Descrição de chapéu Estados Unidos

Falha com propulsão ameaça missão privada dos EUA à Lua

Lançamento do foguete Vulcan foi bem-sucedido, mas problema em nave deve impedir alunissagem

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São Paulo

Na madrugada desta segunda-feira (8), o foguete Vulcan fez sua estreia com sucesso, lançando o Peregrine, da empresa Astrobotic, na direção da Lua. Infelizmente, as coisas se complicaram depois que o módulo de pouso se separou do segundo estágio do lançador e iniciou seu voo autônomo na rota translunar.

A ULA (United Launch Alliance, joint-venture das empresas Boeing e Lockheed Martin) celebrou o primeiro voo de certificação de seu novo lançador. "Numa olhada rápida foi tudo bem. Lançou na abertura da janela. Missão perfeitamente nominal. No alvo na inserção orbital. Por um minuto eu achei que eu estava em uma missão do Atlas…", brincou Tory Bruno, CEO da companhia, referindo-se ao predecessor imediato do Vulcan, o Atlas 5.

Rastro de fumaça deixando enquanto foguete sobe
O foguete Vulcan Center, da ULA, deixa basa em Cabo Canaveral, na Flórida (EUA) - Chandan Khanna/AFP

Com o sucesso do foguete, falta apenas mais um voo de certificação para que a ULA possa começar a cumprir as missões já contratadas pelo Departamento de Defesa dos EUA, colocando-a em concorrência direta com a SpaceX, de Elon Musk, única empresa no momento qualificada para lançar cargas úteis militares americanas.

A alegria, contudo, não foi a mesma para os responsáveis pela missão lunar embarcada no foguete. A crise para a Astrobotic começou depois que os sistemas de propulsão da sonda foram ativados, e, por algum motivo, a espaçonave não conseguiu apontar de forma estável seus painéis fotovoltaicos na direção do Sol.

As baterias rapidamente perdiam sua carga, aumentando a urgência para o controle da missão, mas ao menos foi possível estabelecer comunicação entre a sonda e os controladores na sede da Astrobotic, em Pittsburgh, o que permitiu aos engenheiros aprontarem uma manobra de improviso para realizar o apontamento.

Após um período de blecaute de comunicações programado, os controladores constataram que a manobra fora bem-sucedida e as baterias estavam recarregando. Mas às 15h03 desta segunda (pelo horário de Brasília) a empresa comunicou que a falha detectada no sistema de propulsão estava causando um vazamento crítico de combustível.

Com isso, enquanto trabalha para tentar conter a perda de propelente, a companhia praticamente deu adeus à perspectiva de realizar o primeiro pouso de uma espaçonave privada na superfície da Lua. "Dada a situação, priorizamos maximizar a ciência e os dados que podemos capturar. Estamos atualmente investigando que perfis alternativos de missão podem ser viáveis neste momento."

A espaçonave segue na direção da Lua, conforme trajetória estabelecida pelo lançamento do Vulcan, e os engenheiros tentarão controlar o rumo o suficiente para pelo menos se estabelecer em órbita lunar –nem isso é garantido no momento.

A missão transportava 21 cargas úteis de sete países, vindas de agências espaciais, empresas e universidades, mas sua maior cliente era a Nasa, que embarcou seis instrumentos científicos no Peregrine –sabendo de antemão que estava fazendo uma aposta arriscada ao estabelecer parcerias comerciais para o envio de carga à Lua.

OS 'PASSAGEIROS' DO PEREGRINE

Confira a lista de 21 cargas úteis embarcadas no módulo de pouso da Astrobotic

  • NIRVSS (Nasa, Centro Ames de Pesquisa)

    Espectrômetro para medir hidrogênio, dióxido de carbono e metano no solo, além de mapear a temperatura

  • NSS (Nasa, Centro Ames de Pesquisa)

    Espectrômetro que buscará evidências de gelo de água na superfície e estudará a composição do solo

  • PITMS (Nasa, Centro Goddard de Voo Espacial, e ESA)

    Estudará a exosfera (a tênue atmosfera) lunar, investigando movimento de compostos voláteis durante o dia

  • LETS (Nasa, Centro Espacial Johnson)

    Sensor de radiação para medir as condições na superfície lunar, com vistas a futuras missões tripuladas

  • LRA (Nasa, Centro Goddard de Voo Espacial)

    Coleção de retrorrefletores de laser para permitir a medição precisa da distância até a superfície da Lua por espaçonaves

  • NDL (Nasa, Centro Langley de Pesquisa)

    Sistema de laser para medir a velocidade e posição exatas do módulo Peregrine durante a aproximação para pouso na Lua

  • Colmena (Agência Espacial Mexicana)

    Conjunto de cinco minirrobôs de 60 gramas para estudar o solo lunar; primeiro equipamento latino-americano na Lua

  • Lunar Bitcoin (BitMEX, Seychelles)

    Uma moeda física destinada à Lua, carregada com um Bitcoin

  • Bitcoin Magazine Genesis Plate (BTC Inc., EUA)

    Placa que inclui o primeiro bloco de bitcoin a ser minado, com objetivo aspiracional

  • Terrain Relative Navigation (Astrobotic, EUA)

    Sensor desenvolvido pela empresa para permitir pousos de alta precisão na Lua, com incerteza inferior a cem metros

  • Lunar Dream Capsule (Astroscale, Japão)

    Uma cápsula do tempo enviada à Lua, contendo mensagens de mais de 80 mil crianças do mundo todo

  • Iris Lunar Rover (Universidade Carnegie Mellon)

    Um pequeno rover para testes tecnológicos embarcado na primeira missão lunar da Astrobotic

  • MoonArk (Universidade Carnegie Mellon)

    Uma 'arca' que abrange artes, humanidades, ciência e tecnologia, com objetos destinados a inspirar futuras gerações

  • Memorial Spaceflight Services (Elysium Space)

    Cápsula portando amostras de cinzas humanas a ser deixada na superfície da Lua

  • Memorial Spaceflight (Celestis)

    Amostras de cinzas humanas a serem depositadas na Lua, além de uma carga a permanecer em órbita do Sol

  • M-42 (DLR, agência espacial alemã)

    Detector de radiação para investigar impactos sobre a saúde humana em caso de visitas tripuladas à Lua

  • DHL MoonBox (DHL, Alemanha)

    Empresa de transportes levou objetos de valor pessoal (fotos, livros, trabalhos de escola) para serem deixados na Lua

  • Digital Art Gallery (Lunar Mission One, EUA)

    Dispositivo digital de armazenamento a ser depositado na Lua

  • Memory of Mankind on the Moon (Puli Space Technologies, Hungria)

    Placa em memória da humanidade na Lua, com imagens de arquivo e textos líveis com uma ampliação de dez vezes

  • Spacebit Plaque (Spacebit, Reino Unido)

    Placa celebratória de empresa de tecnologia britânica concentrada em novas oportunidades na exploração comercial da Lua

  • The Arch Libraries (The Arch Mission Foundation, EUA)

    Dispositivos com arquivos a serem preservados por longos períodos de tempo no ambiente espacial

"Cada sucesso ou retrocesso é oportunidade para aprender e crescer. Nós vamos usar essa lição para propelir nossos esforços para avançar a ciência, a exploração e o desenvolvimento comercial da Lua", disse Joe Kearns, vice-administrador associado de exploração do diretório de ciência da Nasa.

Ainda que se possa salvar algo da missão, foi a falha crítica mais prematura a acometer um projeto privado de pouso lunar. Nas duas tentativas anteriores, realizadas pelo grupo israelense SpaceIL e pela empresa japonesa ispace, os veículos atingiram a órbita lunar e chegaram bem perto da superfície antes que um problema impedisse a descida suave ao solo. Desta vez, a coisa se complicou praticamente na largada.

O fracasso não reduz as expectativas sobre a exploração lunar nos próximos meses. No dia 19 deste mês, a Jaxa (agência espacial japonesa) pretende pousar sua sonda Slim, e em meados de fevereiro um novo voo privado americano deve ocorrer, com o módulo de pouso Nova-C da empresa Intuitive Machines, de Houston, a bordo de um foguete Falcon 9, da SpaceX.

A Astrobotic pretendia fazer seu segundo voo lunar ainda em 2024, com um módulo maior que o Peregrine, o Griffin, mas não está claro se os planos se rão mantidos após os problemas enfrentados na primeira missão. E a japonesa ispace também pretende tentar de novo neste ano, após o fracasso de 2023.

Os chineses também planejam para maio de 2024 a missão Chang'e-6, que pretende fazer pela primeira vez um retorno de amostras do lado afastado da Lua. Apesar do aperto precoce da Astrobotic, não será por falta de tentativas de pouso lunar que ficaremos entediados neste ano.

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