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Colômbia usa viagens de Gustavo Petro para repatriar patrimônio arqueológico

Em pouco mais de 1 ano, ao menos 560 peças foram levadas de volta ao país no avião presidencial

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Valentín Dìaz
Bogotá (Colômbia) | AFP

Com luvas de látex e um jaleco branco, a restauradora Carla Medina tem em suas mãos parte da história da Colômbia. Um crescente número de peças pré-colombianas é retomado do exterior de forma pouco comum: são levadas pelo próprio presidente Gustavo Petro.

"É uma grande responsabilidade e um grande privilégio", contou ela em seu laboratório no Instituto Colombiano de Antropologia e História (ICANH, na sigla em espanhol).

Medina, 41, analisa um recipiente de barro que retornou da Itália e que precisou ser reconstruído a partir de fragmentos. Ela se sente grata por "ter a oportunidade de acessar um objeto que tem tantos anos de história".

Pelo menos 560 peças pré-colombianas foram devolvidas por outros países a bordo do avião presidencial de Petro, em algumas das mais de 30 viagens ao exterior que realizou em pouco mais de um ano de mandato.

A restauradora Carla Medina, 41, posa para uma foto enquanto trabalha em uma peça pré-colombiana repatriada pelo governo da Colômbia no laboratório do Instituto Colombiano de Antropologia e História (ICANH, na sigla em espanhol) - Juan Pablo Pino/AFP

A maioria dos itens estava nos Estados Unidos, Reino Unido, Bélgica, Espanha, Alemanha, México, entre outros países, e foram repatriados em um trabalho coordenado pelo Ministério das Relações Exteriores da Colômbia e o ICANH.

Essa recuperação está inserida em uma estratégia de "utilização eficiente dos recursos", disse a ex-vice-ministra dos Assuntos Multilaterais, Laura Gil, e avança a um ritmo acelerado face ao governo anterior, em que apenas 18 peças foram devolvidas em quatro anos.

'DESCOLONIZAÇÃO'

Para Catalina Ceballos, diretora de assuntos culturais da chancelaria colombiana, essa é uma forma de "começar a falar de descolonização sob outra perspectiva".

A maioria das peças devolvidas à Colômbia foram retiradas do país quando não havia um consenso jurídico no mundo sobre o tráfico de bens arqueológicos. Somente a partir de 1997 a legislação colombiana reconheceu o Estado como legítimo proprietário do patrimônio arqueológico nacional.

No entanto, a luta contra o tráfico ilegal dessas peças não tem sido uma prioridade em um país assolado por meio século de conflitos armados entre autoridades, guerrilhas, grupos paramilitares e facções criminosas. Enquanto o orçamento sugerido pela Presidência para o ICANH em 2024 equivale a cerca de US$ 2,3 milhões (R$ 11,5 milhões), o proposto para a área da defesa e da polícia é quase 600 vezes maior.

Juan Pablo Ospina, coordenador do grupo de antropologia do ICANH, destaca, entretanto, que no atual governo as repatriações têm sido bem-sucedidas porque o avião presidencial tem estado totalmente disponível para transportar peças "embaladas e adequadamente protegidas nessas viagens".

As devoluções recentes têm sido feitas principalmente por colecionadores particulares de forma voluntária e exigem trabalho diplomático em cada país de origem. Posteriormente, o ICANH é responsável pelo registro, catalogação, transferência, recebimento e, em alguns casos, intervenção das peças.

Como a maioria delas são cerâmicas, os processos de restauro são mais simples. "Mesmo sendo muito antigos, podem ser muito bem preservados com o tempo", diz Medina, acrescentando que os mais vulneráveis são os de natureza orgânica, como os têxteis, o papel ou a madeira.

A composição dos materiais também oferece detalhes sobre como funcionavam as primeiras sociedades da Colômbia em relação ao seu território, afirma a restauradora.

A maioria dos tesouros arqueológicos da Colômbia são peças de cerâmica de épocas e culturas distintas, algumas com 6.000 e 7.000 anos, encontradas no Caribe, que são "evidências muito antigas de cerâmica", afirma Ospina.

Em outras regiões colombianas o uso da cerâmica remonta a aproximadamente 1.000 a.C., presente sobretudo em ritos religiosos e funerários.

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