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Cerveja, vinho ou gim: como o álcool afeta o sono

Ideia de que beber antes de dormir melhora o sono é muito difundida, mas claramente falsa

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Julia Vergin
DW

Uma coisa é inegável: o álcool pode realmente ajudá-lo a adormecer. A depender de quantas cervejas são necessárias depois do trabalho para esquecer os problemas acumulados ao longo do dia, a primeira metade da noite pode de fato ter uma sensação de relaxamento digna de um estado de coma.

Através do estômago, o álcool entra no sangue e toma necessariamente uma das duas rotas: rumo ao fígado ou rumo ao cérebro. Neste último, o álcool primeiro provoca a liberação de serotonina e dopamina, que levam a sensações de recompensa e relaxamento. O efeito calmante e indutor do sono também é sentido por meio de outras substâncias mensageiras, os neurotransmissores.

Atendente em bar prepara cerveja para ser servida em pub em Londres - Daniel Leal/AFP

Porém, após cerca de 4 a 5 horas, esse efeito acabou. A partir desse ponto, a qualidade do sono é visivelmente pior ou nem sequer conseguimos mais dormir. "Isso ocorre porque o álcool se decompõe em acetaldeído no corpo", explica o gastroenterologista Helmut Seitz, que pesquisa sobre os efeitos da substância no organismo.

O acetaldeído faz com que a adrenalina e o cortisol —o "hormônio do estresse"— sejam liberados no cérebro, explica Seitz. "Isso tudo faz com que acordemos e permaneçamos acordados."

Álcool de má qualidade torna o sono ainda pior

Seja vinho, cerveja ou gim tônica –não importa que bebida tomemos à noite—: o álcool presente nela vai perturbar o nosso sono. Mas vale ressaltar: bebidas alcoólicas de baixa qualidade podem piorar ainda mais as coisas.

"Um vinho barato pode conter substâncias adicionais, como aromatizantes, óleos fúseis e álcoois de cadeia longa", diz o pesquisador. Isso pode provocar náuseas e dores de cabeça, tornando o dia seguinte ainda mais difícil.

A dose faz o veneno

Mas até mesmo a vodca mais pura e da mais alta qualidade se converte na substância tóxica acetaldeído. A subsequente inundação de adrenalina e cortisol pode não chegar a nos acordar, mas acaba perturbando as chamadas fases REM do sono.

O grau de interferência não depende tanto da qualidade da bebida, e sim da quantidade. "Quanto maior for a dose de álcool, maior será a perturbação das fases do sono REM na segunda metade da noite", explica Henrik Oster, professor de neurobiologia na Universidade de Lübeck, na Alemanha. Via de regra, a qualidade do sono se deteriora visivelmente com taxas de 0,2 a 0,3 partes por mil no sangue, diz Oster.

O momento em que tais níveis de álcool no sangue são atingidos depende de vários fatores: sexo, altura e peso corporal, se a pessoa está de estômago cheio ou vazio ou se toma algum medicamento. Mas uma coisa é certa: não é difícil chegar a 0,2 partes por mil —apenas duas taças de vinho podem ser suficientes.

Como o sono REM afeta nossa saúde física e mental

Ao sonharmos, movemos não só os olhos, mas o corpo todo. Essas fases ativas do sono são chamadas de sono REM (abreviação de "rapid eye movement", ou movimento rápido dos olhos). Como e por que sonhamos permanece um mistério na ciência.

O que é certo, porém, é que as fases do sono REM são cruciais para a nossa saúde física e mental. Para os bebês, o sono REM representa grande parte do sono –algo fundamental para o desenvolvimento do cérebro dos pequenos. Durante essas fases, as partes do cérebro ativadas diferem das de quando estamos acordados.

"O álcool suprime as fases do sono REM", diz Oster. Pessoas cujo sono REM é regularmente interrompido têm dificuldade de concentração e sofrem de problemas de memória. De acordo com um estudo de 2020, distúrbios do sono REM também estão associados a uma maior taxa de mortalidade.

Segundo o especialista Seitz, a primeira coisa que melhora visivelmente na vida de alguém que para de beber é o sono. "Você se sente mais relaxado, mais equilibrado e capaz de lidar melhor com o dia. E você vai gostar."

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