Descrição de chapéu The New York Times

Software que detecta asteroides perigosos pode ajudar a salvar o mundo

HelioLinc3D mostrou seu potencial ao encontrar uma rocha espacial que fará caminho próximo da Terra

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Robin George Andrews
The New York Times

A capacidade da tecnologia de resolver problemas globais frequentemente é exagerada. Mas, quando se trata de salvar o mundo de colisões com asteroides, linhas de código podem acabar representando nossa salvação.

Telescópios que vasculham o céu em busca de rochas espaciais errantes são monitorados por astrônomos, mas seus movimentos sistemáticos são dirigidos por uns e zeros.

Com tanto céu escuro para examinar, cientistas dependem de algoritmos para identificar objetos suspeitos e que estão se deslocando em alta velocidade, entre os quais asteroides que podem pôr a Terra em risco.

O Sistema de Último Alerta de Impacto Terrestre de Asteroides detectou o 2022 SF289, um asteroide "potencialmente perigoso" de 600 pés de comprimento que havia sido perdido por mais pesquisas, com a ajuda de uma nova tecnologia de software
O Sistema de Último Alerta de Impacto Terrestre de Asteroides detectou o 2022 SF289, um asteroide 'potencialmente perigoso' de 600 pés de comprimento que havia sido perdido por mais pesquisas, com a ajuda de uma nova tecnologia de software - NYT/Atlas/Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí/Nasa

Para confirmar que um objeto em movimento é uma rocha espacial genuína, os algoritmos convencionais precisam de quatro imagens feitas durante uma única noite. Mas um novo software desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Washington corta pela metade o número de observações noturnas necessárias, aumentando a capacidade dos observatórios de identificar rapidamente esses projéteis líticos.

Batizado HelioLinc3D, o programa já encontrou um asteroide que se aproximou da Terra e que passara despercebido em pesquisas anteriores.

Analisando dados da pesquisa do Atlas (sigla do Sistema de Último Alerta de Impacto Terrestre de Asteroides), financiado pela Nasa, o programa identificou um asteroide que o Atlas e observatórios semelhantes não haviam flagrado –um objeto de 183 metros de comprimento, do tipo que seria capaz de destruir uma cidade grande.

O asteroide recebeu o nome 2022 SF289 e foi classificado como "potencialmente perigoso", com base em seu tamanho e proximidade. Mas, embora o mais perto que ele chegará de nós é 140 mil milhas da órbita da Terra —metade da distância entre a Terra e a Lua—, não há risco de impacto nos próximos cem anos e provavelmente não por muitos milênios ainda no futuro.

O HelioLinc3D não vai apenas reforçar os esforços das pesquisas preexistentes de asteroides. Ele foi projetado especificamente para o Observatório Vera C. Rubin, no Chile. O enorme espelho desse observatório, sua câmera maciça e lente expansiva enxergarão praticamente tudo no céu em detalhes sem precedentes, desde estrelas distantes em colapso até asteroides de aparência suspeita nadando em nosso remanso galáctico.

O Vera C. Rubin Observatory está sendo construído no Cerro Pachón, a uma altitude de 2.715 metros, em meio ao deserto do Atacama, no Chile
O Vera C. Rubin Observatory está sendo construído no Cerro Pachón, a uma altitude de 2.715 metros, em meio ao deserto do Atacama, no Chile - Divulgação/Rubin Observatory/Divulgação

Na esperança de catalogar o maior número possível de objetos, o telescópio Rubin é projetado para varrer rapidamente o céu todas as noites. Sem o HelioLinc3D, o observatório não poderia revelar a região cheia de asteroides em torno de nosso planeta.

"A descoberta do 2022 SF289 é a prova disso", disse Ari Heinze, responsável principal pelo desenvolvimento do HelioLinc3D e pesquisador na Universidade de Washington.

A família de pesquisas telescópicas globais que buscam asteroides já encontrou mais de 32 mil asteroides próximos da Terra. A maioria dos que seriam capazes de causar devastação em escala planetária foi encontrada porque é mais fácil enxergar rochas maiores brilhando sob a luz solar.

Mas asteroides com pelo menos 140 metros de comprimento –os que têm o potencial de destruir cidades ou pequenos países, caso colidam com a Terra— são muito menos visíveis e consideravelmente mais difíceis de localizar. A maioria deles não foi descoberta até agora: foram encontrados cerca de 10,5 mil de um total projetado em 25 mil.

Nem sempre é possível obter as quatro imagens feitas em uma só noite exigidas por algoritmos convencionais de pesquisa para detectar asteroides, devido a condições meteorológicas impróprias e ao fato de o objeto brilhar muito pouco ou o brilho forte de uma estrela ou galáxia mais iluminada.

Desse modo, um asteroide pode ser captado em várias imagens de pesquisas ao longo de muitas noites, mas ainda assim não ser reconhecido. Não é uma situação ideal, em termos da defesa do planeta.

O Observatório Rubin, que deve iniciar sua pesquisa de dez anos do céu em 2025, é capaz de divisar objetos que brilham pouquíssimo, incluindo asteroides com potencial de destruir cidades. E, com o HelioLinc3D, o observatório requer apenas duas imagens por noite, ao longo de três noites não consecutivas, para confirmar a existência de um asteroide.

"Levamos cerca de 200 anos para passar de um asteroide conhecido para 1 milhão. Dependendo de quando começarmos, levaremos entre três e seis meses para dobrar esse número", disse Mario Juric, astrônomo da Universidade de Washington e líder da equipe do projeto HelioLinc3D.

Os instrumentos de próxima geração do Observatório Rubin vão catalogar não apenas asteroides, mas "todos os objetos em movimento", incluindo cometas, mundos gelados mais além de Netuno e entidades interestelares, disse Meg Schwamb, astrônoma da Queen’s University Belfast não envolvida com o trabalho.

Ela acrescentou que o Observatório Rubin será uma máquina de fazer descobertas e que o HelioLinc3D "é o motor da máquina. Ele vai reescrever o sistema solar." A esperança é descobrir muitas ilhas dentro do mar escuro e vazio, todas elas resquícios fascinantes da criação dissonante do sistema solar.

Tradução de Clara Allain

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