Empresa japonesa perde contato com sonda segundos antes de pouso na Lua

Companhia ispace trabalha com hipótese de que a Hakuto-R não conseguiu a alunissagem, que seria a primeira de natureza privada

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São Paulo

Tudo correu conforme o previsto na alunissagem da sonda Hakuto-R, da empresa japonesa ispace nesta terça-feira (25) –até cerca de 30 segundos antes do pouso, quando o contato com a espaçonave foi perdido.

A missão pode até ter se tornado a primeira de natureza privada a realizar um pouso na Lua, mas o mais provável a cada minuto é que o procedimento tenha fracassado. "Temos de presumir que não completamos o pouso na superfície lunar", disse, consternado, Takeshi Hakamada, fundador da ispace.

Até as 18h desta terça, não havia mais detalhes fornecidos pela empresa. Análises independentes dos sinais de rádio enviados pela sonda sugerem que ela concluiu o voo em queda livre –uma perspectiva consistente com uma falha.

Equipe da ispace reage após a notícia da perda de sinal da sonda na Lua - Kim Kyung-Hoon/Reuters

Hakamada enfatizou que as equipes continuarão analisando os dados para ver o que pode ter acontecido e ainda tentarão contato com a sonda, embora seja improvável que haja algo funcional a ser contatado.

Com isso, estão perdidas as cargas úteis levadas pela missão, dentre elas o rover Rashid, dos Emirados Árabes Unidos, um pequeno veículo da Jaxa, agência espacial japonesa, e alguns experimentos da CSA, agência espacial canadense, além de itens de parceiros comerciais.

A tensão era palpável no centro de controle em Tóquio, conforme os engenheiros acompanhavam a telemetria vinda da espaçonave. Os últimos dados que chegaram indicavam velocidade inferior a 40 km/h, e altitude inferior a 100 metros, sugerindo que todas as fases de aproximação para o pouso, incluindo a colocação do veículo na vertical, foram bem-sucedidas até aquele ponto.

Não se trata de feito trivial, considerando os meses de missão em espaço profundo. Lançada em 28 de novembro do ano passado, a Hakuto-R chegou a estar a 1 milhão de km da Terra e então retornou para ser capturada pela gravidade lunar, a cerca de 384 mil km daqui.

As operações de inserção orbital foram bem-sucedidas –quando a sonda se tornou a primeira espaçonave privada a orbitar a Lua–, com a captura de diversas imagens ao longo do percurso. A descida automatizada na cratera Atlas, na região nordeste do hemisfério próximo lunar, seguiu como programada, reduzindo a altitude de 100 km a praticamente zero, bem como a velocidade de 6.000 km/h. Boa parte do processo foi feita também sem telemetria, conforme a nave passava por trás do satélite natural, mas se alinhou perfeitamente com as expectativas.

Concepção artística do módulo Hakuto-R, da empresa ispace, na superfície da Lua
Concepção artística do módulo Hakuto-R, da empresa ispace, na superfície da Lua. Nesta terça (25), módulo foi pousado no satélite natural da Terra - ispace

É a segunda tentativa por parte de um ente privado de realizar um pouso lunar. Antes da Hakuto-R, em 2019, o módulo israelense Beresheet tentou, sem sucesso, realizar uma alunissagem. Entre os dois, a agência espacial indiana também fracassou na tentativa, lembrando que realizar uma descida suave na superfície lunar não é trivial. Até hoje, apenas três países conseguiram: Rússia, EUA e China.

A ispace segue comprometida com o projeto. "Não vamos abandonar a busca lunar", disse Hakamada. A empresa diz já ter financiamento garantido para a próxima tentativa, Mission 2, em princípio pronta para voar em 2024. A terceira missão, em parceria com a Draper, partiria em 2025, transportando cargas para a Nasa –mas, para ela, no momento só há financiamento parcial.

Outras companhias também seguem no desenvolvimento de seus módulos de pouso lunares, como participantes do programa comercial de transporte de carga à Lua da agência espacial americana. A conferir a quem caberá a honra de se tornar a primeira a realizar um pouso bem-sucedido e inaugurar uma nova era de exploração lunar, com forte interação entre agências espaciais e empresas privadas.

Os dez passos da missão Hakuto-R

  1. Finalizar a preparação do lançamento

  2. Completar o lançamento

  3. Estabelecer contato e comando entre o centro de controle da missão e o módulo

  4. Completar a primeira manobra do módulo

  5. Operação de um voo do módulo durante um mês

  6. Testar controle de manobras antes de inserir o módulo na órbita da Lua

  7. Inserir o equipamento na órbita da Lua

  8. Realizar manobras de controles do módulo já na órbita da Lua

  9. Finalização do pouso na superfície da Lua (tentada nesta terça; conclusão é incerta)

  10. Entregar a carga do módulo carrega a estabelecer um sistema estável de telecomunicação na superfície lunar

Colaborou Samuel Fernandes, de São Paulo

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