redor do centro de lançamento tem algumas das dunas de areia estacionárias mais altas do mundo, chegando a mais de 300 metros. Cascalho plano e cinza envolve a própria base, que abriga uma mistura arquitetônica.

Um imenso edifício de montagem vertical para foguetes e arranha-céus administrativos modernos ficam na frente da base. Atrás deles estão prédios baixos de tijolos consideravelmente mais antigos, com insígnias proeminentes do Partido Comunista e, em seguida, fileiras de prédios de apartamentos de três andares com pintura branca descascada. Os aposentos de moradia e treinamento dos astronautas usados antes dos lançamentos foram construídos em um estilo art déco fantasioso, curiosamente semelhante ao Tomorrowland da Disneylândia.

Zhou, da agência espacial tripulada, disse que a China gastou dinheiro com eficiência em seu programa espacial e que sua estação espacial não custou muito mais que US$ 8 bilhões. O salário e o custo de vida são baixos para a grande comunidade de cientistas de foguetes que vivem e trabalham quase totalmente isolados no centro de lançamento de Jiuquan. Ali, até suas comunicações pela internet com o resto da China são restritas por razões de segurança nacional.

Por outro lado, a Nasa gastará US$ 3 bilhões apenas neste ano na Estação Espacial Internacional, que custou mais de US$ 100 bilhões para construir e manter ao longo de sua vida.

Três homens estavam a bordo do Shenzhou 15 quando ele decolou: Fei Junlong, Deng Qingming e Zhang Lu. A China já enviou mulheres para a órbita em viagens anteriores, mas escolheu sua equipe de astronautas mais antiga e experiente para pôr a recém-concluída estação espacial em funcionamento nos próximos seis meses.

O trio ficou em posição de sentido quando foi apresentado numa entrevista coletiva e fez saudações militares precisas. Fei, o comandante do voo espacial, foi ao espaço pela primeira vez em 2005 e tem 57 anos.

"Estou muito orgulhoso e animado por poder ir ao espaço novamente para o meu país", disse ele.

Huang Weifen, projetista-chefe de sistemas de astronautas, disse em entrevista que a China acrescentou equipamentos de exercícios de resistência e um menu mais amplo nos voos espaciais recentes, incluindo frutas e vegetais frescos.

Tratamentos à base de ervas da medicina tradicional chinesa são levados a bordo da estação espacial e também usados para banhos medicinais nos astronautas após seu retorno à Terra, na tentativa de limitar os danos médicos de estadias prolongadas no espaço, acrescentou ela.

Zhou Jianping disse que os experimentos a serem feitos pela tripulação envolveriam o uso de um relógio atômico extremamente preciso para pesquisa de gravidade e a implantação de um telescópio espacial para estudos ultravioleta de áreas distantes do universo.

"A indústria aeroespacial chinesa está se desenvolvendo rapidamente", disse ele. "A China já é uma grande potência aeroespacial."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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