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Complexo namoro entre plantas ajudou milho a virar cereal altamente versátil

Análise de DNA indica que ele descende de mistura genética de dois tipos de gramíneas mexicanas

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São Carlos (SP)

Um complexo namoro entre plantas domesticadas e selvagens ajudou a transformar o milho no cereal altamente versátil e produtivo que ganhou o mundo nos últimos 500 anos, depois de se espalhar pelo continente americano milênios antes.

A conclusão vem de uma análise de DNA segundo a qual a planta que conhecemos hoje descende da mistura genética de dois tipos bem diferentes de gramíneas selvagens mexicanas. A hibridização entre os vegetais parece ter conferido ao milho (ou Zea mays mays, para usar a designação científica da planta) a capacidade de se adaptar a uma variedade mais ampla de condições climáticas e espigas mais generosas.

A história da domesticação do milho tem causado dores de cabeça a botânicos e arqueólogos porque, entre outras coisas, existe um abismo entre o cereal que bilhões de pessoas consomem hoje e seus parentes selvagens. Enquanto o trigo e o arroz não domesticados não diferem tanto de seus primos da fazenda, a parentela não cultivada do milho é composta pelos esquisitíssimos teosintos, gramíneas cuja "espiga" não passa de uma fieira única e fina de sementes, uma empilhada na outra.

Milhos espalhados pelo chão em vila na China
Milhos espalhados pelo chão em vila na China - AFP

Entre os teosintos conhecidos hoje, acreditava-se que a subespécie Zea mays parviglumis, nativa das terras baixas do sudoeste do atual México, fosse a única ancestral do milho. O processo de domesticação, com variedades selecionadas de modo a suprirem cada vez mais as necessidades dos primeiros agricultores humanos, teria começado por volta de 10 mil anos atrás e, alguns milhares de anos depois, o plantio de milho já tinha se espalhado pela América Central e pelo norte da América do Sul, chegando tanto aos Andes quanto à Amazônia.

Apesar da importância do teosinto do tipo parviglumis, no entanto, dados genéticos também passaram a apontar que o milho domesticado de alguns locais, como as regiões montanhosas do México, carregava também DNA de outro tipo de teosinto, o Z. mays mexicana.

No novo estudo, uma equipe internacional liderada por Ning Yang e Jianbing Yan, da Universidade Agrícola Huazhong, na China, e Jeffrey Ross-Ibarra, da Universidade da Califórnia em Davis, mapeou em detalhes a contribuição genética do teosinto mexicana –e verificou que ela é muito mais antiga e generalizada do que se imaginava.

Em suma, a equipe identificou a presença de genes típicos do teosinto de regiões montanhosas em centenas de variedades tradicionais de milho do México, no vegetal cultivado no sudoeste dos EUA, nos Andes e em dezenas de variedades tradicionais chinesas. Nesse último caso, são plantas cultivadas na China há séculos, mas que descendem, em última instância, das que vieram das Américas durante a Era dos Descobrimentos (a partir do século 16, o comércio marítimo começou a ligar até o império chinês ao México).

O mais curioso, porém, é que é possível estimar que essa mistura não estava presente desde sempre no milho. Algumas das amostras da planta mais antigas, como um exemplar de milho dos Andes com cerca de 5.500 anos, não trazem o DNA do teosinto mexicana. Para a equipe, a hibridização começou a se dar por volta de 6.000 anos atrás, data em que a planta passa a ser cultivada nas regiões montanhosas mexicanas.

Com uma contribuição calculada entre 25% e 15% do DNA de muitas das variedades de milho, o teosinto mexicana pode ter contribuído, por exemplo, para a adaptação do milho a climas em que a duração do dia pode ser muito longa durante o verão (como em boa parte da América do Norte), o que interfere no período de crescimento da planta.

Também há indícios de que genes oriundos da planta podem ter facilitado o aparecimento de espigas com mais fileiras de grãos, entre outras características.

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