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Astrônomos observam cicatriz em estrela anã branca 'canibal'

Visão do fim de uma estrela pode ser exemplo do futuro do Sistema Solar

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Will Dunham
Washington | Reuters

Uma brasa estelar esfriando lentamente chamada de anã branca, com uma cicatriz em seu rosto, está fornecendo novas informações sobre o comportamento de certas estrelas "canibais" no final do seu ciclo de vida.

Usando o Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul sediado no Chile, pesquisadores estudaram uma anã branca localizada a cerca de 63 anos-luz da Terra —um ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano, 9,5 trilhões de quilômetros. Como todas as anãs brancas, ela é incrivelmente densa, reunindo cerca de 70% da massa do Sol em um objeto do tamanho da Terra.

Estrelas com até oito vezes a massa do nosso Sol parecem destinadas a se transformar em anãs brancas. Elas eventualmente acabam queimando todo o hidrogênio que usam como combustível. A gravidade, então, faz com que entrem em colapso e explodam suas camadas externas em um estágio de "gigante vermelha", deixando um núcleo compacto —a anã branca.

Impressão artística mostra a anã branca WD 0816-310 - European Southern Observatory/L. Calcada/Divulgação via Reuters

Astrônomos descobriram que anãs brancas ingerem fragmentos de planetas, luas e asteroides. No novo estudo, os pesquisadores detectaram pela primeira vez um sinal revelador desse processo: uma cicatriz na superfície da anã branca composta de elementos metálicos de um fragmento planetário ou asteroide que ela engoliu —acreção, em termos científicos— após ter sido afunilada pelo campo magnético da estrela.

Os pesquisadores ficaram surpresos com a descoberta porque suspeitavam que os detritos se misturariam com o resto do material na superfície da anã branca.

"Não pensávamos que o campo magnético pudesse impedir que o material se misturasse na superfície da estrela. Quando você coloca açúcar em um copo de água, toda a água fica doce", disse o astrônomo Stefano Bagnulo, do Observatório e Planetário Armagh, na Irlanda do Norte, principal autor do estudo publicado nesta segunda-feira (26) no Astrophysical Journal Letters.

Essa anã branca começou sua vida como estrela com cerca de duas vezes a massa do Sol e teve uma vida útil de talvez 1,2 bilhão de anos antes de começar seus espasmos mortais.

Muitas anãs brancas têm um disco de detritos em sua órbita —os restos de um sistema planetário. Esse material gradualmente cai na superfície da estrela.

"Dizemos que a atmosfera dessas estrelas é poluída por elementos metálicos", disse Bagnulo.

Cerca de 20% das anãs brancas possuem um forte campo magnético. Algumas anãs brancas, como esta, têm as duas características —uma atmosfera poluída por elementos metálicos e são permeadas por um campo magnético.

"A descoberta chave é que vimos esse campo magnético ter um papel central na maneira como o disco de detritos cai na superfície da estrela. O material não é apenas canalizado pelo campo magnético, mas também fica preso nos polos magnéticos, sem se misturar na superfície da estrela", afirmou Bagnulo.

Essa visão sombria do fim de uma estrela pode ser mais do que meramente acadêmica para nós terráqueos. Pode ser uma visão do futuro do nosso próprio Sistema Solar —embora a muitos e muitos anos de distância. O Sol tem cerca de 4,5 bilhões de anos.

"Nosso Sol se tornará uma anã branca em cinco bilhões de anos", disse o coautor do estudo e astrônomo do University College de Londres, Jay Farihi, "e provavelmente será poluído pelo nosso sistema planetário".

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