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1º cientista brasileiro a viajar para o espaço avaliará impacto da microgravidade no cérebro

Neurocientista Alysson Muotri deve ir para a Estação Espacial Internacional em 2024

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São Paulo

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação anunciou nesta semana que o pesquisador Alysson Muotri, professor na Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), nos Estados Unidos, deve ser o primeiro cientista brasileiro a desenvolver experimentos na Estação Espacial Internacional (ISS, em inglês).

A viagem está prevista para novembro de 2024 e, caso ocorra conforme o planejado, fará de Muotri o terceiro brasileiro a ir para o espaço. O primeiro foi Marcos Pontes (atualmente senador pelo PL de São Paulo), em 2016, e o segundo foi o engenheiro Victor Hespanha, no ano passado.

O anúncio da viagem ocorreu após um encontro entre o pesquisador, a ministra Luciana Santos e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio do Planalto.

Alysson Muotri em reunião no MCTI
Alysson Muotri em reunião no MCTI; pesquisador deverá ser o primeiro cientista brasileiro no espaço - Luara Baggi/MCTI

Formado em biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), com doutorado em genética na USP (Universidade de São Paulo), Muotri é um pesquisador renomado na área de neurociência.

Ele estuda o desenvolvimento cerebral há anos e já enviou minicérebros —organoides criados em laboratórios por meio de células-tronco— para a ISS três vezes.

Na missão mais recente, em julho de 2022, foram levados minicérebros derivados de pessoas com autismo, área de grande interesse do brasileiro, que além do cargo na UCSD é fundador da empresa de biotecnologia Tismoo, focada na saúde de pessoas com transtornos neurológicos.

Os experimentos revelaram que as células neuronais envelhecem mais rápido no espaço. Em um mês, elas envelhecem o equivalente a dez anos, de acordo com o cientista.

Na viagem de 2024, Muotri terá a oportunidade de viajar para a ISS e analisar in loco o impacto da microgravidade nos minicérebros.

A expectativa é de que, com a maior compreensão do fenômeno, seja possível proteger o cérebro dos astronautas em longas missões. Outro objetivo com os minicérebros é investigar novas opções de tratamento para doenças como Alzheimer.

"Estamos trabalhando com organoides para descobrir como o cérebro se desenvolve e, assim, poder entender como ele funciona, como o neurodesenvolvimento pode dar errado e como podemos prevenir ou corrigir isso", explicou Muotri em um vídeo sobre os estudos que desenvolve com sua equipe no laboratório da UCSD.

Os minicérebros são criados com as chamadas células iPS (ou células-tronco pluripotentes induzidas).

A partir de uma amostra de pele, por exemplo, os cientistas usam fatores especiais para fazer as células "voltarem no tempo", adquirindo uma versatilidade semelhante à das células-tronco embrionárias. Depois, empregam substâncias que fazem as células iPS se especializar em neurônios.

Aos poucos, esses neurônios se conectam e formam uma estrutura tridimensional que imita de forma simplificada a organização do córtex cerebral humano, daí "minicérebros".

Como a estrutura possui o mesmo material genético da pessoa que doou a amostra, é esperado que ela apresente os mesmos padrões de desenvolvimento do cérebro original, o que permite analisar variações nos neurônios ao longo do tempo e seu impacto no desenvolvimento de demências e do TEA (transtorno do espectro autista), por exemplo.

Biodiversidade amazônica

Além do anúncio da viagem, no encontro foi divulgada uma parceria entre a UCSD e a Ufam (Universidade Federal da Amazônia) para identificar, a partir da biodiversidade amazônica, compostos neuroativos que possam ser utilizados na área da saúde.

A cooperação tem duração prevista de cinco anos e também visa treinar cientistas brasileiros na produção de minicérebros.

"No laboratório, recebo alunos de todo o Brasil, e agora firmamos uma parceria com a Universidade do Amazonas. Isso é um grande passo para testarmos fármacos da biodiversidade local", comentou Muotri no encontro no Planalto.

"Esse projeto pode ser uma situação em que todos saem ganhando com a visibilidade e com os resultados", complementou. Na Ufam, o programa será coordenado pelos professores Spartaco Astolfi Filho e Robson Amorim.

"A velocidade das mudanças tecnológicas é muito grande, e precisamos inserir o país nas cadeias mais dinâmicas", disse a ministra Luciana Santos. "Esse é um assunto estratégico para enfrentarmos uma das áreas mais desafiadoras, que é a neurociência."

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