Descrição de chapéu The New York Times

Mamíferos podem ter apenas mais 250 milhões de anos de existência, diz pesquisa

Além da mudança na geografia, Sol mais brilhante e aumento de dióxido de carbono podem tornar clima mortal

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Carl Zimmer
The New York Times

Já se passaram cerca de 250 milhões de anos desde que animais semelhantes a répteis evoluíram para mamíferos. Agora, uma equipe de cientistas está prevendo que os mamíferos podem ter apenas mais 250 milhões de anos de existência.

Os pesquisadores construíram uma simulação virtual do nosso mundo futuro, semelhante aos modelos que projetaram o aquecimento global causado pelo homem ao longo do próximo século. Usando dados sobre o movimento dos continentes pelo planeta, bem como as flutuações na composição química da atmosfera, o novo estudo projetou muito mais para o futuro.

Alexander Farnsworth, um cientista paleoclimático da Universidade de Bristol que liderou a equipe, disse que o planeta pode se tornar muito quente para qualquer mamífero —incluindo nós mesmos— sobreviver em terra. Os pesquisadores descobriram que o clima se tornará mortal em decorrência de três fatores: um Sol mais brilhante, uma mudança na geografia dos continentes e aumento de dióxido de carbono.

"É um golpe triplo que se torna insuportável", disse Farnsworth. Ele e seus colegas publicaram seu estudo na última segunda-feira (25) no periódico Nature Geoscience.

Addison, em Maine, nos Estados Unidos; novo supercontinente se formará ao longo do equador daqui a 250 milhões de anos, segundo estudo - Greta Rybus/The New York Times

Cientistas têm tentado há décadas prever o destino da vida na Terra. Astrônomos esperam que nosso Sol fique cada vez mais brilhante e, em cerca de 7,6 bilhões de anos, possa engolir a Terra.

Mas a vida provavelmente não durará tanto tempo. À medida que o Sol lança mais energia no planeta, a atmosfera da Terra vai aquecer, fazendo com que mais água evapore dos oceanos e continentes. O vapor de água é um poderoso gás de efeito estufa, e assim ele irá reter ainda mais calor. Em 2 bilhões de anos, pode ficar quente o suficiente para evaporar os oceanos.

Em 2020, Farnsworth voltou sua atenção para o futuro da Terra como uma forma de se distrair da pandemia. Ele se deparou com um estudo que prevê como os continentes se moverão ao redor do planeta em um futuro distante.

Ao longo da história da Terra, suas massas terrestres colidiram para formar supercontinentes, que posteriormente se separaram. O último supercontinente, Pangeia, existiu de 330 milhões a 170 milhões de anos atrás. O estudo previu que um novo supercontinente —chamado Pangeia Última— se formará ao longo do equador daqui a 250 milhões de anos.

Em sua pesquisa inicial, Farnsworth construiu modelos da antiga Terra para reconstruir os climas do passado. Mas ele achou interessante usar seus modelos para ver como será a vida na Pangeia Última. O clima com o qual ele acabou o surpreendeu.

"Este mundo estava muito quente", ele disse.

Farnsworth recrutou Christopher Scotese, um geofísico aposentado da Universidade do Texas que havia criado o modelo Pangeia Última, e outros especialistas para executar simulações mais detalhadas desse futuro distante, rastreando a atmosfera movendo-se sobre os oceanos, o supercontinente e suas montanhas.

"Ele fizeram muito, o que me impressionou bastante", disse Hannah Davis, cientista de sistemas terrestres no Centro Alemão de Pesquisa em Geociências GFZ, que não estava envolvida na pesquisa.

Sob uma série de possíveis condições geológicas e atmosféricas, os pesquisadores descobriram que a Pangeia Última será muito mais quente do que os continentes de hoje. Uma das razões para essa mudança drástica é o sol. A cada 110 milhões de anos, a energia liberada pelo sol aumenta em 1%.

Mas o supercontinente vai piorar as coisas. Por um lado, a terra aquece mais rápido do que o oceano. Com os continentes empurrados para uma única massa de terra gigante, haverá um vasto interior onde as temperaturas podem disparar.

PangeIa Última também influenciará o clima graças à sua topografia, que incluirá vastas extensões de terras planas distantes do oceano. Na Terra de hoje, a água da chuva e o dióxido de carbono reagem com minerais nas encostas de montanhas e colinas, que então são levados para o mar e caem no fundo do mar. O resultado é que o dióxido de carbono é retirado gradualmente da atmosfera. Mas quando a Terra se tornar lar de Pangeia Última, essa esteira transportadora diminuirá a velocidade.

Se Pangeia Última se comportar como supercontinentes anteriores, ela se tornará pontilhada de vulcões que expelem dióxido de carbono, descobriu o modelo. Graças aos movimentos turbulentos de rochas fundidas profundamente na Terra, os vulcões podem liberar grandes explosões de dióxido de carbono por milhares de anos —explosões de gases de efeito estufa que farão as temperaturas subirem.

Atualmente, os seres humanos estão aquecendo o planeta liberando mais de 40 bilhões de toneladas de carbono provenientes de combustíveis fósseis a cada ano. Se o aquecimento global continuar sem controle, os biólogos temem que isso levará à extinção de várias espécies, enquanto as pessoas não conseguirão sobreviver ao calor e à umidade em grandes áreas do planeta.

Em Pangeia Última, Farnsworth e seus colegas concluíram que as coisas provavelmente ficarão muito piores para mamíferos como nós. Os pesquisadores descobriram que quase toda a Pangeia Última poderia facilmente se tornar muito quente para qualquer mamífero sobreviver. Eles podem desaparecer em uma extinção em massa.

Farnsworth admitiu que alguns mamíferos podem sobreviver em refúgios nas margens de Pangeia Última. "Algumas áreas nas periferias norte e sul podem ser habitáveis", disse ele.

Mesmo assim, ele estava confiante de que os mamíferos perderiam a dominância que desfrutaram nos últimos 65 milhões de anos. Eles poderiam ser substituídos por répteis de sangue frio que poderiam tolerar o calor.

Wolfgang Kiessling, cientista climático da Universidade de Erlangen-Nuremberg, na Alemanha, que não estava envolvido no estudo, disse que o modelo não levou em conta um fator que pode significar muito para a sobrevivência dos mamíferos: a diminuição gradual do calor que escapa do interior da Terra. Essa diminuição pode levar a menos erupções vulcânicas e menos dióxido de carbono sendo liberado na atmosfera.

"Os mamíferos podem sobreviver um pouco mais do que foi modelado", disse ele —talvez 200 milhões de anos, mais ou menos.

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