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Pesquisa polêmica gera macaco geneticamente modificado que brilha

Cientistas implantaram células-tronco marcadas com proteína verde fluorescente; estudos com primatas, devido à proximidade com humanos, são restritos

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DW

Pela primeira vez, cientistas conseguiram criar em laboratório um primata quimérico, ou seja, com grande quantidade de células-tronco de um animal implantadas em um outro embrião.

O filhote foi sacrificado dez dias após o nascimento, devido ao agravamento de sua condição respiratória e à hipotermia.

Os resultados da pesquisa foram publicados na quinta-feira (9) na revista científica Cell. De acordo com os autores, eles poderão ajudar a compreender melhor as chamadas células estaminais pluripotentes em primatas e humanos, o que poderia acarretar, no futuro, em modelos animais mais precisos para o estudo de doenças neurológicas e para outros estudos biomédicos e, em uma visão mais otimista, até no cultivo de órgãos para transplantes em humanos.

No início da imagem é possível ver dois macaquinhos, um ao lado do outro; próxima há imagens das mãos e rabos dos bichos; há ainda um close do rosto do macaquinha
Pesquisa com macaco geneticamente modificado que brilha no escuro - Reprodução/Cell

Na mitologia grega, Quimera é uma criatura híbrida. Já na biologia, o termo é usado para se referir a algo composto por células geneticamente diferentes.

Macaco brilhante

No estudo, foram usadas células-tronco embrionárias (CTE), que podem dar origem a qualquer tecido do corpo.

Os pesquisadores implantaram este tipo de célula de um animal da espécie Macaca fascicularis no embrião de um outro macaco da mesma espécie. No estágio estudado, o embrião ainda não estava muito desenvolvido e consistia em no máximo 32 células.

De acordo com os pesquisadores, alguns dos órgãos e tecidos do filhote se desenvolveram mais a partir de suas próprias células e outros, mais a partir das células implantadas. Os tipos de tecidos contendo CTE incluíam o cérebro, o coração, os rins, o fígado e o trato gastrointestinal, bem como os testículos e as células que eventualmente se transformam em espermatozoides.

No início da imagem é possível ver dois macaquinhos, um ao lado do outro; próxima há imagens das mãos e rabos dos bichos; há ainda um close do rosto do macaquinha
Pesquisa com macaco geneticamente modificado que brilha no escuro - Reprodução/Cell

As células-tronco implantadas foram marcadas com uma proteína verde fluorescente para determinar quais tecidos continham células derivadas delas —além de outros testes para confirmar sua presença.

Por essa razão, nas fotos do macaco, as pontas dos dedos e os olhos, por exemplo, brilham levemente em verde, mostrando que nessas partes do corpo há muitas células provenientes das implantadas.

Segundo os pesquisadores, as células modificadas eram responsáveis por cerca de um terço do macaco. No caso dos chamados neurônios motores —as células nervosas que controlam os músculos— esse número chegou a 90%.

Em tentativas anteriores, embora presentes, as células do doador eram escassas e não contribuíam, de fato, para a formação de tecidos. Por isso, o animal não poderia ser enquadrado como "quimérico".

Primeiro primata quimérico

O filhote de macaco não é o primeiro animal quimérico a ser criado com sucesso em laboratório. Camundongos quiméricos têm sido usados para fins de pesquisa há muito tempo. O avanço em relação a essa pesquisa é que, pela primeira vez, foi criado um primata, grupo ao qual pertencem os seres humanos.

O objetivo, segundo os autores do estudo, é pesquisar doenças vindas de alterações prejudiciais em determinados genes, identificando em que ponto do desenvolvimento o defeito genético é mais sério, a fim de desenvolver medidas terapêuticas que possam reduzir esses efeitos ou talvez até preveni-los.

Uma das vantagens do estudo com animais quiméricos é que as células adicionadas podem ser geneticamente modificadas de forma relativamente pensada —algo que não é possível em embriões sem destruí-los.

Dessa forma, modificações genéticas complexas podem ser introduzidas nesses animais para apresentar sintomas de certas doenças e, posteriormente, estudar formas de tratá-las.

Em uma visão mais utópica, os especialistas também esperam que, no futuro, seja possível cultivar em animais quiméricos órgãos para doação. Por exemplo: criar um porco em laboratório sem um órgão específico e, a partir da introdução de células-tronco humanas, criar o órgão humano a ser transplantado.

Polêmica ética

A pesquisa na China, além do filhote vivo, deu origem, também, a um feto quimérico abortado. Mas, para esse resultado, foram necessárias mais de 200 tentativas.

Por essa razão, o experimento gerou polêmica no campo da ética. Devido à semelhança entre humanos e primatas não humanos, aplicam-se regras especiais a este tipo de estudo. Por exemplo: esses experimentos só são aprovados se não houver outra forma de atingir o resultado desejado. Com algumas exceções, os experimentos com grandes símios, ou seja, chimpanzés, gorilas e orangotangos, são completamente proibidos.

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