Descrição de chapéu The New York Times

China publica dados mostrando DNA de cão-guaxinim no mercado de Wuhan

Cientistas confirmaram que o material genético desses e de outros animais suscetíveis ao coronavírus foi encontrado no mercado no início de 2020

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Benjamim Mueller
The New York Times

Cientistas do governo chinês publicaram no último dia 5 um estudo muito aguardado sobre o mercado de peixes da cidade de Wuhan, admitindo que animais suscetíveis ao coronavírus estavam lá na época em que o vírus surgiu. Mas os cientistas também disseram que ainda não está claro como a pandemia começou.

O estudo, publicado na revista Nature, concentrou-se em amostras colhidas em superfícies no início de 2020 no Mercado Atacadista de Pescados de Huanan, onde muitos dos primeiros pacientes de Covid conhecidos trabalhavam ou fizeram compras. Os cientistas chineses publicaram uma versão inicial da análise genética dessas amostras em fevereiro de 2022, mas na época minimizaram a possibilidade de infecções em animais no mercado.

Os cientistas, muitos dos quais são afiliados ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças chinês, também queriam publicar seus dados numa revista revisada por pares. E como parte desse processo enviaram mais dados de sequências genéticas para um grande banco de dados internacional, disseram os administradores do repositório no mês passado.

Um exemplar de cão-guaxinim sobre um piso de capim
Os cães-guaxinim são comercializados por causa de sua pele nos mercados de animais chineses - Svitlana - stock.adobe.com

Algumas semanas depois que os dados foram publicados, uma equipe de cientistas internacionais que estudava as origens da pandemia disse ter encontrado as sequências. Eles descobriram que as amostras com teste positivo para coronavírus continham material genético pertencente a animais, incluindo grandes quantidades que eram compatíveis com o cão-guaxinim, mamífero vendido para uso da pele e consumo de carne que já era conhecido pela capacidade de transmitir o coronavírus.

Essa análise, objeto de um relatório publicado online no final de março, não provou que um cão-guaxinim estava infectado ou que animais transmitiram o vírus às pessoas. Apenas constatou que havia marcas genéticas dos cães-guaxinim no mesmo local onde foi encontrado o material genético do vírus.

Muitos virologistas disseram que o cenário era consistente com aquele em que o vírus se espalhou para as pessoas a partir de um animal selvagem comercializado ilegalmente no mercado.

Parece que a análise da equipe internacional acelerou a divulgação do estudo dos cientistas chineses sobre os mesmos dados: o artigo apareceu na quarta-feira no site da Nature com uma nota dizendo que havia sido aceito para publicação, mas era uma "versão precoce" e ainda não tinha sido editado.

Vários autores do artigo afiliados ao CDC chinês, William J. Liu, George Gao e Guizhen Wu, não responderam a pedidos de comentários.

Em sua primeira versão do artigo, em fevereiro de 2022, os autores chineses não mencionaram ter encontrado material genético de cães-guaxinim nas amostras do mercado, que foram retiradas de paredes, pisos, gaiolas de metal e carrinhos. Além disso, eles disseram que os dados não indicavam qualquer animal infectado.

Mas na versão desta quarta, pouco mais de um ano depois, eles escreveram que o estudo "confirmou a existência de cães-guaxinim" e outros animais suscetíveis ao coronavírus no mercado.

Muitos cientistas acreditam que as evidências existentes apontam para esses animais possivelmente atuando como hospedeiros intermediários do vírus, que provavelmente se originou em morcegos. Mas eles também dizem que as evidências não descartam completamente um cenário em que as pessoas transmitiram o vírus para animais no mercado.

Questionado sobre como o processo de revisão por pares da Nature tratou as conclusões sobre a espécie, um porta-voz da revista observou que os autores incluíram uma ressalva de que a lista de espécies identificadas no mercado "não era definitiva" e havia necessidade de mais análises.

Para os cientistas internacionais que relataram pela primeira vez a descoberta de sinais de cães-guaxinim nas amostras positivas para Covid no mês passado, o último estudo da Nature deixou sem respostas uma série de questões importantes sobre os métodos usados pela equipe chinesa para analisar as sequências.

Ainda assim, a publicação, assim como uma versão anterior dela divulgada online pelos cientistas chineses na semana passada, forneceu novos dados críticos, incluindo o número de amostras retiradas de cada barraca do mercado, disse Alexander Crits-Christoph, um ex-pesquisador e biólogo computacional da Universidade Johns Hopkins, que ajudou a liderar a análise da equipe internacional.

Com essa informação, Crits-Christoph disse que ele e seus colaboradores puderam confirmar uma descoberta importante: amostras colhidas em um canto do mercado que vende animais silvestres tinham maior probabilidade de testar positivo para o vírus, resultado que não poderia ser explicado apenas por pesquisadores chineses terem coletado mais amostras naquele canto, disse ele.

"É um conjunto de dados impressionante, e sua importância é bastante alta", disse Crits-Christoph sobre as amostras do mercado. "E por isso acho bom que eles tenham sido publicados no registro científico, mesmo que eu não concorde com todas as interpretações."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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