Ação. Aventura. Fantasia.
O cinema é, ainda, a melhor diversão.
Um herói da Marvel está de volta nas telonas de São Paulo.
Thor e seu poderoso martelo prometem livrar o mundo do mal.
Os mitos nórdicos têm uma longa e respeitável história.
O sr. Piragy estava completamente de acordo.
–É a superioridade da raça.
A neta dela se chamava Louise.
–Mas, vovô…
–Os vikings. Com eles não tinha conversa.
O velho empresário deu um risinho.
–Nunca precisaram de manifestação, cota racial, essas coisas.
Louise tentava entender.
–Manifestação? Como assim?
O sr. Piragy ia perdendo a paciência.
–Você entendeu perfeitamente o que eu quero dizer, Louise.
A jovem universitária ficou em silêncio.
O sr. Piragy respirou fundo.
–Essas auto-afirmações de raça… essa propaganda toda.
–O que é que tem?
–Os escandinavos nunca fizeram esse carnaval todo.
Piragy ia concluindo o raciocínio.
–Chegavam logo resolvendo tudo. Na martelada.
Uma sombra de melancolia passava pelos olhos do septuagenário.
–Aqui no Brasil, hoje em dia, fica esse chororô.
–Que chororô?
Piragy não queria continuar.
–Essa coisa de… bom… de remexer o passado…
–Que passado, vô?
–Bom… só por que trouxeram aquela gente da Áf…
Louise se inclinou para ouvir melhor.
–Fala, vô. África? É isso?
Piragy ficou em silêncio. Louise insistia.
–O Thor era louro, muito bem... e aqui, na sua opinião…
O empresário lançou um olhar fixo pela janela.
–Fala, vovô.
Silêncio. Um olhar vidrado. Uma estranha inclinação no pescoço.
–Vovô?
Era derrame.
O sr. Piragy já não tem condições de explicitar seu pensamento sobre a negritude.
Mas também não precisa.
O caso de hemiplegia é considerado irreversível pelo dr. Marco Aurélio.
--Esse aí não mexe mais.
Países, como seres humanos, avançam em anos.
Mas a paralisia, por vezes, é para sempre.
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