Descrição de chapéu África

Chimpanzés recorrem a tática militar para decidir se entram em território inimigo

Cientistas observaram comportamento em grupos que vivem em parque na Costa do Marfim

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Will Dunham
Washington, Estados Unidos | Reuters

Na fronteira de um território perigoso, uma tropa de cerca de 30 indivíduos envolvidos em uma patrulha de fronteira sobe uma colina rochosa para realizar um reconhecimento. Detectando os sons de adversários que parecem estar muito próximos, o esquadrão recua. Não há motivo para arriscar uma luta quando as probabilidades são contra você.

É um cenário que se desenrolou inúmeras vezes na história da guerra humana. Mas, nesse caso, não envolveu pessoas, e sim chimpanzés no Parque Nacional de Taï, no sudoeste da Costa do Marfim, a maior área protegida de floresta tropical da África ocidental.

Pesquisadores disseram na última quinta-feira (2) que documentaram o uso tático de terrenos elevados em situações de guerra ao observarem diariamente duas comunidades vizinhas de chimpanzés ocidentais selvagens no Parque Nacional de Taï por três anos.

Momento em que chimpazés ouvem integrantes de grupo adversário em parque na Costa do Marfim - Roman M. Wittig/Taï Chimpanzee Project/via Reuters

As informações obtidas durante o reconhecimento no topo das colinas determinavam se os chimpanzés efetuavam incursões em território inimigo, segundo o estudo. Os animais pareceram mais propensos a fazer isso quando o risco de confronto era menor.

O estudo, de acordo com os pesquisadores, registra pela primeira vez o uso dessa estratégia militar humana pelos parentes vivos mais próximos de nossa espécie.

"Isso mostra sofisticadas habilidades cognitivas e cooperativas para antecipar onde e quando ir, e agir com base nas informações coletadas de maneira segura", disse Sylvain Lemoine, antropólogo biológico da Universidade de Cambridge e autor principal do estudo publicado na revista PLOS Biology.

Episódios de violência entre grupos são recorrentes no caso de chimpanzés, disse Lemoine. Confrontos ocasionalmente ocorrem em área de fronteira sobreposta.

"Os chimpanzés competem por espaço, o que inclui fontes de alimento. Grandes territórios trazem mais benefícios, pois reduzem a competição dentro do grupo, e as taxas reprodutivas das fêmeas são maiores em territórios maiores", disse Lemoine.

Os dois grupos vizinhos rastreados no estudo tinham tamanho parecido, entre 40 e 45 indivíduos, com cerca de 5 a 6 machos adultos e 10 a 13 fêmeas adultas, sendo o restante adolescentes, jovens e filhotes. Os machos sempre são dominantes em relação às fêmeas, afirmaram os pesquisadores.

"Os chimpanzés são extremamente territoriais. Eles efetuam patrulhas regulares nas fronteiras, percorrendo o território de maneira coordenada e coesa", disse Lemoine.

"Eles se envolvem em encontros intergrupais que são violentos, perigosos e estressantes. Esses encontros podem ser trocas vocais à distância, contatos visuais ou contatos físicos com brigas, mordidas e perseguições. Os assassinatos são comuns, e as vítimas podem ser de todas as faixas etárias", acrescentou Lemoine.

Escalar colinas não necessariamente melhora a identificação visual de membros de uma comunidade rival, porém oferece melhores condições acústicas para detectar adversários pelo som.

"Os topos das colinas são cobertos de vegetação e não oferecem bons pontos de observação", disse Lemoine.

Quanto estão no topo da colina da fronteira os chimpanzés geralmente evitam fazer barulho ao comer ou procurar alimentos. Eles buscam descansar e ouvir.

Eles eram mais propensos a avançar em território perigoso após descer uma colina se os chimpanzés rivais estivessem mais longe. Essas incursões ocorriam aproximadamente 40% das vezes quando os rivais estavam a cerca de 500 metros de distância, 50% quando os rivais estavam a cerca de 1 km e 60% quando os rivais estavam a cerca 3 km.

Chimpanzés e os bonobos são as espécies geneticamente mais próximas dos humanos, compartilhando cerca de 98,8% do nosso DNA. De acordo com pesquisas publicadas em junho, as linhagens evolutivas humanas e de chimpanzés se separaram há cerca de 6,9 milhões a 9 milhões de anos.

Estudar o comportamento dos chimpanzés pode oferecer pistas sobre nossa própria espécie.

"Podemos entender melhor de onde viemos e o que nos torna humanos. Podemos compreender melhor quais tipos de comportamentos e adaptações estavam presentes no último ancestral comum entre humanos e chimpanzés, e ter uma ideia melhor da sociabilidade e comportamento das espécies de hominídeos antigos", disse Lemoine, referindo-se a espécies extintas na linhagem humana.

"Também nos ensina o que temos em comum com nossos parentes vivos mais próximos, quão semelhantes somos aos animais selvagens e que apenas diferimos de nossos primos em grau, não em natureza", acrescentou Lemoine.

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