Era Viking deixou marcas na genética de escandinavos

Novo estudo fornece dados sobre padrões de migração e mostra influência de mulheres

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Will Dunham
Washington | Reuters

A Era Viking, que abrangeu os séculos 8o a 11 d.C., deixou uma marca duradoura na genética atual dos escandinavos, segundo cientistas que também documentaram a enorme influência genética de mulheres que chegaram à região durante as conquistas nórdicas na Europa.

Um estudo publicado na quinta-feira (5) explorou a dinâmica genética de habitantes da Noruega, Suécia e Dinamarca desde dois milênios atrás, com base em 297 genomas de restos humanos antigos e dados de 16.638 homens e mulheres escandinavos modernos.

As conclusões forneceram dados sobre os padrões de migração e fluxo gênico durante a era viking, quando os nórdicos viajaram da Escandinávia a bordo de navios de madeira, realizaram ataques e saques a monastérios numa vasta região e atingiram até a América do Norte.

Vestígios do grande navio de guerra sueco Kronan, afundado numa batalha em 1676
Vestígios do grande navio de guerra sueco Kronan, afundado numa batalha em 1676 - Lars Einarsson/Universidade de Estocolmo

O estudo constatou que as mulheres da região leste do Báltico e, em menor medida, das ilhas britânicas e irlandesas, contribuíram mais para o reservatório genético da Escandinávia do que os homens dessas regiões no mesmo período.

"Não temos como saber com nossos dados o número de mulheres envolvidas ou se essas mulheres de ancestralidade no leste báltico e britânica-irlandesa estavam na Escandinávia voluntária ou involuntariamente", disse o arqueólogo molecular Ricardo Rodriguez-Varela, do Centro de Paleogenética da Universidade de Estocolmo, principal autor do estudo publicado na revista Cell.

Os historiadores documentaram o comércio de escravos pelos vikings quando os navegadores conquistaram numerosos territórios e desenvolveram extensas redes comerciais.

"Os escravos são um grupo, dentre vários, que poderia explicar os padrões. Mas não sabemos exatamente quem eram essas pessoas", acrescentou o arqueólogo molecular Anders Gotherstrom, do Centro de Paleogenética e coautor do estudo.

A era viking se estendeu de cerca de 750 a 1050 desta era. O evento inicial mais importante foi um ataque viking devastador em 793 a um mosteiro cristão na ilha inglesa de Lindisfarne, com ataques posteriores a vários locais, incluindo Paris e Constantinopla, e contatos comerciais até o Oriente Médio.

O estudo mostrou que a ascendência britânico-irlandesa era generalizada na Escandinávia, começando durante a era viking. Descobriu-se que a ascendência da região báltica oriental —Lituânia moderna e partes do oeste da Rússia e talvez da Ucrânia— se concentrou na Suécia central e em Gotland, a maior ilha sueca. A ascendência de localidades do sul da Europa, como a Sardenha, estava concentrada em pessoas no sul da Escandinávia.

"A era viking está associada a um aumento acentuado do fluxo de mercadorias, alfândegas, tecnologia e pessoas indo e vindo da Escandinávia", disse Rodriguez-Varela.

"As sociedades escandinavas, inicialmente pagãs, mas mais tarde cristãs, basearam sua economia em pequenas propriedades, comércio externo e pilhagem. Os vikings foram as primeiras pessoas a visitar quatro continentes", acrescentou Gotherstrom.

Verificou-se que a contribuição genética de forasteiros para os escandinavos diminuiu após a era viking.

Os pesquisadores escreveram que suas descobertas ofereceram "evidências cautelosas de que o fluxo genético para a Escandinávia, originário do leste do Báltico e, em menor grau, britânico-irlandês, teve maior incidência feminina".

"O aumento da ascendência báltica-oriental nessas regiões durante a era viking é consistente com fontes históricas que atestam contatos como relações tributárias e tratados. Portanto, não vemos qualquer evidência, com os dados atuais, de que as mulheres foram sequestradas e trazidas de volta durante os ataques", disse Rodriguez-Varela.

O navio viking Havhingsten af ​​Glendalough (o garanhão do mar de Glendalough), uma réplica de um navio de guerra viking, parte do Museu Viking em Roskilde - Reuters

Homens que atuavam como missionários ou monges cristãos também podem ter chegado à Escandinávia durante esse período, mas podem não ter contribuído muito para o reservatório genético, acrescentaram os pesquisadores.

O mais velho dos genomas antigos usados no estudo datava do século 1o d.C., e o mais recente do século 19. Alguns genomas antigos vieram de pessoas que morreram a bordo do grande navio de guerra sueco Kronan, afundado numa batalha em 1676. Outros vieram de Sandby Borg, fortaleza na ilha sueca de Oland onde ocorreu um aparente massacre no século 5o, bem como de restos humanos de enterros cerimoniais em navios vikings.

"Os vikings eram um grupo interessante de pessoas, que existiu por cerca de dois séculos e meio e impactou o mundo de maneiras que ainda não compreendemos", disse Gotherstrom.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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