Descrição de chapéu The New York Times

Genes que aumentam a fertilidade também encurtam a vida, segundo estudo

Pesquisa com DNA de meio milhão de voluntários apoia antiga teoria evolutiva sobre por que nossos corpos se desgastam

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Carl Zimmer
The New York Times

Por que envelhecemos e morremos?

No século 19, August Weismann argumentou que a mecanismo da vida inevitavelmente se desgastava com o tempo. A morte evoluiu "por necessidade da espécie", declarou o biólogo alemão. Ela eliminava indivíduos fracos e idosos para que não competissem com os jovens.

Essa explicação nunca fez sentido para George Williams, biólogo evolucionista americano. A seleção natural atua apenas nos genes que são transmitidos de uma geração para a outra. O que acontece no final da vida de um animal não pode ter efeito sobre o curso da evolução.

Ocorreu a Williams que envelhecer pode ser, em vez disso, um inevitável efeito colateral da seleção natural. Em 1957, ele propôs uma nova teoria: mutações genéticas que aumentassem a fertilidade de um animal também poderiam causar danos tardios na vida. Ao longo de muitas gerações, essas mutações criariam um fardo que no fim levaria à morte.

Casal de idosos caminha em Teltow, na Alemanha - John Macdougall/AFP

Um novo estudo, publicado na última sexta-feira (7) na revista Science Advances, reforça a teoria de Williams. Os pesquisadores encontraram centenas de mutações que poderiam aumentar a fertilidade de uma pessoa jovem e que, mais tarde, estavam associadas a danos ao corpo.

Estudos menores já haviam dado algum suporte para a teoria de Williams. Em 2007, por exemplo, uma equipe de pesquisadores estudando um verme minúsculo encontrou um par de mutações que prolongaram a vida da criatura mas também reduziram o número médio de descendentes.

No entanto, o biólogo evolucionista Jianzhi Zhang, da Universidade de Michigan, não ficou satisfeito com esses experimentos. "São estudos de caso", disse ele. "Não sabemos se em todo o genoma existem muitas mutações desse tipo."

Ele acessou o UK Biobank, que abriga o material genético de meio milhão de voluntários na Grã-Bretanha, além de informações sobre a saúde e experiências de vida dessas pessoas. O banco de dados permitiu que os cientistas descobrissem ligações sutis entre variações genéticas e milhares de características, como pressão alta, esquizofrenia e o hábito de fumar.

Zhang e o pesquisador médico Erping Long, da Academia Chinesa de Ciências, examinaram o banco de dados em busca de informações sobre reprodução e longevidade. Eles descobriram que as variações genéticas relacionadas à fertilidade, como o número de filhos de um voluntário, também estavam relacionadas a uma vida mais curta.

Além disso, as variações genéticas que afetaram a reprodução tinham quase cinco vezes mais chances de influenciar a longevidade do que as que não tinham nada a ver com a reprodução. E as variações genéticas boas para a reprodução tinham muito mais chances de serem prejudiciais para uma vida longa.

Os pesquisadores também descobriram que os voluntários com um grande número de variações genéticas que promovem a reprodução apresentavam uma probabilidade ligeiramente menor de sobreviver até os 76 anos.

Considerando todos esses resultados, sugere-se que George Williams estava correto e que o envelhecimento é essencialmente um efeito colateral do impacto da seleção natural na fertilidade. "Todos eles apontam na mesma direção", disse Zhang.

Ele e Long também encontraram evidências que sugerem que essa evolução não parou em algum momento do nosso passado distante. Os voluntários que nasceram em 1965 carregavam um maior número de variantes que impulsionam a reprodução do que as pessoas nascidas em 1940.

A ideia de que variantes de fertilidade encurtam a expectativa de vida pode parecer paradoxal, uma vez que as pessoas estão vivendo mais. Na Grã-Bretanha, por exemplo, a expectativa de vida média é de cerca de 80 anos, em comparação com 59 anos há um século.

Zhang observou que as mutações que ele e Long identificaram têm uma influência mínima na longevidade de uma pessoa. À medida que as variantes se tornaram mais comuns, o ambiente mudou drasticamente, com alimentos melhores e medicamentos que reduzem a mortalidade infantil e ajudam mais pessoas a alcançar idades mais avançadas.

Steven Austad, especialista em envelhecimento da Universidade do Alabama em Birmingham, que não participou do estudo, afirmou que detectar o efeito dessas variantes, mesmo com o aumento da expectativa de vida, torna os resultados ainda mais impressionantes. "O padrão é tão forte que se mantém mesmo diante dessas grandes mudanças em nossas histórias de vida nos tempos modernos", afirmou.

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