Descrição de chapéu The New York Times

Mosquitos machos aparentemente também já se alimentaram de sangue

Insetos preservados possuem partes bucais encontradas hoje apenas em fêmeas

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Kate Golembiewski
The New York Times

Todo mosquito que já picou você era uma fêmea —para elas, sangue é o jantar perfeito. Só as fêmeas possuem partes bucais capazes de perfurar a pele. Mas insetos encontrados presos em âmbar, descritos em estudo publicado na última segunda (4) no periódico Current Biology, sugerem que um dia os machos também podem ter se alimentado de sangue.

Quando pequenos animais ou plantas ficam presos na resina pegajosa das árvores, eles podem ser preservados se a resina se solidificar e formar o âmbar. "No Líbano, eu encontrei cerca de 450 afloramentos diferentes de âmbar, o que é muito para um país pequeno", disse Dany Azar, paleontólogo do Instituto de Geologia e Paleontologia de Nanjing (China) e da Universidade Libanesa e um dos autores do artigo.

O âmbar libanês é rico em fósseis preservados, chamados inclusões, e data de cerca de 125 milhões de anos, no início do Cretáceo. Além de ser a Era dos Dinossauros, também foi um momento em que as plantas com flores estavam se tornando mais comuns.

imagem mostra parte de um mosquito, sobre um fundo alaranjado
Cabeça de mosquito encontrado em âmbar no Líbano - Dany Aza/via Reuters

Azar diz que estuda as inclusões para entender como as plantas com flores e os insetos polinizadores evoluíram juntos.

O paleontólogo coletou as amostras de âmbar utilizadas no estudo cerca de 15 anos atrás no Líbano central, mas achou que pertenciam a um grupo de insetos no qual não estava concentrado, então Azar não as priorizou para estudo. Mas, enquanto polia uma das amostras para obter uma fatia fina que pudesse ser examinada sob um microscópio, ele ficou surpreso.

"Para minha grande surpresa, eu disse: 'Oh, meu Deus, isso é um mosquito'", disse Azar.

Seu coautor e ex-orientador de doutorado, André Nel, do Museu Nacional de História Natural de Paris, confirmou que dois espécimes pareciam ser os fósseis mais antigos conhecidos da família de mosquitos, com partes da boca afiadas e alongadas cobertas de pequenas cerdas semelhantes a dentes. Uma análise mais detalhada dos insetos revelou outra surpresa.

"Eu disse, 'André, eu não bebi nada, mas estou vendo algo bizarro aqui, esses são machos'", lembra Azar.

Os insetos tinham órgãos em forma de pinça chamados claspers em seus abdomes, que são usados para segurar as fêmeas durante o acasalamento. A presença desses claspers significava que Azar e Nel haviam encontrado algo que parecia impossível: mosquitos machos com partes da boca feitas para sugar sangue.

Os mosquitos machos modernos se alimentam de néctar e sucos de plantas —na maioria das vezes, as fêmeas também, elas só bebem sangue quando precisam de proteína extra para produzir seus ovos. Há muito tempo, os cientistas acreditavam que mosquitos e suas parentes moscas picadoras evoluíram a partir de ancestrais que se alimentavam de plantas e que as fêmeas evoluíram posteriormente para ter a capacidade de beber sangue.

O lado bom disso é que, se aqueles que não são conservadores se mostrarem errados, aqueles que são conservadores corrigirão o erro mais tarde. E teremos que esperar para ver

Dale Greenwalt

paleobiólogo do Museu Nacional de História Natural, em Washington

"Agora achamos que, originalmente, o mosquito poderia ser hematófago", disse Azar. "Com o surgimento das plantas com flores, essa função poderia ter sido esquecida posteriormente durante a evolução desses insetos."

A ideia de que esses antigos mosquitos machos se alimentavam de sangue era "interessante, fascinante e controversa", disse Dale Greenwalt, paleobiólogo do Museu Nacional de História Natural, em Washington.

Afinal, se alimentar de sangue é uma estratégia mais arriscada do que sorver néctar, pois traz consigo a ameaça de ser esmagado —uma das razões pelas quais as fêmeas modernas de mosquitos só se alimentam de sangue quando precisam para a reprodução. Também é possível que os insetos do estudo não sejam exatamente mosquitos ou que, talvez, suas partes bucais cerdosas, embora diferentes das dos machos modernos, não fossem usadas para beber sangue.

Greenwalt disse que, com sua hipótese, Azar e Nel "se aventuraram em um terreno muito delicado", mas que a audaciosa tese deles pode impulsionar a pesquisa científica.

"Alguns cientistas são muito conservadores, outros não são", disse Greenwalt. "O lado bom disso é que, se aqueles que não são conservadores se mostrarem errados, aqueles que são conservadores corrigirão o erro mais tarde. E teremos que esperar para ver."

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